Num interessante "site" oferece-se uma reportagem detalhada sobre a elaboração do resumo não técnico (para decisores políticos) do grupo II do 4 Relatório do IPCC. No site pode ler-se o seguinte:
"Ecosystems: (...) On extinction, the discussion focused on whether extinction was global or regional, the number, types and representativeness of the species covered by the assessment, and the confidence levels. The Lead Authors indicated that extinction referred to global extinction of plants and animals, and that the studies represented half of the known species. Palau underscored coral reefs. The Russian Federation stressed that the statement would grasp media attention and misleading text must be avoided. Saudi Arabia expressed concern that the statement was not supported by the underlying assessment, and many delegates expressed concern with the confidence levels. On Thursday afternoon, after contact group discussions, text was agreed indicating approximately 20-30% of plant and animal species assessed so far are likely to be at increased risk of extinction if increases in global average temperature exceed 1.5-2.5°C".
É interessante registar o seguinte:
1. Foram os Governos e não os "lead authors" que procuraram matizar as afirmações, obtendo-se assim uma frase que se refere explicitamente às espécies "assessed so far".
2. Reconheceu-se que os dados apresentados não se encontram justificados no relatório técnico.
3. A informação dada aos governos pelos "lead authors" presentes é falsa pois não foram avaliadas metades das espécies do planeta. Em termos de risco de extinção foram avaliados 0.02% das espécies estimadas o que corresponde a aproximadamente a 0.1% das espécies conhecidas.
4. A frase cautelosa obtida por consenso e publicada no resumo do relatório foi desvirtuada na primeira ocasião possível, ou seja, na conferência de imprensa.
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2 comentários:
Com alguma pena digo que não me espanta que assim seja: na minha actividade diária de conservacionista cuja função principal é gerir informação de conservação para apoio à decisão tropeço vezes sem conta em situações deste tipo.
Talvez a mais óbvia dessas distorções seja a sistemática e voluntária confusão entre mortalidade e afectação de uma espécie quando se discutem impactos de infra-estruturas.
Mas há mais e muito mais grave na informação de base de conservação.
Não admira por isso o êxito de Lomborg: o movimento ambientalista especializou-se na gestão mediática e por isso precisa de picante na difusão da informação para a tornar eficaz.
A grande maioria das pessoas ligadas ao movimento ambientalista não usarão estes temperos no trabalho que fazem, mas tenderão a contemporizar no pressuposto de que fazendo o balanço global o ambiente fica a ganhar.
A lógica é a de que se as pessoas se assustarem mais, tomarão medidas mais fortes do ponto de vista ambiental e obrigarão os decisores a tomá-las, o que é bom para o ambiente.
O problema central desta opção é o da credibilidade a prazo.
E a credibilidade é o factor chave para que movimentos sociais sem instrumentos de poder consigam ter influência.
O risco é de facto muito grande e por isso tem toda a razão Miguel Araújo em ser duro e claro na crítica.
henrique pereira dos santos
se calhar está na altura de escrever outra carta para a nature... com e enviar uma cópia a esses autores.
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