quarta-feira, abril 19, 2006

Digam adeus ao litoral alentejano

A minha primeira acção ambientalista foi em 1988, quando estudante na Universidade de Évora, numa manifestação contra o alargamento do campo de tiro de Alcochete (se bem me lembro, o Miguel Araújo foi um dos organizadores). Ao longo dos últimos anos, cada vez mais convencido fico que a «derrota» foi afinal uma vitória. De facto, se o alargamento nessa altura parecia uma ameaça ambiental, acabou por ter evidentes benefícios. Actualmente, aquela zona constitui um tampão à expansão urbanísticas e, além disso, a gestão ambiental daquela zona pelos militares é, a todos os níveis, exemplar.

Vem isto a propósito da intenção do Governo em retirar as prisões do interior das cidades. A ideia aparentemente tem um único propósito: libertar espaços cobiçados para urbanizações, numa operação financeira em que aparentemente o Estado ganha, mas perdemos em qualidade de vida. Mas pior ainda é que, no meio disto, é que no lote de prisões a retirar «do interior das cidades» está a prisão de Pinheiro da Cruz! Ora, quem conhece Pinheiro da Cruz (espera-se que de passagem), sabe que aquilo está no meio de tudo menos de uma cidade ou mesmo de uma aldeia. Aquilo está isolado.

Mas, qual a vantagem então de lá retirar a prisão? Pois bem, na herdade em que este estabelecimento está inserido encontra-se uma frente de praia praticamente selvagem, com acesso condicionado. Por duas vezes, há alguns anos, tive oportunidade de visitar essa praia (como jornalista, convém referir). E, claro, não gostei muito do que vi: além daquela zona servir para exercícios militares da NATO (que desventraram uma parte da arriba), estão «semeadas» várias casas e barracões, todos de madeira, que foram construídos há algum tempo pelos serviços prisionais. Funcionam como uma espécie de casas de férias para funcionários judiciais e das prisões. O POOC nem sequer lá meteu o dedo. Porém, ao contrário da atitude que, quando jovem tive em Alcochete, jamais apoiaria uma retirada daquelas casas. Por uma simples razão: mais vale um pequeno mal do que um grande mal. Como Portugal jamais conseguirá fazer algo de perfeito, pelo menos que não estrague muito. E por isso, no dia em que se decidir retirar aquela prisão dali, adeus viola; teremos em poucos anos uma «onda de urbanizações» desde Tróia até Sines. Projectos não faltam.

P.S. Já agora, dessa manifestação em Alcochete, trouxe umas landes, que semeiei junto à casa dos meus pais. Uma delas «vingou» e tenho agora lá um sobreiro com mais de 6 metros de altura!

4 comentários:

Luís Bonifácio disse...

Ora nem mais!
http://novafloresta.blogspot.com/2006/04/alberto-costa-mediao-imobiliria-sa.html

Anónimo disse...

O estado ganha?nem isso!ganham alguns "amigos" no estado.

Pedro Bingre do Amaral disse...

Segundo uma reportagem no "Público" de 20 de Abril, o Estado prepara-se para angariar mais verbas para o ensino superior por via da especulação imobiliária. Um dos principais negócios será transferir a Estação Agronómica Nacional da Quinta do Marquês (Oeiras) para uma região rural, e urbanizar os terrenos assim libertados...
Que país este, onde até o Estado especula!

Anónimo disse...

Gostava de corroborar o conteúdo do primeiro parágrafo com este dado: a base aérea de Cortegaça/Maceda/S.Jacinto desempenha o mesmo papel, para grande raiva de empreendedores e políticos ansiosos ou aspirantes a autarcas. Octávio Lima (ondas3.blogs.sapo.pt)