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sexta-feira, outubro 15, 2010

Lendo um jornal de hoje

O Financial Times de hoje tem um suplemento especial sobre alimentação que vale a pena ser lido numa óptica ambiental.
Num dos artigos mais interessantes fala-se do problema bem sério da ferrugem do trigo, que se pensou um dia que era um problema do passado, mas que desde 1998/ 1999, quando ressurgiu em força no Uganda, se tem vindo a espalhar, temendo-se que entre brevemente nas zonas produtoras da índia e bangladesh e afeganistão, o que poderia provocar milhões de mortes (esta discussão foi tida na lista ambio há algum tempo, incluindo o papel das plantas genéticamente modificadas na eventual defesa em relação a este risco, bem real).
É um exemplo típico das razões pelas quais a política de conservação da biodiversidade deve ser uma política pública já que o mercado lida mal com este tipo de problemas e não tem solução para eles.
Mas como quem lê este blog há mais tempo saberá, um dos meus maiores interesses é a relação entre alimentação e sustentabilidade (e dentro disto a gestão de paisagens a partir da alimentação).
E desse ponto de vista há um artigo muito interessante, que no essencial se baseia neste relatório do WWF, cuja leitura, pelo menos do sumário, merece o esforço.
Claramente uma perspectiva equilibrada dos impactos da alimentação, longe dos maniqueísmos frequentes nos meios veganos que pretendem que tudo se resolve mudando para dietas vegetarianas. O estudo tem análises preocupantes dos efeitos das nossas opções alimentares em países terceiros (no mesmo dossier do financial times refere-se a práctica cada vez mais habitual de garantir a produção de bens alimentares através da compra de terra em países terceiros, por parte das companhias mais ligadas ao negócio).
Um exemplo desses impactos, referido do relatório, é o do consumo de óleo de palma, mas poderia também ser o do consumo de azeite, referido neste estudo, que vários vezes tenho aqui referido em alternativa à manteiga, numa boa demonstração da complexidade da discussão em torno de uma alimentação sustentável.
A sustentabilidade não é um mar de rosas.
henrique pereira dos santos

sábado, agosto 28, 2010

arbustos, matos e ervas


ovelhas pastando
Imilchil, Alto Atlas
Agosto de 2010

floresta de cedros
Ifrane RN (Azrou), Mèknes, Médio Atlas
Agosto de 2010


oliveira
Tizi-n-Isli, Kasba Tadla, Médio Atlas
Agosto de 2010

 eucalíptal
Guermasse, Marrakech
Agosto de 2010

vale de Todra, Alto Atlas
Agosto de 2010


vale de Todra, Alto Atlas
Agosto de 2010
Há alguns dias atrás, publiquei aqui um pequeno post - agricultura de subsistência - amavelmente comentado por algumas pessoas. O primeiro comentário de Carlos Aguiar aquele texto trouxe-me à memória ideia que fui cimentando, ao longo dos dias da minha última viagem por Marrocos, da quase total ausência de sub-coberto florestal de muitas paisagens marroquinas. Registei-o com enorme estranheza, na minha santíssima ignorância. Talvez o sobrepastoreio e o uso do solo para o cultivo de cereais até a exaustão sejam fortemente responsáveis por estas paisagens. Talvez seja apenas obra da "natureza". Talvez estes e outros fenómenos. E talvez o Carlos possa ajudar a compreender estas imagens :)

Gonçalo Rosa

quarta-feira, agosto 18, 2010

agricultura de subsistência

Imilchil, Alto Atlas marroquino
Agosto de 2010

A mais de 2000 metros de altitude, no Alto Atlas marroquino, aqui e ali, existem pequenas aldeias de camponeses e pastores. Aproveitam para o cultivo a fertilidade das várzeas dos rios e ribeiras que escavam a montanha. E dependem dessa agricultura de subsistência para sobreviverem. Aqui, figura semelhante à nossa Reserva Agrícola Nacional perderia importância. Cada milimetro de terra fértil serve o presente.

Gonçalo Rosa

sexta-feira, agosto 06, 2010

As economias baseadas na gestão de combustíveis

Num comentário a este post, Luís Lavoura é bastante assertivo:
"A produção de estrumes não tem competitividade quando os adubos são baratos, como agora (há dois anos atrás foram extremamente caros). A produção de pequenos ruminantes não é competitiva quando a carne de vaca é abundante e barata. Hoje em dia ninguém quer comer cabra, a carne de vaca é muito mais fácil. Repare o Henrique: há três decénios não havia tratores e as pessoas criavam vacas para tração (puxar carros de bois). Praticamente não se comia carne de vaca (o bife era um luxo de ricos). Hoje em dia há tratores e adubos para fazer crescer erva. O consumo per capita de carne de vaca cresceu umas seis vezes ou mais. Perante tal realidade, ninguém quer comer ovelha ou cabra. Em muitos talhos já praticamente não se encontra borrego (no Sul ainda se encontra, devido às tradições herdadas dos árabes, mas no Norte não), e cabrito ainda menos. Veja também o Henrique o seguinte: nos EUA usa-se cabras para limpar os terrenos - mas paga-se por esse serviço!!! Há empresa que criam rebanhos de cabras e que os alugam a proprietários que querem limpar os seus terrenos - os proprietários têm que pagar para que lhes ponham cabras nos seus terrenos! A criação de cabras não é rentável, trata-se apenas de um meio menos caro (e ambientalmente menos impactante) de limpar os terrenos."

Esta é a visão mainstream do problema da economia destas fileiras.
A mim parece-me uma visão errada, porque não discute a criação de valor mas apenas a produção.
Vejamos.
Se estivermos a falar de estrume para substituir os adubos na produção, por exemplo, da lezíria do Ribatejo, admito que a produção de estrumes não seja competitiva (não conheço contas que o demonstrem mas se o mercado não existe é provavelmente porque nenhum empresário o achou interessante por não lhe reconhecer competitividade). Mas como qualquer produção de nicho, a questão não é de preço, é de diferenciação. O estrume produzido em qualquer parte do país pode ser ensacado e vendido para públicos urbanos e a sua ligação à gestão do fogo pode ser explorada em alguns mercados, fazendo aumentar a disponibilidade dos clientes para pagarem mais por essa característica. Por exemplo, o mercado das empresas aderentes ao movimento ECO (Empresas contra os fogos, cujo site não parece estar a funcionar), é um evidente mercado para um estrume um pouco mais caro mas ambientalmente muito mais favorável.
A criação de pequenos ruminantes é competitiva, mais uma vez, explorando a diferenciação e a disponibilidade dos clientes pagarem. O cabrito é caríssimo, é bastante vendável em restaurantes que podem pagar mais pelos produtos, em algumas zonas do país a chanfana é presença obrigatória em cartas de restaurantes e o borrego é vendido sem problemas no Sul (raramente se comeu cordeiro no Norte, havendo até um investigador que ao perceber isso e a má qualidade da lã (diz ele, eu não tenho a certeza porque suportou durante bastante tempo a indústria de lanifícios da serra da Estrela) concluiu que a produção de ovelhas na Beira tinha como objectivo duplicar a produção de centeio com ajuda da giesta).
Neste momento não conheço nenhum produtor de pequenos ruminantes que vá a falência por falta de clientes ou por preços abaixo do custo. Apesar da oposição (ou no mínimo desinteresse) do Estado à pastorícia nos últimos 150 anos, que a tem impedido de se desenvolver e crescer rumo à diferenciação de produtos e à criação de valor. Admito que haja situações particulares, mas não é uma situação generalizada.
O mais extraordinário do que afirma o Luís é desvalorizar o mercado da produção de serviços de limpeza de matos, incomparavelmente mais eficiente e barato com animais que com qualquer outra técnica (tem problemas e dificuldades e há casos particulares, mas em geral esta frase é verdadeira) em vez de considerar que é um novo mercado que viabiliza a produção de pequenos ruminantes. Ou seja, quando se abre uma nova oportunidade de criação de valor, o que em qualquer actividade é saudado como uma nova oportuniodade de negócio, no caso da pastorícia usa-se isso para explicar que essa nova oportunidade de negócio demonstra a falência da actividade.
O meu conselho é simples: esqueça-se tudo o que são preconceitos sobre estas três fileiras económicas (e o Luís não falou dos novos mercados de aquecimento e cozinha mas o que aqui digo também é válido aqui) e olhe-se para elas como qualquer outra actividade económica orientada para a criação de valor.
Isto é, orientada para a procura de clientes que estejam disponiveis para pagar pelos bens e serviços produzidos mais do que eles custam aos seus promotores, mesmo que custem muito. Porque a competividade não está necessariamente nos mais baixos custos, está na diferença entre os custos e o que os clientes estão dispostos a pagar pelos bens e serviços.
Olhem para os pastores como quaisquer outros trabalhadores, dêem-lhes fins de semana, folgas, férias, 13º mês e verão como de repente aparecem os trabalhadores cuja falta hoje se diz que inviabiliza a actividade.
Façam contas ao custo do corte dos relvados de muitas cidades e vilas e comparem com os preços que é possível fazer gerindo animais.
O que não vale a pena é olhar para as actividades como elas sempre foram e pensar que respondem a necessidades de hoje.
Ninguém faz isso quando produz pregos, ciência, almoços, finanças, jornais e por aí fora.
Mas aparentemente toda a gente acha normal discutir a competitividade da pastorícia (e da roça de matos) do século XIX à luz de mercados do século XXI.
henrique pereira dos santos

domingo, julho 18, 2010

Perplexidade

Fotografia de L. Seixas, tirada daqui
Vejo hoje na Pública uma professora da Universidade Nova, especialista em desertificação, dizer que o Alentejo o olival intensivo pode conduzir à desertificação (Maria José Roxo faz muita questão de deixar claro que desertificação e despovoamento são coisas muito diferentes, o que até é verdade mas é uma verdade inútil porque o significado das palavras é estabelecido pelas pessoas que as usam e não pelas academias).
No seguimento fala da vocação do Alentejo para outras produções alternativas dando, entre outros, o exemplo da produção de cereais.
Fiquei perplexo.
Alguém sabe de algum estudo comparativo dos efeitos de deplecção da fertilidade do solo com o olival intensivo (ou mesmo super intensivo) e com a cultura de cereais no Alentejo?
O mito de que o Alentejo tem um enorme potencial de produção cerealífera dura há pelo menos 150 anos e tem sido responsável, pelo menos parcialmente, por políticas agrícolas erradas e fortemente degradadoras dos solos do Alentejo.
O olival intensivo (e super intensivo) é matéria que me interessa porque vejo ali ameaças e potencialidades mal estudadas do ponto de vista da biodiversidade e não percebo as afirmações feitas que me parecem mais ideológicas que assentes em medições empíricas.
henrique pereira dos santos

sábado, julho 10, 2010

Agricultura urbana

Aconselho vivamente a leitura da discussão que se pode ver neste link.
Depois aconselho a ler sobre a campanha "eat the view", aqui ou aqui.
Talvez seja tempo de pensar mais consistentemente na integração dos sistemas produtivos primários (agricultura, pastorícia) nas funções urbanas.
Não estou a falar apenas de espaços urbanos, estou a dizer que as funções urbanas sempre incluíram a produção de alimentos e não há razão nenhuma para manter a separação criada pela revolução industrial e que é hoje dominante da gestão urbana. É certo que de vez em quando se cede a umas iniciativas mais ou menos folclóricas à roda das hortas urbanas, criando a ideia redutora de que a agricultura e pastorícia urbana é um mero arrebique decorativo.
Eu não estou de acordo.
Se quiserem ver mais de perto coisas relacionadas perguntem ao meu colega Jorge Cancela, que tem um trabalho notável de mobilização na Alta de Lisboa (já lhe sugeri que se candidatasse a presidente de Câmara com um programa baseado em meia dúzia de ideias de bom senso que transmitiu num inquérito que o Público faz aos Domingos, mas riu-se, infelizmente. Teimoso como sou, não perdi a esperança mesmo assim).
Este é o trabalho de base, começando na horta da varanda. Um dia chegaremos outra vez a ver olivais e trigais em Lisboa. Sem com isso estarmos a falar de espaços rurais, estaremos com certeza a falar de outros olivais e outros trigais, que se integram nas cidades como partes de pleno direito e contribuindo para cidades melhores, e não como resquícios de educação ambiental sem sustentabilidade e sem sentido.
henrique pereira dos santos

sábado, junho 26, 2010

ao preço da chuva...

Hoje pelas 16h, em Trindade (Beja), com muito sol e mais de 30ºC de calor...   :S

Gonçalo Rosa