quinta-feira, setembro 18, 2008

Os fogos de 2004

Ao contrário da minha anterior convicção os fogos de Monchique e do Caldeirão de 2004 não existiram em condições de vento Leste.
Nesse ano uma massa de ar do Norte de África estacionou sobre a Península, tendo-se mantido um constante vento NO em Portugal (episodicamente Sul no Algarve).
Esta massa de ar provocou um número significativo de dias muito quentes, embora com alguma nebulosidade (e poeira vinda das tempestades ocorridas no Saara).
Nesses dias um número anormal de fogos ocorreu em todo o País, de Norte a Sul (número muito superior ao de 2003), incêndios esses que iam sendo debelados que obrigaram a uma enorme dispersão de meios.
Os incêndios do Caldeirão (foram vários que se juntaram depois) não foram inicialmente considerados muito preocupantes, face a panorama geral do país e apenas ao segundo ou terceiro dia suplantam os outros nos espaços dos noticiários.
É pois o exemplo que temos de grandes fogos sem situações de vento Leste e que de facto têm um padrão diferente: maior dispersão geográfica, muitos fogos e alguma capacidade para a sua contenção.
henrique pereira dos santos

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. No calor da discussão perguntei por exemplos de grandes fogos ocorridos sem vento Leste.
    Este exemplo serve para clarificar que eu não digo que não há fogos sem vento Leste (há fogos todos os dias) nem que não pode haver grandes fogos sem vento Leste.
    O que digo é que há fogos sempre que há vento Leste mais de dois três dias (sobretudo no Verão mas dependendo da secura do ano isto pode ser verdade para todo o ano). E que se o episódio de vento Leste passa os quatro dias estamos mesmo perante um problema de fogos muito complicado.
    Vale a pena citar:
    However, only a very small fraction of all fires is responsible for the vast majority of the total burnt area, a fact that has led us to choose the variable burnt area instead of the number of fires to quantify wildfire activity. We have also shown that there are two main factors controlling the extent of burnt area in Portugal, namely:
    (a) a relatively long dry period with absence of precipitation in late spring and early summer (long term precipitation control) and
    (b) the occurrence of very intense dry spells during days of extreme synoptic situations (short term heat waves control).
    The very different temporal scales associated with these two phenomena should be stressed, as the first issue corresponds to a climate anomaly at the monthly or seasonal scale, whereas the second topic may be viewed as a weather anomaly with typical temporal scales shorter than a week. A simple example that can be used to clarify the different roles associated with these two temporal scales may be found in the recent
    catastrophic summer of 2003 in Portugal (approximately 450 000 ha of BA). Spring and early summer (March to June) in Portugal were characterised by mild temperatures with a significant lack of rainfall.
    Thus, from a climate perspective, conditions were favourable for a high risk of summer fire. Nevertheless, the majority of burnt area occurred during a short
    period of 15 days (between 1st and 15th of August) with extreme synoptic conditions throughout Portugal, Spain and France, being directly responsible, among other impacts, for more than 25 000additional deaths in these countries (WHO, 2004)."
    O que gostaria de deixar é que a minha valorização do vento Leste decorre do fcto de ele ser um excelente indicador destas condições sinópticas de curto prazo.
    henrique pereira dos santos

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  3. Anónimo25/9/08

    Caro Henrique,

    As suas fontes e a sua convicção continuam, como sempre, a traí-lo. Senão vejamos:

    1. Não houve “vários incêndios da serra do Caldeirão”. Houve um único incêndio, como aliás foi amplamente divulgado e consta em relatório oficial específico. Onde é que foi arranjar essa dos múltiplos incêndios?

    2. À parte este incêndio e a catástrofe do início de Agosto de 2003, que presumo o Henrique ainda esteja a estudar, apontei-lhe ainda vários outros grandes incêndios (só considero aqui os superiores a 500 ha) associados a rumos de vento que não o de Leste. O Henrique passou por eles como cão por vinha vindimada.

    Vou aqui repeti-los unicamente para demonstrar que a sua asserção triunfal “é pois O exemplo que temos de grandes fogos sem situações de vento Leste” não é correcta.

    - Incêndio de Nisa, Julho de 2007: 1265 ha - NO;
    - Incêndio de Sardoal, Agosto de 2007: 2505 ha – NO;
    - Incêndio de Ourém, Setembro de 2008: c. 600 ha – NO.

    3. Explanou o Henrique a sua tese fundamental: “O que digo é que há fogos sempre que há vento Leste mais de dois ou três dias (sobretudo no Verão mas dependendo da secura do ano isto pode ser verdade para todo o ano).”

    Contraponho eu: não ardeu no Norte e Centro litorais em Agosto de 2003, apesar de em grande medida estarem sujeitos ao mesmo tipo de tempo que o resto do território, pela simples razão de que tinha chovido (e bem) a norte do eixo Montejunto-Estrela (cerca de 10 mm nas baixas altitudes, muito mais nas maiores, a 26-27 de Julho).

    A humidade dos combustíveis de maior diâmetro era razoavelmente alta e o FWI, nas suas diversas componentes, traduziu isso de forma correcta no que respeita ao risco de incêndio. Por esse facto conseguiu prever que no NO a onda de calor de Agosto de 2003, se bem que não tão forte como no interior do país, redundaria em (quase) zero incêndios.

    É isso que conta para os grandes incêndios, não 3 ou 4 dias de vento leste ou de qualquer outra direcção igualmente perigosa. E é por isso que uma nortada forte pode provocar um incêndio de 2505 ha, como o de Sardoal do ano passado: ela apenas tem de guiar o fogo sobre massas combustíveis dessecadas por semanas de ausência de chuva, elevadas temperaturas e baixa humidade.

    B. Gomes

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  4. Caro B. Gomes,
    As minhas fontes são simples: a descrição feita na altura dos fogos de 2004 nos meios de comunicação social. Se não se importa manda-me o relatório específico ou diz-me onde o posso ler e terei todo o gosto em dar-lhe razão.
    Não é verdade que o Norte e Centro litorais em Agosto de 2003 estivessem nas mesmas condições meteorológicas do interior centro, estavam aliás nessa altura com tempo enevoado e atmosfera com elevada humidade (sem vento Leste). Por favor leia o que foi investigado sobre isso no artigo que já aqui citei. Nem sei do que está a falar nos incêndios de Agosto de 2003 onde de facto se estava perante brutal e extenso de vento Leste que continua a negar, ainda não percebi com base em quê. Diga-me por favor em que se baseia que terei todo o gosto em dar-lhe razão (as razões anteriores que apontou corroboram o que eu digo nas estações meteorológicas mais próximas e não servem estações como alvaiázere porque exactamente já estavam nas condições em que estava o litoral).
    Vale a pena esclarecer um mal-entendido: eu não estou a falar de fogos de 1000 ou 2000 hectares, não é essa a questão. A questão são os doze dias no ano em que arde 80% da área ardida anual. O que caracteriza esses 12 dias dramáticos?
    A persistência em meter no mesmo saco os dias de grandes fogos de 2000 hectares mas controláveis em menos de 24 horas e os dias em que por mais que se faça os fogos não param (como na Galiza e Minho em 2006, em que, se não me engano tinha chovido até bastante tarde) é responsável por se continuar a olhar para as condições meteorológicas de excepção que potenciam todos os outros factores.
    Repito, há já vários anos que comparo aqui neste blog os avisos da protecção civil com os meus. E o que tem acontecido é que os episódios dramáticos têm sido mais claramente identificados aqui, antes de acontecerem.
    Porque efectivamente há um indicador simples que potencia todas as outras condições e que, por razões que não entendo, se persiste em desvalorizar (felizmente cada vez menos gente).
    henrique pereira dos santos

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