quinta-feira, outubro 27, 2005

Estudo alerta para crescente vulnerabilidade do Mediterrâneo às alterações climáticas


Amanhã sairão notícias nos meios de comunicação social nacionais e internacionais sobre um artigo publicado na revista “Science”, sobre impactes das alterações climáticas na Europa, do qual sou co-autor. Abaixo publico as respostas, versão Portuguesa, que dei a uma jornalista da agência noticiosa Espanhola (EFE). Mantenho as perguntas em Castelhano para não incorrer no risco de desvirtuar o seu significado.

¿Por qué el Mediterráneo es más vulnerable a los cambios?

Qualquer mudança comporta desafios para a humanidade. A questão é saber se esses desafios se traduzem em vulnerabilidade acrescida ou se abrem portas a novas oportunidades para o desenvolvimento das actividades humanas. Ora os modelos climáticos realizados no âmbito do projecto ATEAM prevêem um aumento generalizado das temperaturas na Europa durante o século XXI. No centro e algumas áreas do norte da Europa esse aumento de temperatura será, por vezes, acompanhado de aumentos de precipitação. Essa precipitação pode causar um aumento de vulnerabilidade, por exemplo, no que diz respeito a cheias de verão. A conjugação do aumento de temperaturas e precipitação pode também causar um degelo de áreas montanhosas o que afectará negativamente o turismo de alta montanha assim como a biodiversidade associada a estas as regiões. No entanto, o aumento de temperatura e precipitação terá também como consequência o aumento da produtividade primária bruta. Este facto poderá criar novas oportunidades para o turismo mas sobretudo para a agricultura e florestas nas regiões do centro e norte da Europa.

Ora, no Mediterrâneo, os modelos prevêem aumentos moderados de temperatura e diminuições de precipitação (por exemplo, um dos cenários aponta para reduções de precipitação no verão na ordem dos 27% para a Península Ibérica); por outras palavras, prevê-se um aumento generalizado da aridez. Tendo em conta que várias regiões do mediterrâneo se encontram, actualmente, em situações de défice hídrico é difícil conceber que uma redução da precipitação ajude a criar novas oportunidades para o desenvolvimento das actividades humanas. É, assim, uma mudança que, a verificar-se, comporta vulnerabilidade e poucas, ou nenhumas, oportunidades.

¿En qué sentido se verá afectado el abastecimiento del agua y en qué proporción exactamente?

Os impactes que estas alterações de temperatura e precipitação terão nas comunidades humanas são dependentes, por um lado, das chamadas políticas de mitigação que incluem, nomeadamente, a aplicação rigorosa das metas estabelecidas no âmbito do protocolo de Quioto, e por outro, das estratégias de adaptação local e regional que forem implementadas. No contexto de Espanha e Portugal, por exemplo, torna-se patente a necessidade de considerar a possibilidade de aumento da regularidade de secas prolongadas e consequente carência de água potável para as populações. Como sabemos a capacidade de armazenamento de água doce em albufeiras encontra-se próximo do seu ponto de saturação: - não há muitos mais rios sem barragens! Por outro lado não é de excluir um cenário em que seja difícil assegurar reservas suficientes nas albufeiras construídas. Pessoalmente – e isto não é uma conclusão do estudo – penso que é necessário abordar com coragem a necessidade de implementar políticas que conduzam a uma maior racionalidade na utilização dos recursos hídricos, por um lado, e por outro, avançar com programas de dessalinização da água do mar mesmo que, aparentemente, esta tecnologia comporte custos elevados.

Se señala en el artículo que las reducciones significativas de gases de efecto invernadero
evitarían esta situación? ¿qué porcentaje de reducción sería necesaria exactamente?

A resposta do sistema climático a alterações nas taxas de emissão de gases com efeito de estufa não é imediata; assim há impactes que não se poderão evitar. Por exemplo, de acordo com os modelos realizados neste estudo, só a partir e 2050 é que se começariam a notar os efeitos significativos da adopção de políticas diferenciadas ao nível da emissão de gases com efeito de estufa. Mas se avançarmos um pouco mais no tempo os resultados começam a ser mais visíveis. Por exemplo, no período de 2070-2090, e assumindo um cenário de concentração de CO2 de 779 (ppm), estimou-se que a Península Ibérica possa sofrer reduções de precipitação estival na ordem dos 23 a 27% dos valores actuais. Utilizando o mesmo modelo climático mas um cenário de concentração de CO2 na ordem dos 518-567 (ppm) prevê-se uma redução de precipitação entre os -14 e -17%.

Por qué dentro de la región mediterrána la Península Ibérica es una de las zonas que se verán mas afectadas?

Porque é na Península Ibérica que se encontram actualmente as regiões mais áridas da Europa e é na Península Ibérica que se prevêem as reduções mais significativas de precipitação.


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1 comentário:

Miguel B. Araujo disse...

Caro solariso

A sua pergunta tem toda a razao de ser. Tentarei aborda-la numa mensagem futura (o tempo e' o unico factor limitante) que versara' sobre cepticismo climatico.

Cumprimentos,

Miguel