"As condições ecológicas extremas proporcionadas às plantas vasculares pelos solos ultrabásicos– e.g. elevada concentração em metais pesados, baixa relação Ca/Mg e baixa profundidade útil – explicam a sua riqueza em espécies e ecótipos endémicos de plantas, a baixa α diversidade da sua flora, a lentidão dos processos sucessionais e a dominância de etapas sucessionais regressivas. Aceitam-se seis espécies de serpentinófitos endémicos dos afloramentos de rochas ultrabásicas do NE de Bragança. 18 espécies não endémicas são, em Portugal, exclusivas, ou quase, destes afloramentos. As rochas ultrabásicas transmontanas distribuem-se por dois maciços: Bragança-Vinhais e Morais. O Maciço de Bragança-Vinhais é o mais rico em espécies endémicas, e em outras espécies raras, porque estas plantas tendem a concentrar-se nos afloramentos de maior altitude. Não existe uma explicação satisfatória para este padrão, porém a proximidade do Maciço de Bragança-Vinhais de um sistema montanhoso, mais ou menos contínuo, que entronca nas Montanhas Cantábricas poderá ter facilitado a imigração de uma flora de montanha neutro-basófila durante o Holocénico. As categorias de raridade UICN, aplicadas às escalas nacional e internacional, dos serpentinófitos e demais espécies RELAPE devem mais à sua raridade intrínseca do que a regressões populacionais de causas antropogénicas. 75 % das espécies RELAPE das rochas ultrabásicas do NE de Bragança estão adaptadas a solos delgados, geralmente sujeitos a erosão laminar, e têm o seu óptimo fitossociológico em comunidades pioneiras."
Este texto é o resumo de uma comunicação apresentada por Carlos Aguiar na sexta feira, no encontro da associação portuguesa de ecologia da paisagem.
O que me interessa fazer realçar é a sua afirmação de que há espécies intrinsecamente raras que convivem bem com essa raridade sem que tal signifique necessariamente ameaça.
Mas nos nossos modelos de classificação de ameaças essa raridade intrínseca é considerada, em si mesmo, ameaça.
Talvez tenha de ser assim, não sei o suficiente para contestar isto nem tenho proposta alternativa.
Mas a verdade é que os nossos recursos para a conservação podem estar a ser gastos em esforços vãos para contrariar essa raridade intrínseca.
henrique pereira dos santos
Boa tarde,
ResponderEliminarCaro Henrique, felicito-o por mais um bom post.
Queria apenas comentar a seguinte frase. "Mas nos nossos modelos de classificação de ameaças essa raridade intrínseca é considerada, em si mesmo, ameaça."
O facto das espécies terem uma área de distribuição extremamente reduzida ou altamente especializadas em biótopos de distribuição muito localizada (por ex. solos serpentiníticos)pode tornar as espécies ameaçadas, pois qualquer evento "catastrófico" natural (p.e. deslizamento de terras, intenso pisoteio animal) ou de origem humana (p.e. construção de autoestrada) é provável de causar graves danos às populações e torna as espécies mais susceptíveis à extinção. Apesar de poderem estar em equilibrio com o meio, a extinção pode ser uma realidade devido à ocorrência desses eventos, e por isso se considera que estejam sob algum nível de ameaça.
AC
Confesso que nos planos em que tenho tido alguma influência tenho feito depender mais o grau de protecção da sensibilidade que do valor conservacionista.
ResponderEliminarA razão é exactamente porque não há relação directa entre valor e necessidade de protecção.
Esta opção tem dificuldades, por exemplo, responder face a que factor se avalia a sensibilidade.
Esta introduçao serve para enquadrar a questão do post: salvo um fenómeno brutal, estas espécies não correm o risco de se entinguir mesmo sendo raras.
Tirando a expansão urbana, a construção de infra-estruturas, isto é, a destruição directa de áreas significativas destes habitats o melhor é estar quieto e deixar andar.
Ou seja, existe uma ameaça intrínseca relacionada com a raridade e diminuta distribuição mas é uma ameaça que não justifica a afectação de meios para a sua gestão.
E no entanto admitamos que algumas espécies possam estar, pelo parâmetros tecnico-administrativos que usamos para estabelecer o seu grau de ameaça, criticamente em perigo.
O meu objectivo é apenas combater a falta de crítica e escrutínio que existe á volta desta matéria e que permite que os estatutos sejam modelados em função do interesse de quem os influencia.
henrique pereira dos santos