B. Gomes, num comentário a um post anterior refere:
"...depois da apresentação do meu argumentário, ainda me pergunta qual o valor para a conservação de sistemas florestais que permitiriam a rápida recuperação de habitats naturais classificados pela Directiva Habitats? Sei lá, pergunte a quem fez a Directiva e, também, a quem se “esqueceu” de transpor para o nosso país habitats como o 9540, quando os nossos vizinhos espanhóis nele incluem potencialmente os pinhais bravos logo a seguir à Malcata!"
Para a discussão aprofundada da razão pela qual se considera o habitat 9540 inexistente em Portugal aconselho a leitura do Anexo às fichas dos habitates de pinhal: 2270, 2180 e 9540.
É um texto denso e muito pedagógico para desmontar o achismo nacional que preside a grande parte das discussões sobre a Rede Natura, em que toda a gente acha alguma coisa, mesmo que não tenha lido grande coisa sobre o que acha.
O que está ao meu nível é a discussão da afirmação implícita de que os pinhais das umbrias semeados ou plantados nos últimos 150 anos no país são "sistemas florestais que permitiriam a rápida recuperação de habitats classificados pela Directiva Habitats".
É que sendo verdade que estes sistemas poderiam evoluir para qualquer outra coisa mais interessante do ponto de vista da conservação o certo é que só um factor os tem feito evoluir: o fogo descontrolado decorrrente do ausência de gestão.
Infelizmente as escolas florestais do país demoraram anos a começar a preparar os seus alunos para outra coisa que não fosse a produção lenhosa.
E quando alguns desses alunos tresmalharam e começaram a pensar noutros modos possíveis de gerir matas raramente tiveram poder de decisão suficiente para pegar num pinhal com cem anos e geri-lo com o objectivo de, o mais rapidamente possível, obter um carvalhal complexo e maduro.
Não há, que eu conheça, um único exemplo no país. Seria mais inteligente, barato e socialmente útil que não fosse através do fogo que estes pinhais tivessem evoluído para coisas mais interessantes do ponto de vista de conservação?
Sim, seria mas não conseguimos fazê-lo até agora.
Portanto comparar o seu interesse para a conservação decorrente de um potencial nunca concretizado através da gestão com o interesse decorrente da situação real de evolução favorável após fogo não permite qualquer dúvida: o fogo teve um efeito real positivo de conservação.
Seria possível obter mais rapidamente uma melhor solução de conservação sem o fogo se fosse feita uma gestão com esse objectivo? Provavelmente sim.
Resta saber por que razão o "se" não passou de uma hipótese académica.
henrique pereira dos santos
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