quinta-feira, outubro 30, 2008

O geomalacus



Um dia destes estava eu posto em sossego e resolvi dar um grande passeio ao Domingo. Na realidade fui comprar um jornal, quatro quilómetros para lá, quatro quilómetros para cá, por uma velha linha de comboio, sem linha nem comboio.

Tinha chovido na véspera e, como há muito não via, de tempos a tempos cruzava-me com uma lesma.

Lembrei-me do livro do Pedro Vieira, especificamente do capítulo sobre as perdas de valores naturais pelo fogo e da sua inclusão do raríssimo Geomalacus que sofreria enormemente com os fogos na Estrela.

Não sei, não sabe ninguém, porque cantava o Pedro esse fado naquele tom magoado já que o Geomalacus se encontra em meios terrestres muito húmidos, sobre pedras, muros ou árvores cobertos com líquenes ou musgos, sendo o coberto arbóreo dominado por castanheiros (Castanea sativa) e carvalhos (nomeadamente Quercus robur, Q. suber e Q. lusitanica). Pode ainda ocorrer em zonas mais abertas, em pastos hidrófilos próximos de cursos de água oligotróficos, ou seja, em áreas pouco provavelmente muito afectadas pelos fogos.

Mas não é esse aspecto que me interessa hoje mas o qualificativo de raríssimo associado ao gastrópode.

É mais um bom exemplo dos enganos a que nos pode levar o uso de informação de conservação sem alguma cautela face a nossa natural tendência para a dramatização.

Não sei se as lesmas com que me fui cruzando eram o geomalacus maculosus que é protegido, penso que não porque não me lembro de as ver maculadas. Mas sei que em Portugal o que é raríssimo é investigação sobre invertebrados.

E há casos, penso que este seja um deles, que o tal qualificativo de raríssimo se aplicaria melhor a quem estuda a espécie que à espécie em si.

henrique pereira dos santos

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