segunda-feira, setembro 29, 2008

Se me permitem a crueza

Que razões levam o Conselho de Administração de uma empresa com actividades impactantes no território, posto perante a opção de contratar uma empresa especializada, uma instituição de investigação ou uma ONGA para um trabalho técnico em matéria de biodiversidade, a optar pela ONGA?
Conheço três:
Porque a relação qualidade/ preço é melhor;
Porque o trabalho envolve um grande número de voluntários na sua execução;
Porque sim.
Às ONGAs, que actuam neste mercado como qualquer prestador de serviços, apenas é necessário clarificar que vantagem competitiva apresentaram para ganhar cada um dos seus projectos e todos ficaremos descansados.
henrique pereira dos santos

12 comentários:

  1. Anónimo29/9/08

    Caro HPS, acima das 3 razões legítimas que aponta, eu apontaria a razão suprema, já relatada num post do Gonçao R., ou seja:

    MATAR 2 COELHOS DE UMA CAJADADA =

    . Bom Serviço (as onga têm normalmente bons quadros técnicos ou bons colaboradores académicos)
    . Preço Mais Acessível (pelo facto de concorrerem à margem do mercado convencional apresentam vantagens competitivas inquestionáveis que abaratam o preço final)
    . Maior Legitimidade Social (se o objectivo das onga é proteger o ambiente e se eles estão dispostos a trabalhar connosco é porque o nosso empreendimento tem preocupações ambientais legítimas)
    . Menor Pressão Política e Social (se as onga, que é quem me deveriam manter na linha, estão a trabalhar comigo, já ninguém me vai chatear).

    Isto só é bom para os promotores e para o poder económico, dado que a inacção de todos os outros actores fica legitimada.

    José Félix

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  2. Anónimo30/9/08

    Mais importante do que justificar friamente e racionalmente a adjudicação de serviços às ONGA é tentar perceber o que aconteceu a jusante deste processo e o que origonoi esse processo aparentemente legítimo, e aqui repito algo que já escrevi noutro post: 'denuncia-se, faz-se 30 por uma linha, e quando o poder está disposto a ceder sai um estudo ou um plano de acção ou de conservação da cartola, pronto a aplicar'. Se pode ser legítimo compreender as razões de mercado das empresas que concessionam (preço e qualidade) o mesmo já não se pode dizer de toda a envolvente sócio-política do processo. Não podemos legitimar e branquear o ilegitimável, porque ao contrário do que diz a publicidade: 'sujo mais sujo não há'.

    JFélix

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  3. Anónimo30/9/08

    '...perceber o que aconteceu a jusante deste processo...'

    Trocar o 'jusante' por 'montante'. Distracção matinal...

    JFélix

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  4. Anónimo30/9/08

    Deverão ser as mesmas razões que levaram a principal entidade responsável no domínio da conservação da natureza em Portugal - o ICN, versão B - a demitir-se do que realmente deve ser feito e a mirar o seu trabalho unica e exclusivamente por uma perspectiva - a perspectiva Eurónica.

    Quando um serviço público passa a fazer contas ao que tem de ser feito para ver o que dali não vai executar, é o mesmo que irmos ao hospital e este, sabendo que para tratar o doente, necessita de fazer uma radiografia e uma ecografia e decide pela mais barata. No caso do ICN, versão B, teria menos sorte porque este, em princípio, decidiria fazer... nada.

    Os principios subjacentes à criação dos serviços de conservação da natureza em portugal, foram completamente subvertidos.

    Hoje não se trabalha para conservar, mas apenas para "mostrar". limpam-se os caminhos onde o Sr. Ministro ou o Sr. secretário de estado têm de passar, mas não se faz nada quanto à miséria dos que ele não verá.

    Restrutura-se um serviço público, permitindo que o anterior presidente, Rosmaninho de Menezes, antes de ser "deposto" faça contratos de estudos com o ISCTE para o ICN, versão B. Estudos cuja necessidade é duvidosíssima, para nao empregar outra expressão, e que poderiam até ser feitos com pessoal da casa, que existe e é profissional.

    Restrutura-se um serviço com a intenção clara de diminuir as despesas e, assim, deixar de assumir as suas responsabilidades, ficando todos nós a perder.

    Hoje, a conservação da natureza é entendida como show-off. Queremos reproduzir o National Geographic à escala portuguesa mas não sabemos como, coitados de nós.

    Há no ICN, versão B, um clima de indignação colectiva ao nivel da maior parte dos funcionários pela forma como este instituto de nome tão nobre, está a ser gerido e pelos fundamentos que estão subjacentes à sua orientação futura.

    Por favor, se querem ser honestos, vão ao site do ICN, versão B, e alterem a missão do mesmo. escrevam como missão: "Gerar receitas e diminuir o quadro de pessoal ao mínimo possível, mesmo que isso implique não pagar o que se deve pelo trabalho produzido pelos funcionários."

    Por último, e sobre as ONGAS, sejam elas o que forem, ao menos ainda se regem por princípios válidos de Conservação da Natureza, tanto, que onde o ICN, versão B, e os seus mais altos dirigentes, chefes de divisão etc., quiseram alienar os centros de recuperação de animais selvagens, tarefa nobre mas que não gera receitas (claro, as receitas), as ONGAS decidiram pedir ao ICNB que lhes permita gerir esses mesmos centros.

    Haja uma luz ao fundo túnel para as espécies deste país.

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  5. Caro Estrangeiro,
    A sua mensagem, apesar da indigência intelectual, é muito interessante.
    O que estava em discussão eram modelos de governação das ONGs. Mas como argumentos parecer ser coisa difícil de arranjar toca de sacar de uma das mais velhas técnicas de confusionismo: como eu trabalho no ICNB, apesar de aqui não o representar, o melhor é atacar o ICNB para me tentar diminuir.
    Azar seu, estou tão ou tão pouco satisfeito com o que vejo que estou de saída do ICNB mas isso não altera os meus argumentos acerca do que se passa à minha volta.
    Da sua longa arenga dois aspectos me parecem com alguma relevância: a acusação, que não concretiza, de que João Menezes contratou trabalhos para si próprio, que é uma acusação grave (que nem sei se é verdadeira ou não) que tem a obrigação de concretizar.
    E a conversa meia desconchavada dos centros de recuperação.
    Que Diabo, com tantos problemas de conservação importantes foi logo buscar uma matéria cujo interesse para a conservação é marginal.
    Mas como foi minha a ideia e fui eu que defendi o que se perspectiva no futuro imediato, deixe-me gastar algum tempo com o assunto.
    Ao contrário do que diz os centros de recuperação podem ser um poderosíssimo instrumento de fund raising, desde que bem geridos (ao Estado falta-lhe flexibilidade para isso com as regras de contabilidade pública que existem).
    Quando a ANA (aeroportos) manifestou interesse em financiar os centros eu fiquei com um problema: era difícil aceitar a proposta de adesão ao Business and Biodiversity e manter o princípio de que o ICNB não beneficiava directamente dos recursos gerados pela iniciativa (um princípio que basicamente foi uma teimosia minha que consegui manter até hoje, nem sempre de forma pacífica).
    Lembrei-me então de retomar uma velha ideia minha: propor que a gestão dos centros de recuperação fossem concessionados a outras entidades, elas sim destinatárias dos recursos postos à disposição pela ANA.
    Depois de muitas discussões internas está de facto a decorrer o concurso público para a concessão da sua gestão que tem associado um valor disponibilizado pela ANA para dois dos centros de recuperação (o terceiro, no Gerês, contra a minha opinião, mantém-se directamente gerido pelo ICNB).
    Ora aqui está um tipo de negócio onde as ONGAs podem ter vantagens muito interessantes (porque podem alavancar muita da gestão em trabalho voluntário e porque podem gerir bem o fund raising) e com benefícios para todos.
    Ou seja, o ICNB concessiona a gestão dos centros, com base num caderno de encargos previamente definido, com suporte financeiro de uma empresa privada e através de concurso público.
    Diga-me lá onde está a demissão do ICNB da sua missão e, mais importante, onde estão os defeitos desta solução?
    com os melhores cumprimentos, embora a cobardia do seu anonimato não os mereça,
    henrique pereira dos santos

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  6. Caro anónimo "estrangeiro",

    Nos últimos dias, neste e em posts anteriores, foram levantadas diversas questões relativas ao funcionamento das ONGAs. Apesar da visitação diária, nestes dias, ter atingido valores recordes, o baixo número de comentários que contestam o essencial do que se vem aqui afirmando é confrangedor. O que é um péssimo indício e que parece validar a pertinência de muitas das questões levantadas.

    No seu comentário, ao invés de responder a quaisquer questões concretas levantadas acerca do papel que as ONGAs têm na sociedade actual, prefere "chutar para canto" e dizer que quem funciona mal é o ICNB.

    Fui funcionário dos quadros do antigo ICN durante 7 anos, tendo-me demitido em 2000. Por isso, como deve imaginar, sei bem quais os enormes problemas de funcionamento deste organismo do estado. E até podemos discutir isso noutra ocasião. Mas "saltar" subitamente do funcionamento ONGAs para o do ICNB, como o faz, parece-me uma mera estratégia de fuga em que, obviamente, não alinho. Preocupante que a constestação ao que se foi dizendo seja só esta...

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  7. Anónimo1/10/08

    Caro Henrique:

    Está redondamente enganado quanto a mim. Não tentei de forma alguma atingi-lo ou diminuir a sua pessoa. Lamento que assim tenha entendido o meu comentário, que não era, de todo, nesse sentido. Lamento ainda a forma como decidiu dirigir-se a mim.

    Quando, a respeito das ONGAS levei o assunto para o lado do ICN, versão B, e, concretamente, falei dos centros de recuperação, foi propositadamente para demonstrar como onde a administração central falha, estas podem triunfar.
    Trabalhei durante algum tempo numa ONGA associada às questões ambientais e, portanto, tenho a perfeita noção do que é trabalhar das 9 às 17.30, com limitações de manobrabilidade, nao conseguindo mostrar resultados e como se pode trabalhar, com dedicação e empenho, sem horário, em algo que, apesar de muitas vezes, limitada em termos de recursos, mostra frutos do trabalho realizado., apenas porque o que fazemos nos ganha respeito.

    O ICN, versão B, está condenado a ser mais um organismo da administração central, do tipo ERSE, em que poucos notam a sua influência na gestão do que lhe compete, centralizado e cada vez mais distante dos propósitos para os quais foi criado inicialmente.

    É inevitável que as AP's deste país venham a ser geridas por CCDR's, autarquias, ONGAS e, eventualmente, empresas. Pelo menos da forma como esta última reestruturação colocou este serviço.

    Acredito que uma ONGA é, maioritariamente, mais eficaz e diligente que a muitas empresas ou serviços publicos pelo simples facto de que a motivação dos seus agentes é maior. A forma como numa ONGA podem ser ultrapassadas determinadas barreiras para permitir o evoluir de uma acção, e que num serviço público seria muito mais dificil ou moroso, permite uma actuação mais rápida e eficaz, logo, mais moralizadora.

    Por outro lado, surge associada a esta questão, a tentativa de instrumentalização política das mesmas sempre que "dá jeito", para o bem e para o mal. Neste campo, as ONGAS são mais vulneráveis do que um serviço público ou que uma empresa.

    É fácil colar um dirigente de uma ONGA a determinada ideologia, de acordo com a necessidade do momento em termos politicos.

    Lamento, contudo, profundamente, que o panorama nacional no que concerne à Conservação da Natureza e da Biodiversidade, seja o de deixar que ONGAS e empresas assumam um papel que é do estado e que, os funcionários do ICN, versão B, sejam relegados para planzos secundários em deterimento destas entidades. Se há bons profissionais nas ONGAS, também os há no ICN, versão B. Tenho lá boas referências.

    Por fim, permita que lhe coloque uma questão relativamente ao que referiu acerca dos centros de recuperação. Porque é que, e seu entender, "era difícil aceitar a proposta de adesão ao Business and Biodiversity e manter o princípio de que o ICNB não beneficiava directamente dos recursos gerados pela iniciativa"?
    Porquê este princípio?

    Obrigado e, mais uma vez, espero que não entenda os meus comentários como ataques à sua pessoa. Descobro este blog há dois dias e entendo que é um bom local para discutir o que de mais importante se passa na CN, em Portugal.

    Cumprimentos

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  8. Anónimo1/10/08

    Essa de o Henrique - alento indiscutível do ICN nas horas más - estar de saída é surpreendente. No mínimo deviam fazer-lhe um busto e colocá-lo na Rua de St. Marta. Outro defensor tão fiel não vai o ICN arrumar...Felicidades para onde for.
    Jaime Pinto

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  9. Caro estrangeiro,
    Em relação ao seu último parágrafo responder-lhe-ei com um post por ser matéria mais geral e que precisa de mais espaço.
    Quanto ao exemplo dos centros de recuperação como demonstração de sucesso das ONGAs em relação à administração central teríamos muito que conversar.
    As ONGAs fizeram quando quiseram e como quiseram mas sempre no pressuposto de que o Estado os deveria financiar.
    Quando passei fugazmente pela Presidência do ICNB resolvemos acabar com o regabofe e concordámos em financiar os centros com base em regras claras e contas claras. Discutimos o custo por animal ameaçado. O financiamento reduziu-se para um quarto do valor anterior, arbitrariamente estabelecido.
    Actualmente o ICNB penso que tenha cortado totalmente o financiamento aos centros privados. Finalmente as ONGAs perceberam que tinham de fazer pela vida e estão a ser financiados, os que subsistem, claro, por privados.
    Até esta altura onde estava superioridade das ONGAs demonstrada?
    henrique pereira dos santos

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  10. Esqueci-me, e obrigado Jaime pela simpatia mas ainda ficam no icnb mais 600 pessoas para fazer o que eu tenho feito até aqui.
    henrique pereira dos santos

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  11. Anónimo3/10/08

    Mas qual é a credibilidade das ONGAS? Realmente, a única em que sei que existe trabalho sério é a SPEA, mas infelizmente só se dedica à passarada. As outras ONGA de suposta relevância nacional são uma anedota mantida pelos media.

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  12. Anónimo9/10/08

    Pois, profissionais competentes creio que haverá um pouco por todo lado, assim como os incompetentes; ONGA's, empresas, ICNB, poder local, Universidades, etc. O grau de competência/incompetência será transversal a todas estas entidades. No entanto, a visão que o público tem das entidades já não é tão igualitária: mais ao menos, o hierarquia de respeitabilidade seria - Universidades / ONGA's / Poder central / Poder local / Empresas. Por isso, nestas coisas, as ONGA's são sempre preferidas às empresas. As empresas que prestam serviços na área do ambiente e do desenvolvimento sustentável, mesmo que tenham preocupações éticas incontestáveis e posições em defesa do património (por vezes posições mais arriscadas e politicamente incorrectas que as assumidas pelas ONGA's) não deixam de ser.... empresas, com toda a carga negativa que isso acarreta. Enquanto não houver uma mudança de mentalidades, esta situação continuará assim. Da parte que me toca, estou a fazer por isso, e em breve haverá uma rede nacional essencialmente empresarial com preocupações ambientais que trabalha para o desenvolvimento sustentável.

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