sábado, maio 24, 2008
Linha do Tua
Recordo com (muitíssima) saudade caminhar apressado pelos cais da Estação de Campanhã em busca do comboio das 18h10m para Bragança. Chegado à estação de Foz-Tua, depois de desfrutar a linha do Douro, engolia duas sandes de queijo empurradas por um fino e subia para o comboio de linha estreita ao som do apito e dos berros do chefe de estação: "Quem vai para o Tua tem de mudar porque qu'a gare é do outro lado". De imediato aninhava-me num banco de napa e embalado pelos carris desalinhados dormia até Bragança, abrindo um olho para entregar o bilhete ao revisor e outro em resposta a um cumprimento conhecido. Chegava à estação de Bragança pelas 2h00 da manhã. Descia estremunhado para o cais. Abafado numa samarra de feira de forro de pele de ovelha e gola de raposa, sob um vento cortante de 2 negativos, atravessava as ruas mal iluminadas da cidade até ao meu quartito no bairro do Fundo de Fomento.
Ainda estudante de liceu, no início da década de oitenta, atravessei várias vezes as pontes de ferro do Romeu e do Remisquedo dependurado na parte de fora das carruagens e competi, a correr, com o comboio em andamento. É verdade. O vale do Rio Tua, de Inverno ou de Verão, é esplêndido e o comboio a única forma de o usufruir. No entanto, por muito que nos custe admitir, a linha do Tua é uma versão séc. XIX dos estádios do Euro ou do futuro aeroporto de Alcochete. O acesso natural de comboio ao NE de Trás-os-Montes atravessa, necessariamente, o vale da Vilariça (apenas 50 km de um terreno plano, interrompido pela portela de Bornes, separam o Pocinho de Macedo de Cavaleiros). Ganhou o Tua porque o Vale da Vilariça daria primazia a Macedo em detrimento de Mirandela e de Bragança, as duas urbes mais importantes do distrito.
Não vale a pena carpir a perda da linha do Tua. O vale do Tua é demasiado inóspito e demasiado abrupto para acomodar uma linha de comboio eficiente. A restauração, em curso, do coberto florestal primitivo está a agravar a instabilidade geológica do vale. O peso das árvores e do solo embebido em água nos terraços abandonados
aumentou acentuadamente o risco de deslizamento de terras durante os períodos de chuva. Por outro lado, é impossível alargar a via e, provavelmente, electrificá-la e deste modo encurtar os tempos de viagem.
Estou convencido que as autarquias transmontanas que agora se lembram do comboio apenas querem ganhar vantagens na negociação das prebendas que um dia a EDP distribuirá com a construção da barragem de Foz Tua. Mais uma vez os transmontanos ficarão a perder com os egoísmos regionais que marcam a história contemporânea da região. As autarquias nordestinas deveriam, sim, reclamar ao poder central um novo acesso de comboio, desta vez electrificado e de bitola normal (pela Vilariça). Em contrapartida recebemos autoestradas sem servidão, como a inútil A7 de Vila do Conde a Vila Pouca de Aguiar. Por fim, talvez de repente, regressaremos à nossa condição de portugueses para lá dos montes. Os automóveis ficarão no quintal a servir de galinheiro e atravessar o Marão de bicicleta ... só para atletas!
Carlos Aguiar
11 comentários:
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É claro aqui que o autor não sabe o que está a dizer. A linha do Tua existiu durante 100 anos sem qualquer problema. Só começou a haver desmoronamentos quando a EDP começou a rebentar explosivos por causa das amostras geológicas.
ResponderEliminarA A7 inítil? É claro que o autor não faz deslocações rodoviárias para o minho?
Linha de comboio na vilariça? De onde para onde?
A região está condenada ao subdesenvolvimento crónico por causa destes "iluminados" que não sabem que a base de qualquer desenvolvimento é o aproveitamento dos recursos endógenos (linha do tua e paisagem incluidos) e não a sua destruição.
Extraordinária a figura de medíocre que se passa quando se falam alarvidades sobre matérias sem conhecimento de causa... Primeiro que tudo, não consta em nenhuma crónica ou mapa ferroviário (e já os vi oficiais e bastante fantasiosos) alguma ligação ferroviária que se metesse a galgar a Serra de Bornes pela Vilariça. Pura ficção.
ResponderEliminarSegundo: claramente não conhece as vias-férreas suiças, onde com as mesmas características do Tua existem vias estreitas electrificadas e com traçados corrigidos para atingir velocidades que fazem os 45km/h do Tua corar de vergonha. Conhece assim tão bem o vale do Tua? Quer-me dizer que no mínimo acima da Brunheda não há margem para uma correcção da via? Pois, como refere, fazia a viagem a dormir... Estranho é que com menos condições as automotoras circulem a 60km/h entre Mirandela e Carvalhais, e nas rectas do Cachão a Mirandela se vá a uns estonteantes 45km/h, com restrições de 10km/h em acessos privados para casas de gentes com compadrios.
Curioso que desde 1994 quando me tornei utente da Linha do Tua, só depois das prospecções ilegais da EDP é que tem havido deslizamentos de terras desta grandeza no Tua. Não que seja condição inequívoca, mas também permite somar 2 + 2...
Chamar de inútil à A7 tem um efeito perverso; permitir ligar Trás-os-Montes ao Minho sem ter de se ir dar a volta ao Porto, com o tormentoso IP4 entre Vila Real e Amarante, é tudo menos "inútil".
Mas nem tudo é mal no seu discurso; as assimetrias regionais são sobretudo e primeiramente alimentadas por autarcas desconectados de um espírito de região; alguém lhes lembre que o slogan "orgulhosamente sós" não deu lá grande resultado. Nem tão pouco o vender a alma por falsas promessas (e que gastas elas já são!); e pior que vender a alma, é vender uma terra que pela tacanhez e falta de visão, deixou de vos pertencer para fazer dela o que vos aprouver.
Antes de arremessar palavras convém ler com atenção o que foi escrito e entender as premissas e escalas temporais dos raciocínios.
ResponderEliminarRespondo por pontos aos meus contendores:
1. É factual que a hipótese Vilariça foi discutida no parlamento monárquico; numa reunião recente em Mirandela o Engº Menéres Manso evocou estas discussões.
2. Não existem soluções tecnológicas, economicamente aceitáveis, que permitam um “upgrade” da linha do Tua de modo a satisfazer as necessidades da região. Relembro que a discussão se centra do troço Foz-Tua-Mirandela, portanto é demagógico falar do troço Mirandela-Carvalhais. 3/5 do percurso, concretamente entre Foz-Tua e Vilarinho das Azenhas estende-se por encostas muito declivosas e instáveis. Acelerar os tempos de percurso ente Vilarinho e Mirandela, portanto em 2/5 do percurso, não chega para o viabilizar. Admitindo que existem soluções entre a Brunheda e Vilarinho das Azenhas ainda assim queda 2/3 do percurso, cerca de 20 km, de estrangulamento.
3. A instabilidade das encostas lê-se nos depósitos de pedimento de marginam o rio. Releiam no texto as razões porque esta instabilidade se agravou nas últimas décadas.
4. O tandem energia eólica-barragens com sistemas de bombeamento de água para montante é indispensável no processo, em curso, de substituição de energias fósseis por energias renováveis. Tanto ecologistas como desenvolvimentalistas, partindo do princípio que é importante ter um discurso coerente, não podem pedir, em simultâneo, “sol na eira e chuva no nabal”. Não tenho receio em afirmá-lo porque estive na linha da frente da defesa do rio Sabor.
5. Sendo a barragem de Foz Tua inevitável então é irresponsável exigir a manutenção da linha do Tua sem que se apresentem alternativas.
6. Num contexto de escassez energética é indispensável um acesso ferroviário electrificado a Trás-os-Montes por uma via natural (em último caso o comboio funciona com a energia produzida nas centrais nucleares francesas).
7. Quem conhece o Vale da Vilariça sabe que o declive do talvegue é suave até à Burga; a Burga está à mesma cota da planície de Macedo de Cavaleiros da qual dista menos de 5km. Aceitam-se alternativas devidamente justificadas.
8. Reafirmo: a A7 é um enorme erro estratégico (excluindo a ligação Guimarães-Terras de Basto). Tem pouco movimento, sobe a cotas inacreditáveis (1100 m de altitude) e teve um custo estupidamente alto. Querem um tema para desenvolver uma teoria da conspiração? Porque não seguiu, a A7, as margens do rio Tâmega? No referido cenário, estrutural diga-se, de aumento de preços dos combustíveis e de contracção do transporte automóvel jamais será rentabilizada (social e economicamente).
9. Não me esquecerei de apontar um dedo acusador quando, como referi no texto, retornarmos por imprevidência e incompetência dos decisores à nossa condição de habitantes para lá dos montes. Entretanto, enquanto podem, usufruam da A7 e das outras auto-estradas que aí vêm.
Quem conheceu a "táctica" que justificou o fim da linha do Vale do Vouga, não pode deixar de estabelecer paralelismos com o que se está a passar no Tua. Também nessa altura, a primeira linha era ocupada pelos que diziam não querer acabar com a ferrovia, mas sim modernizá-la. Foi o que se viu...
ResponderEliminarA linha do Tua, justifica-se pelas potencialidades turísticas que tem, tal como acontece em casos semelhantes na Suiça,Áustria, Itália. Só que nós, por cá, temos chamado turismo a outras coisas, com os resultados desastrosos que se conhecem. Ainda há dias Andrew Coutts, CEO & Partner da ILM/THR, especialista em turismo residencial, chamava a atenção para os erros que estão a ser cometidos e para a necessidade de apostar forte nos nossos trunfos- um deles era, precisamente, a paisagem.
Claro que o objectivo de Carlos Aguiar parece ser, antes de mais, justificar a barragem. Aí comete, em minha opinião, o erro mais comum num certo sector dos ambientalistas portugueses: esquece que as decisões técnicas estão sempre subordinadas a opções políticas. Ora, a tal inevitabilidade que diz existir na construção da barragem, só pode ser justificada por argumentos políticos de defesa da manutenção, até ao limite, dum modelo de desenvolvimento que a experiência recente mostra estar esgotado.
O autor do texto aborda várias temáticas, concordando eu com algumas e discordando de outras. E, resumindo, intui-se (sem se ter a certeza) que o autor concorda com a (aparente) inevitabilidade da construção da barragem do Tua.
ResponderEliminarVamos então por partes...
1º) Concordo, genericamente, com a questão da A7; esta, como outras auto-estradas, está longe do volume de tráfego que supostamente justificou a respectiva construção.
Penso que o interior do país, incluindo Trás-os-Montes, lucraria mais com a conclusão de alguns IC e IP, sobretudo os "itinerários transversais".
Sobretudo se estes tivessem por base critérios de construção como a "segurança na circulação" e o "baixo impacto paisagístico"; ou seja, evitando erros do passado, como os que foram feitos com o IP 5 (ao nível da segurança rodoviária) ou com a A1 (e o famoso "rasgão" na Serra de Aires e Candeeiros").
2º) Não me custa a crer que a linha do Tua nunca venha a ser rentável com o tipo de exploração comercial em curso; e que seja mesmo impossível modernizá-la.
No entanto, não "misturemos" as coisas:
a) Em primeiro lugar, Trás-os-Montes, tal como o resto do país, necessita de uma moderna rede de comboio convencional.
Em França a rede de TGV é um sucesso, não apenas pelas dimensões do país e a dispersão de grandes centros populacionais, mas também pela complementaridade com a rede convencional.
Ora, o nosso país, ao invés de investir em novas ferrovias, continua a fechá-las; até nisto somos "originais" em relação à restante Europa ocidental!
E, nesta "necessidade" de modernizar a nossa rede de ferrovia convencional, é aceitável que se tivesse que substituir a linha do Tua por outra. Não o contesto...
b) No entanto, estes "defeitos" da linha do Tua para uma exploração comercial regular, não significam que não possam funcionar até como uma "vantagem" para uma exploração turística.
O potencial turístico desta linha já foi estudado? Dirão que a REFER ou as autarquias não têm vocação para esse serviço...Concordo!
Mas cumprindo a linha os requisitos necessários de segurança, e existindo o tal estudo que provasse o seu potencial turístico, por que não entregar a sua exploração a privados?
3º) No entanto, discutir a barragem do Tua apenas em função da linha do comboio parece-me extremamente redutor...
As duas grandes questões a responder são:
a)Poderá um país que continua a não ter uma política de eficiência energética, continuar indefinidamente a construir barragens?
(Isto é, perante uma banheira que perde água por todo o lado, deveremos continuar a abrir a torneira ou deveremos antes dar prioridade a consertar as fugas?
Será que o nosso país alguma vez será auto-suficiente em termos energéticos com esta política de fazer barragens em todos os nossos cursos de água? Claro que não, nem com todos os parques eólicos, centrais de ciclo combinado, centrais a carvão, centrais solares, etc.
Isto é, ou apostamos seriamente e urgentemente na eficiência energética ou, um destes dias, não nos restará mesmo nenhuma alternativa ao nuclear!)
b) E centremo-nos, novamente, no caso específico do Tua...Será que os ganhos para o país com a construção desta barragem (e para a nossa política energética) compensam a destruição deste vale? Sublinho que estou a perguntar pelas "vantagens para o país" e não para o lóbi do betão e para os grandes accionistas da EDP.
Num país onde abundam os "fundamentalistas do betão", eu assumo-me como "fundamentalista do Tua"! Bastou-me uma única viagem...
Há valores que nenhum estudo pode quantificar...Querem-nos mesmo convencer que esta barragem é essencial e fulcral para a nossa auto-suficiência energética? Querem-nos convencer que um adequado aproveitamente turístico do vale, não geraria mais emprego e desenvolvimento para as comunidades locais, do que a construção da dita barragem?
Pois bem, façam-na! Tenho para mim que um povo que não perceba a importância da preservação deste vale, também o não merece!
P.s. - Já agora, gostaria de conhecer o estudo científico que sustenta a frase: " restauração, em curso, do coberto florestal primitivo está a agravar a instabilidade geológica do vale. O peso das árvores e do solo embebido em água nos terraços abandonados
aumentou acentuadamente o risco de deslizamento de terras durante os períodos de chuva".
Será que deveríamos suspender em todos os vales do mundo a recuperação da vegetação autóctone?? Ou terá o vale do Tua, características geológicas ou de vegetação, que o tornam único a esse nível?
Gostava de ler esse estudo...
também gostava de ver a fonte da afirmação " restauração, em curso, do coberto florestal primitivo está a agravar a instabilidade geológica do vale. O peso das árvores e do solo embebido em água nos terraços abandonados
ResponderEliminaraumentou acentuadamente o risco de deslizamento de terras durante os períodos de chuva", só por curiosidade.
Ora então por pontos:
ResponderEliminar1. Ainda estou à espera do tal estudo ou referência que justifica a afirmação citada nos anteriores comentários. É a primeira vez que ouço dizer que a vegetação natural, em vez de minimizar os problemas de erosão, os agrava. Mesmo que associada a estruturas humanas (os terraços).
2. É por causa de pessoas que defendem pontos de vista como este, que o nosso país é constantemente saqueado do seu potencial para o progresso económico. Refiro-me ao progresso inteligente e moderno e não à desdentada versão de progresso do "constrói muito e depressa". Refiro-me, com isto, à incapacidade de ver as possibilidades de exploração turística de primeira categoria deste traçado, vizinho região do Douro Vinhateiro, Património da Humanidade da UNESCO. Haverá dúvidas sobre a procura deste tipo de produto?
3. Claro! As barragens fazem falta, não podemos ser fundamentalistas. Como é mesmo o nome deste blogue? Pois parece extraordinário que se defenda a construção de MAIS uma barragem (que, a julgar por alguns comentários de responsáveis da EDP, nem fará grande diferença na produção de energia), quando não vejo uma linha nas políticas adoptadas sobre POUPANÇA. Para teoria da conspiração aqui vai: dar negócio a quem nos patrocina as campanhas eleitorais. Esta é bem mais simples, não é? Até o nosso PR veio defender o maior aproveitamento hidroeléctrico dos cursos de água nacionais. É para ficar aterrorizado com os resultados...
4. Os decisores não são só incompetentes. São profissionais do oportunismo. Não sejamos ingénuos.
5. Também ainda estou à espera, apesar de esta ser uma mensagem já do dia 24 de Maio, que o autor volte a defender os seus pontos de vista relativamente aos comentários que se vão avolumando.
Já agora, atente na afirmação do Pedro Barata no seu artigo "Mitos e falácias da energia", publicado neste blogue: "Portugal, apesar do acréscimo substancial do consumo de electricidade que se tem verificado nos últimos anos, e da ausência quase absoluta de políticas de gestão da procura de electricidade, é facilmente exportador de electricidade(...)".
ResponderEliminarIsto deveria ser suficiente para nos perguntarmos qual a premência da construção de algumas barragens, com custos patrimoniais associados mais elevados, no nosso país. Teoria da conspiração, versão simples...
O MCLT exige por meio deste comunicado, e em virtude dos acontecimentos
ResponderEliminarrecentes na História da Linha do Tua, que os responsáveis pela situação
em que esta se encontra sejam de uma vez por todas responsabilizados em
conformidade, e que se pare de culpar de forma facilitista a própria
via-férrea.
Achamos inqualificável a repetição de uma história que de nova nada
tem: em Dezembro de 1991, culminando um longo processo de embate de
vontades entre autarcas e o povo sobre a Linha do Tua, dá-se um
estranho e inédito encerramento entre Mirandela e Macedo de Cavaleiros,
deixando isolado o restante troço entre Macedo de Cavaleiros e
Bragança. Poucos dias depois, um descarrilamento ocorre à mesma
velocidade em que ocorreu o de hoje perto do Tua, na aldeia de Sortes.
Um processo trapalhão, mesquinho e obscuro começa aqui, para só acabar
com a Noite do Roubo do material circulante das estações de Macedo de
Cavaleiros e de Bragança, em 1992, a coberto da noite, de escolta
policial, e de um súbito apagão nas telecomunicações. Tudo isto quando
nos meses anteriores se investira uma soma considerável na Linha do
Tua, que apesar de tudo permanecia como uma via-férrea envelhecida e
com limitações de velocidade absolutamente ridículas.
Não podemos considerar normal, nem tão pouco coincidência, que em
vésperas de fins-de-semana prolongados, com a expectativa da visita de
centenas de turistas, alguns deles com viagens charter programadas nas
automotoras do Metro de Mirandela, a Linha do Tua venha a sofrer um
acidente e/ou novo prolongamento das condições degradantes em que se
efectuam as circulações ferroviárias e o transbordo por táxi. Queremos
deixar bem claro que a ocorrência da descoberta de parafusos afrouxados
das travessas há algum tempo é gravíssima. Tão grave quanto isso é a
situação que se arrasta por 16 meses da garantia de condições de
segurança, que segundo missiva do LNEC em que refere entidades como a
REFER e a CP, esta passe aparentemente por questões de velocidades,
numa via onde a imposição dos 45km/h em condições normais, e 30km/h com
má visibilidade rasam o anedótico em pleno século XXI.
Parece não ser demais voltar a frisar que em 120 anos de História, a
Linha do Tua registou 2 acidentes mortais, mas no espaço de ano e meio,
com o intensificar dos ataques mesquinhos de quem defende uma barragem
no Tua, conta já com 3 descarrilamentos, todos na mesma zona. Ataques
estes que utilizaram numa zona perto da dos acidentes o uso de
maquinaria pesada e explosivos.
A rapidez com que algumas entidades vêm a público garantir a
perigosidade insustentável da Linha do Tua não pode continuar a passar
incólume, mormente pelas responsabilidades que tais entidades assumem
na sua gestão.
Por estas razões, remetemos ao Governador Civil de Bragança o nosso
total repúdio, uma vez que o exercício das suas funções, que passam
pela defesa dos interesses do distrito brigantino, nada têm a ver com a
celeridade com que vem a público afirmar, sem um mínimo de informação e
ponderação, que a Linha do Tua, última via-férrea do distrito que
representa, deve fechar porque é perigosa. Propomos ao Senhor
Governador que encerre o IP4 imediatamente, pois via de comunicação
mais perigosa no distrito não há, e lembramos-lhe que quando remete ao
público alguma afirmação fá-lo em nome do Governo que representa, e não
de uma circunstancial conversa de café.
Remetemos ainda o nosso reforçado repúdio ao Ministro das Obras
Públicas, que em declarações absolutamente ridículas aponta para a
instabilidade dos terrenos na zona, e pela facilidade com que ocorreu o
acidente de hoje e ocorrem deslizamentos de terras. O acidente de hoje
não foi provocado por nenhum aluimento de terras, apresentando-se a via
com aparência de total normalidade, e para quem não conhece de certeza
a Linha e o Vale do Tua - as suas declarações atestam-no pelo carácter
de opinião infundada sobre acontecimentos que na verdade não acontecem
- o Ministro comete um grave erro de apreciação. Perguntamos se é num
terreno altamente instável e com a maior das facilidades de aluimentos
ocorrerem, que o senhor Ministro quer construir uma barragem.
Queremos fazer um forte apelo às entidades legais responsáveis em
matéria, bem como ao senhor Presidente da República: nada do que se tem
feito nos últimos meses na Linha do Tua tem sido transparente, e
questionamos até legal e ético. Se por um lado a EDP rompe e explode
terrenos ilegalmente e se desculpa com lapsos, autarcas e responsáveis
ferroviários apontam o dedo a uma linha enquanto os passageiros
desesperam pelas estradas que contornam o vale do Tua, e o Governo
esconde parcimoniosamente a íntegra dos relatórios sobre os acidentes e
estudos realizados na linha, quem é responsável pelo que vai
acontecendo aqui?
Basta deste jogo do empurra com declarações feitas a martelo. Exigimos
clareza, exigimos ética, exigimos acção; e nenhuma destas exigências
extravasa qualquer direito cívico consagrado nesta república.
Movimento Cívico pela Linha do Tua, 7 de Junho de 2008
[1]www.linhadotua.net
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarCriei recentemente mais um espaço dedicado à Linha do Tua.
ResponderEliminarChama-se A linha é Tua. Trata-se de um Blogue, com reportagem e fotografias de longos passeios, a pé, ao longo da linha.
Espero que gostem