Seria demagogia dizer que o que se vê neste cartaz e neste programa, "Durante estes dias, quem se deslocar a Oleiros poderá deliciar-se com os mais tradicionais ou os mais inovadores pratos confeccionados à base de Castanha e Medronho. Para este efeito, estão a ser efectuadas parcerias com diversos agentes turísticos no sentido de criar e organizar grupos de pessoas que pretendam aderir a esta iniciativa." resulta directamente dos fogos de 2003.
Mas, não retirando um átomo de importância da face trágica dos fogos de 2003, parece-me claro que estes fogos constituíram um poderoso impulso de diversificação da base económica da região e puseram a claro a importância das alternativas, quer económicas, quer ambientais, ao pinheiro, nomeadamente o medronho e a castanha.
Da mesma forma que em Portalegre foram os fogos de 2003 que permitiram o desenvolvimento de um projecto de reprodução de abelhas rainhas que hoje não só contribuem para a manutenção do património genético que nos caracteriza como se tornou um projecto de sucesso que produz rainhas para todo o país e para outros países.
Com isto não defendo, naturalmente, esta maneira de provocar rupturas criativas em tecidos económicos cristalizados porque o seu preço de outros pontos de vista é altíssimo mas não posso deixar de chamar a atenção para o facto de ser necessário pôr, no balanço de perdas e ganhos, estes aspectos positivos que ao mesmo tempo que revitalizam economicamente a região dão passos certos no caminho da sustentabilidade.
Tomara eu que o trágico PRODER tivesse a flexibilidade e a visão necessária para perceber a importância estratégica do mundo rural para o país, para além da sua débil e ultrapassada visão dos mercados agrícolas.
henrique pereira dos santos
Henrique,
ResponderEliminarA sua tese até seria interessante, se o medronho não constituísse já antes dos incêndios de 2003 um poderoso sector económico no pinhal interior.
Aliás, a maior parte da produção (se não a totalidade) era "exportada" para o Algarve, para produzir a sua afamada aguardente. E o medronho, no PI, sempre conviveu bem com o pinhal: há mais que espaço para medronho, pinho, castanho, sobro e quantas espécies lá queira meter, incluindo as mázonas.
Henrique, ainda não compreendeu os ritmos que devem estar associados à gestão e aos ecossistemas florestais, que não se compadecem com catástrofes purificadoras tão ao seu gosto, do tipo "incêndio de 60000 hectares", "nemátodo" ou "doença da tinta".
Vá à mostra gastronómica e aproveite para perguntar aos produtores de medronho se gostaram dos incêndios de 2003, ou dos anteriores. É que silvicultura não é propriamente agricultura ou jardinagem, e 5 anos sem receita pode ser a machadada final para muitas famílias e aldeias, mesmo que ainda consigam vender por tuta e meia os últimos paus chamuscados de pinho.
B. Gomes
Caro B. Gomes,
ResponderEliminarO que verdadeiramente emerge é a importância que pode ter o turismo e a diversificação produtiva e paisagística.
Como sabe o facto de estarmos perante a maior mancha contínua de piheiro bravo da Europa era motivo de orgulho e hoje penso que todos concordaremos que não queremos voltar a essa situação.
E isso resulta efectivamente do corte que os fogos constituíram (independentemente da opinião que cada um de nós tenha sobre isso).
Não vale pena usar argumentos demagógicos como o de ir perguntar às pessoas se gostaram dos fogos de 2003. Estou apenas a chamar a atenção para o facto de constituírem um factor de ruptura com um status quo de pobreza crescente e insustentabilidade. Com certeza que, como quase todas as rupturas, é um processo doloroso mas isso não significa que não permita atingir uma situação mais favorável que a anterior mais tarde (o tempo se encarregará de nos dizer o que hoje ainda não é certo).
Claro que uma gestão florestal (em rigor, uma gestão do território) menos viciada no pinho e mais equilibrada muitos anos antes teria conferido mais resiliência ao sistema e teria permitido transições menos dolorosas mas é um erro pretender avaliar as decisões tomadas em determinada altura com o conhecimento que hoje temos sobre as suas consequências.
Não percebi a sua referência à doença da tinta: tem dúvidas de que foi um factor importante na difusão da batata na alimentação humana? Se tem exponha-as por favor porque até hoje não vi ninguém duvidar disso e é sempre bom ouvir pontos de vista novos que nos obrigam a ir verificar o que demos anteriormente como adquirido.
Quanto ao nemátodo não tenho ideia de alguma ter falado sobre o assunto, portanto não percebo a sua referência.
henrique pereira dos santos