Há quinze dias o Expresso publicou um artigo sobre o sobre-custo da auto-estrada A24, que liga Vila Real a Chaves imputando-os a uma alcateia de lobos.
O assunto não era novo e já tinha motivado várias peças jornalísticas, nomeadamente no público e no expresso no Verão de 2006.
Mas desta vez o assunto já não era só o eventual absurdo do sobre-custo da auto-estrada mas também uma acusação concreta: "Segundo o Expresso apurou, há uma segunda razão para a diferença de custos: quem realizou os estudos e segundo que perspectiva. Esta tese é defendida, entre outros, por Carlos Albuquerque, responsável pela comissão de avaliação de impacto ambiental da A7. Este perito, que chegou a dirigir o Parque Natural de Sintra-Cascais, sublinha que na A7 “tivemos a preocupação de orientar as medidas de mitigação ambiental, tendo por objecto o lobo, através da construção de passagens inferiores. Tomámos como base os trabalhos de investigação feitos pelo próprio Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB)”. Já na A24 a opção foi outra. “Os trabalhos foram orientados, não em função dos interesses do lobo, mas dos de especialistas ligados a organizações não governamentais (ONG) e interessados em fazer estudos e mais estudos. É inadmissível que, quando consultado por entidades externas, o instituto adjudique constantemente trabalhos a ONG e não tenha os seus próprios trabalhos”."
O Expresso apurou? Apurou como? Ouviu uma pessoa! Confrontou a informação com documentos? Factos? Nada. E é pena. Porque teria chegado à hilariante conclusão de que a única pessoa que ouviu para suportar uma acusação desta gravidade era então Director de Serviços no ICN com responsabilidades na matéria e, pasme-se, exarou no seu parecer a sua total concordância com o parecer que agora caracteriza como um frete a interesses ilegítimos.
Que a pessoa em causa diga o que entende é normal e legítimo: quem não consegue ter grandeza nos caminhos que escolhe para atingir os seus objectivos é normal que escolha a mesquinhez. Agora que um jornal como o Expresso se contente em ouvir apenas uma pessoa numa matéria desta gravidade (a acusação só não é difamatória porque se dirige inteiramente ao acusador) e não cumpra regras mínimas do jornalismo sério é que já é mais preocupante.
Imaginemos que o que aconteceu foi que alguém com interesses na nomeação de cargos públicos resolveu escolher o momento em que mais se fala de remodelações e em que duas das três pessoas da presidência de um instituto público que lhe interessa estão em gestão após o fim da comissão de serviços para procurar ganhar margem para eventuais nomeações. É claro que é um cenário fictício, mas se um jornal der voz à pura difamação sem verificar os factos é possível que tenha feito um frete do tamanho do mundo. Consciente ou inconscientemente é matéria que se poderia discutir.
Mas não destoa do resto do país: pessoas como Miguel Sousa Tavares, Manuel Falcão, Pinho Cardão imediatamente dão como adquirido o que leram (ainda por cima mal, porque atribuem todo o cobre-custo da auto-estrada ao ecoduto e não à necessidade de encontrar uma solução legal para o traçado da estrada associada a uma concessão feita em circunstâncias que o tribunal de contas critica duramente) sem sequer se darem conta do absurdo da coisa.
No meio disto a política de conservação é o joguete que necessariamente sai a perder.
Assim se dispensa a política de conservação do património natural de ter inimigos. Com amigos destes nem são precisos.
henrique pereira dos santos
sábado, dezembro 29, 2007
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3 comentários:
Obrigado, Henrique, por este esclarecimento.
Mas julgo que falta referi qual foi o resultado concreto desta situação.
Votos para 2008
António Eloy
Caro António,
Eu sei que falta a questão de fundo.
A seu tempo se responderá, embora nos links associados se possa ter uma ideia.
henrique pereira dos santos
Obrigado pelo artigo.
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