sexta-feira, janeiro 11, 2008

Uma resposta aos cépticos climáticos

O blogue Mitos Climáticos oferece uma tradução da carta que um conjunto de pessoas de vários Países enviaram ao Secretário-geral das Nações Unidas Ban Kin Moon por ocasião da Conferência climática da ONU em Bali. Essas pessoas estão agrupadas no que se convencionou apelidar de "cépticos climáticos". O peso destas pessoas na Internet é muito superior ao seu peso fora dela mas a repetição incansável de inverdades e meias verdades em meios populares tem como consequência a sua consolidação como verdade popular. E como estes locais onde se veícula informação climática raramente permite contraditório (p.e. o blogue dos mitos climáticos não permite comentários) torna-se necessário, de tempos em tempos, vir a terreiro contradizer a prosa noutros espaços [de liberdade]. Abaixo seguem frases da carta com comentários feitos por mim.

"É impossível deter as alterações climáticas, um fenómeno natural que tem afectado a humanidade através dos tempos. Os testemunhos históricos, geológicos, arqueológicos, orais e escritos provam todos os desafios fundamentais que as sociedades antigas tiveram de enfrentar perante alterações imprevistas de temperatura, de precipitação, de vento e de outras variáveis climáticas. Devemos consequentemente preparar as nações para resistir a todos estes fenómenos naturais promovendo o crescimento económico e a criação de riqueza."

1. Sou dos que têm afirmado que os esforços de adaptação às alterações climáticas devem ser uma prioridade. Tenho vindo a dizer isso desde os tempos em que apenas a palavra "mitigação das alterações do clima" estava na agenda internacional. No entanto, é sabido que os esforços de adaptação serão tanto mais caros (e irreversíveis) quanto maior for o grau de alteração do clima. Logo, é defensável, como defende a comunidade internacional, adoptar as duas estratégias em simultâneo.

2. A afirmação inicial de que é impossível deter o clima é demasiado simplista e como tal inatacável. É óbvio que é impossível, no quadro actual, controlar o clima (ainda que haja quem esteja a estudar soluções de engenharia para o efeito que, no meu entender, poderiam criar mais problemas no longo prazo do que os que ajudaria a resolver) mas sabe-se que mais CO2 na atmosfera aumenta o processo de aquecimento por via do efeito de estufa e menos CO2 diminui esse aquecimento. Pode-se discutir a magnitude da contribuição dos gases de efeito de estufa na dinâmica climática do planeta mas dificilmente se pode defender que um dos elementos da estratégia para mitigar as alterações do clima não deve passar pelo controlo de emissões.

"O Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) tem publicado conclusões cada vez mais alarmistas sobre a influência climática do CO2 de origem humana, um gás não poluente que é essencial à fotossíntese das plantas. Embora compreendamos os argumentos que levaram a considerar as emissões de CO2 como perigosas, as conclusões do IPCC são absolutamente injustificadas e não devem conduzir a políticas que vão reduzir significativamente a prosperidade futura. Em especial, não foi estabelecido que seria possível modificar significativamente o clima global reduzindo as emissões humanas de gases com efeito de estufa. Acima de tudo, porque as tentativas de reduzir emissões vão retardar o desenvolvimento, a abordagem actual da ONU sobre a redução do CO2 é susceptível de agravar o sofrimento humano devido às alterações climáticas futuras em vez de o reduzir."

O argumento faz pouco sentido. Mais tarde ou mais cedo vamos ter de reverter o uso intensivo de combustíveis fósseis porque o tempo do petróleo barato está a chegar ao fim e novas alternativas vão ter de ser implementadas. Quanto mais cedo racionalizarmos o uso do petróleo mais tempo, como sociedade, ganhamos para utilizar o petróleo nos segmentos da economia (p.e., aviação) onde é mais difícil substitui-lo por outras fontes energéticas. Também estamos a diminuir a dependência face aos pouco mais de uma dúzia de Países produtores de petróleo. Muitos deles são instáveis politicamente e usam o petróleo como elemento de chantagem política. Finalmente, o argumento de que os pobres é que pagam os custos do Protocolo de Quioto é um rotundo disparate. Se assim fosse os Países em vias de desenvolvimento não teriam sido tão céleres a assinar o protocolo. Os créditos de carbono que ganharam (e venderam) e os mecanismos de financiamento que se estão a discutir para remunerar a conservação de florestas tropicais são políticas concretas com vista a beneficiar muitos destes Países.

"O Resumo para os Decisores Políticos do IPCC é o documento mais consultado pelos políticos e pelos não-cientistas e está na base da maior parte das decisões políticas sobre as alterações climáticas. Contudo, este resumo é preparado por um núcleo relativamente restrito de redactores e a sua versão final é aprovada linha a linha por representantes dos governos. A grande maioria dos contribuintes e revisores do relatório [geral do IPCC] e das dezenas de milhares doutros cientistas qualificados que comentam sobre esta matéria não estão implicados na preparação deste documento [do Resumo]. O Resumo não pode por conseguinte ser considerado como representativo de um consenso de especialistas."

O resumo é isso mesmo: um resumo. Não conheço nenhuma decisão política tomada em virtude de afirmações dos resumos que não estão apoiadas por dados nos relatórios completos. Tendo sido autor do relatório do IPCC, tendo usado este blogue para criticar algumas afirmações contidas nos ditos resumos do relatório, e tendo sugerido varias vezes, em público, a leitura dos relatórios completos por oposição aos resumos estou perfeitamente à vontade para contestar o alcance da afirmação destes autores.

"Contrariamente à impressão dada pelo Resumo para os Decisores Políticos, do IPCC:
· As observações recentes dos fenómenos como a retracção dos glaciares, o aumento do nível do mar e a migração das espécies não testemunham uma alteração climática anormal porque nenhuma destas alterações está para além dos limites da variabilidade natural que conhecemos.
· O ritmo médio de aquecimento de 0,1 ºC/década a 0,2 ºC/década registado pelos satélites nas últimas décadas do século XX está dentro dos limites de aquecimento e de arrefecimento observado nos últimos 10 mil anos.
· Cientistas de primeiro plano, incluindo representantes importantes do IPCC, reconhecem que os modelos informáticos actuais não podem prever o clima. Assim, e apesar das projecções dos computadores de um aumento de temperatura, não tem havido aquecimento global desde 1998. O patamar de temperatura actual que se seguiu a um período de aquecimento no final do século XX está de acordo com ciclos naturais multidecenais ou milenários.
· Exactamente oposto à afirmação frequentemente repetida que na ciência do clima “terminou o debate”, um número importante de novas publicações em revistas com revisão pelos pares coloca cada vez mais em dúvida a hipótese de um aquecimento perigoso de origem humana. Mas como os grupos de trabalho do IPCC tiveram instruções para examinar as publicações [somente] até Maio de 2005 (cf. instruções IPCC) as posteriores conclusões importantes não estão incluídas no seu relatório; o que quer dizer que os relatórios de avaliação do IPCC são baseados em resultados já obsoletos."

1. Estas afirmações não constam do relatório do IPCC. Noto que o argumento original é de que os políticos usam o resumo (politizado) e não o relatório (científico) mas as afirmações aqui produzidas vão muito além de uma crítica ao resumo dos relatórios: pura e simplesmente avançam com afirmações que não estão apoiadas pelo cerne da literatura científica na matéria e que se encontra resumida nos relatório do IPCC (dezenas de milhar de artigos).

2. As afirmações avançadas são, na maior parte dos casos, tendenciosas. Por exemplo, 1998 representou um pico de calor (devido ao "el niño") seguido vários outros bastante superiores às tendências verificadas nas décadas anteriores (ver figura 3.1.). O ano de 2007 registou picos de degelo no árctico (20 km por oposição aos 5 km dos últimos anos) pelo que se percebe mal as afirmações feitas. Ao não qualificar variabilidade natural permite todo o tipo de comparações incluindo as que derivam de alterações climáticas, passadas, motivadas pela colisão da Terra com cometas, erupções vulcânicas, alterações da órbita planetária, etc. Quando diz que as migrações das espécies não diferem da variação natural está-se a referir a quê? Ao século 20 ou às Eras geológicas dos últimos 500 milhões de anos?

3. É óbvio que os modelos estão errados. Todos estão. A questão não é se estão certos ou errados mas se são úteis. E os modelos climáticos utilizados para fazer as simulações climáticas que todos conhecemos têm sido capazes de prever climas passados e presentes (é com estes processos de validação que são afinados) com um rigor suficiente para ser defensável a sua utilização num processo político de relevo como é o que estamos a falar. Nunca tanta e tão boa informação científica foi usada para suportar decisões políticas pelo que se percebe pouco esta teimosia de alguns em tentar denegrir o processo. O que pretendem? Que se decida em função do senso comum ou contrariando a evidência acumulada durante décadas de trabalho sério de milhares de cientistas?

4. É falso que só tenham sido analisados estudos anteriores a Maio de 2005. Basta verificar a literatura citada para encontrar vários estudos com datas de 2006 e 2007 (a dificuldade com estes últimos é que não estavam publicados quando o relatório foi escrito pelo que só os estudos não publicados, que eram do conhecimento dos autores do relatório [muitos de autoria própria ou de autoria de colegas] é que foram citados no relatório actual).

"A conferência sobre o clima de Bali foi destinada a conduzir o Mundo pelo caminho de uma restrição severa de CO2, ignorando as lições evidentes que se podem tirar do malogro do Protocolo de Quioto, o caos no mercado de transferências de CO2 estabelecido pela Europa e a ineficácia de outras iniciativas dispendiosas destinadas a reduzir as emissões de gases com efeito de estufa. Análises custo-benefício objectivas desacreditam a introdução de medidas globais destinadas a limitar e a reduzir o consumo de energia para reduzir as emissões de CO2.

Misturam-se alhos com bugalhos nesta afirmação, i.e., a necessidade de reduzir o CO2 com os mecanismos económicos e políticos para atingir o fim. Como os autores deste texto são contra os esforços de redução de CO2 compreende-se dificilmente que sejam entusiastas das medidas preconizadas pelos acordos internacionais que visam a redução deste gás na atmosfera. Depois criticam-se medidas globais, mas quais? O mercado de carbono, ou a taxa global sobre o carbono?

"Além disso, é irracional aplicar o “princípio da precaução” porque numerosos cientistas reconhecem que um arrefecimento ou um aquecimento são ambos procedentes e realistas para o clima a médio prazo."

A demagogia não tem limites. Mais uma vez não se qualifica o horizonte temporal. O que quer dizer médio prazo? O século 21? Se for, então a probabilidade de arrefecimento está calculada em menos de 1% e, pasme-se, seria resultado de um aquecimento do planeta mais acelerado do que o que é previsto pela maior parte dos modelos. Logo, nunca poderia servir de argumento para não procurar mitigar as alterações do clima mas sim como argumento para reforçar a urgência nesta mitigação.

"O esforço actual da ONU para “combater as alterações climáticas”, como é apresentado no Relatório sobre o Desenvolvimento Humano do Programa de Desenvolvimento da ONU, de 27 de Novembro de 2007, desvia a atenção dos governos para a ameaça de alterações climáticas inevitáveis sob as suas diferentes formas. É necessária a planificação nacional e internacional perante tais mudanças, ajudando prioritariamente os cidadãos mais vulneráveis a adaptar-se às condições futuras. Tentar impedir o clima de se alterar é fútil e constitui uma má e trágica aplicação de recursos que seriam bem melhor utilizados para resolver os problemas verdadeiros e mais prementes."

Os argumentos usam-se consoante a conveniência. Depois de se tentar demonstrar (sem qualquer tipo de dados) que o clima não está a mudar tenta-se convencer o leitor de que afinal não vale a pena tentar impedir a mudança. Estamos de acordo que a adaptação é essencial pois faça-se o que se fizer será inevitável vivermos num mundo mais quente nas próximas décadas. Mas um aumento de 1.6 graus tem consequências diferentes de um aumento global de 2.5 ou 4. E essas diferenças têm custos, monetários e de vidas humanas e não humanas, muito diferentes pelo que seria uma irresponsabilidade não considerar estas diferenças na planificação do nosso futuro.

13 comentários:

Anónimo disse...

Ainda se dá ao trabalho de responder ao Mitos Climáticos?

Depois de ter lido lá várias barbaridades, decidi enviar um mail com várias perguntas ao autor, muitas técnicas. Ele teve a habilidade de escrever algo sobre o assunto sem nunca me responder ou contra-dizer.

Fiquei esclarecido sobre o rigor científico e a abertura a opiniões diferentes e ao contraditório do senhor.

aeloy disse...

O meu velho amigo o anti clima Rui Moura é o mesmo que em final de 80 me dizia que no inicio do século XX iriamos ter mini centrais nucleares por todo o lado e que antes dizia que o nuclear soviètico era completamente seguro....
Agora entrou na brecha do clima.
Parabéns Miguel pelo teu trabalho em geral e este comentário.
Encontrei agora mesmo referencia a outro cientista português:
http://www.editonweb.com/Noticias/NoticiasDetalhe.aspx?nid=1471&editoria=2,
que me parece com interesse para este debate.
CC
AEloy

Manuel Rocha disse...

Um post tão longo tem o inconveniente de conduzir necessáriamente a comentários "contidos"

Muitas questões pertinetes, mas é preciso alguma cautela para não se contrariarem demagogias com outras demagogias. Fico no exemplo dos supostos beneficios para o terceiro mundo do negócio do carbono.

Depois de 12 anos no BM na área dos países ACP, sinto-me com autoridade suficiente para afirmar que se trata de uma santa ingenuidade :))

Tudo quanto mexa com milhões e com Terceiro Mundo, tem por beneficiários os do costume, o mais que pode acontecer é que mudem os intermediários...Veja-se a propósito o que já está em carteira em matéria de biocombustiveis...

Saudações.

Manuel Rocha disse...

Em complemento:

Esta carta seria sempre " um tiro no pé", mas a bem da cautela devida a qualquer lógica de "oportunidades globais", seria sensato que a inversão das lógicas económicas que se apontam para origem do fenómeno em questão, fossem implementadas antes de mais pelo que de per si já encerram de irracionalidade.
Explico-me.
Imagine-se que nos proximos anos o tempo se comporta de forma a contrariar as previsões climáticas apontadas( probabilidade significativa, certo ? ). Nesse caso com que credibilidade seriam encaradas as medidas agora preconizadas e que impactos dai decorreriam para a credibilidade futura de um argumentário pro-ambiental?
Esta estratégia de enfoque reforçado nas alterações climáticas e no aquecimento global a correr mal pode trazer prejuizos complicados às causas que os abraçaram ( por todos os ovos no mesmo cesto nunca foi boa ideia...).

Miguel B. Araujo disse...

Caro Manuel,

Ninguém diz que Quioto ou as políticas de mitigação das alterações climáticas vão resolver os problemas dos países em vias de desenvolvimento (não se tinha abandonado o conceito de Terceiro Mundo?).

O que se diz é o "business as usual" não vai resolver esses problemas, nem são as ditas políticas climáticas que o vão impedir (os biofueis são uma ironia amarga nesta questão).

Até ver houve sensibilidade, designadamente por parte da UE, para tentar envolver esses Países apesar de se saber que 1) contribuem pouco para as emissões totais; e 2) ser mais fácil resolver o problema num clube restricto dos mais poluidores.

Mas como estes Países estão entre os mais prejudicados pelas alterações climáticas seria politicamente pouco correcto (ainda que conveniente para alguns) mantê-los à margem do processo político.

Miguel B. Araujo disse...

Manuel, Respondendo ao seu segundo comentário:

1. As políticas preconizadas são na maior parte dos casos win-win, isto é ganha o clima e ganha a sociedade que se moderniza e anticipa o fim do petróleo (eu defendo que deveria ser win-win-win onde o terceiro win corresponde à biodiversidade). Foi isso que entenderam uma série de governadores de Estados americanos que independentemente de Quioto e da posição do actual presidente dos EUA já avançaram com investimentos em energias limpas e adoptaram metas de redução de emissões. Para os que souberem aproveitar oportunidades a revolução energética em curso abre mais oportunidades do que as que fecha.

2. Se se viesse a verificar que a ciência climática é uma fraude (probabilidade baixa) e que tudo isto não passa de um "hype" o movimento ambientalista estaria em maus lençóis e os cientistas climáticos teriam de pedir reforma anticipada. O reverso da medalha é que o futuro negro que se tem pintado seria mais rosa e o mundo teria saído deste hype mais preparado para quaisquer que fossem os desafios do futuro. Seria caso para dizer: Há males que vêem para bem.

Manuel Rocha disse...

Caro Miguel,

Dizia aí há tempos o Mia Couto que "não é mudando as palavras que se muda a realidade", e o homem tinha razão! Se preferir use o "em vias de...." que não é por isso que eles deixam de ser objecto de politicas de neo-colonialismo bem consolidadas....:))

Eu percebo as boas intenções e as preocupações éticas subjacentes à politica, mas convirá que olhando para a história recente dela se retiram fundadas dúvidas para questionar se tão "nobre" preocupação não levaria "água no bico"...:)

Afinal quem é que anda a gerir essas "carteiras" ?!

Manuel Rocha disse...

Última intervenção ( não quero ser acusado de monopólio )apenas para um reparo.

O seu pt 2 parte de um pressuposto ( fraude ) que eu não coloquei. A questão bastante para mim é esta: se o cenário está correcto mas não for verificavel no curto/ médio prazo ( probabilidade significativa ? ( pergunto )) não receia daí riscos para a sustentação de muito do argumentário ecológico ?

Dir-me-á que há outras frentes, e eu sei, mas hoje importa o que se mediatiza e nesse aspecto a "causa" está a dar o flanco ao permitir/colaborar no excesso de protagonismo de um problema entre muitos.

Fechei.
Obrigado e desculpas pelo abuso :)

Miguel B. Araujo disse...

Caro Manuel,

Respondendo à sua última pergunta:

"A questão bastante para mim é esta: se o cenário está correcto mas não for verificavel no curto/ médio prazo (probabilidade significativa? (pergunto) não receia daí riscos para a sustentação de muito do argumentário ecológico?"

Os modelos não são, obviamente, completamente verificáveis. Esta é uma contingência de modelos que são construídos para prever eventos que ocorrerão quando estivermos quase todos a fazer tijolo. Mas isto não quer dizer que componentes parciais dos modelos não tenham sido verificados (foram) ou que algumas previsões não tenham sido validades com dados independentres (paleo-validações, i.e., modelos projectados no passado e validados com dados do registo fóssil; ou constantes verificações entre projecções e modelos de curto prazo).

A verificação e validação de modelos é um problema científico sério. Claramente é um dos grandes desafios que temos pela frente.

Mas a questão que se coloca do ponto de vista do interface entre sociedade e ciência é: que fazer quando existe um consenso científico (que revela tendências relativamente estáveis entre modelos e modelos parcialmente verificados). Adopta-se uma postura de cepticismo militante, ou dá-se ouvidos à "melhor ciência" disponível?

O problema seria ainda mais grave se as medidas políticas necessárias para resolver o problema fossem caras e contra o ciclo tecnológico da nossa civilização. Mas nem sequer é o caso. A internalização de custos ambientais é algo que se defende há vários anos e a reconversão de uma economia baseada no petróleo por outra sustentada por uma mais variada gama de energias é irreversível.

Portanto estamos a falar de políticas que se tinham de tomar mais tarde ou mais cedo. A questão climática apenas lhe confere um grau de urgência!

Quanto ao movimento ambientalista... diga-se de passagem que aparte as campanhas medáticas que fazem não são eles os responsáveis pelo estado de alerta da sociedade em relação à questão climática. Se quer encontrar responsáveis terá de os procurar nas universidades e centros de investigação.

Anónimo disse...

m.b.a "As políticas preconizadas são na maior parte dos casos win-win, isto é ganha o clima e ganha a sociedade que se moderniza e anticipa o fim do petróleo(...)"
Está-se aqui a considerar a sociedade como humanidade.
Mesmo que a Humanidade ganhe como um todo no médio/longo prazo as acções seriam no curto prazo más para todos. Ex: energias renováveis são mais caras no momento presente do que o uso de combustíveis fósseis; a poupança de energia é obviamente "boa" no sentido de se ficar com mais recursos financeiros para outras opções... mas o que é que nos impede de gastarmos os nossos recuros monetários em ares condicionados?
E não devemos esquecer que a relação custo/benefício não é idêntica para todas as sociedades/regiões/latitudes assumindo a gravidade do AGW.

m.b.a "O problema seria ainda mais grave se as medidas políticas necessárias para resolver o problema fossem caras e contra o ciclo tecnológico da nossa civilização"
Quão caras/baratas?

Miguel B. Araujo disse...

O.L:
"Ex: energias renováveis são mais caras no momento presente do que o uso de combustíveis fósseis;"

Por quanto tempo é este raciocínio válido? Quanto custa não fazer nada hoje e deixar para amanhã o que poderamos ter feito ontem? Deve a sociedade/humanidade esperar ou agir de forma anticipada por forma a permitir uma adaptação mais suave às mudanças que são inevitáveis?

"mas o que é que nos impede de gastarmos os nossos recuros monetários em ares condicionados?"

Nada. Mas com o preço da energia a subir talvez valha mais a pena gastar o dinheiro na construção eficiente da sua casa ou remediar a má construção pondo portas e janelas com isolamento térmico. Eu coloquei ar condicionado e mudei as janelas. Foi mau investimento pois agora tenho o ar condicionado desligado. As janelas novas foram suficientes para melhorar o conforto térmico no verão! O próximo investimento serão paineis solares para aquecimento central no inverno.

Anónimo disse...

A afirmação "Depois de se tentar demonstrar (sem qualquer tipo de dados) que o clima não está a mudar" não é verdadeira.
De facto, afirma-se que o clima está a mudar, aliás, está a mudar sempre e desde sempre. O que está em causa aqui é saber se "está a mudar" por razões antropogénicas. E tal não foi inequivocamente comprovado.
Parece-me que o Miguel Araújo não é climatólogo, pelo que em última análise para si tudo isto se resume a uma questão de fé. Pense bem se os seus argumentos não estarão a mascarar fortes motivações emocionais.

Miguel B. Araujo disse...

Pois, não sou climatólogo mas:

1. Assino o que digo, logo as minhas motivações e posições históricas sobre este tema serão conhecidas de todos os interessados;

2. Trabalho em temas relacionados, i.e., não sou responsável pelos modelos climáticos mas uso-os no dia-a-dia tendo, para isso, que contactar com quem produz os ditos modelos;

3. Pelos motivos expostos em 2, vou tentando estar a par do que se escreve na literatura científica.

De resto a maior parte dos signatários da carta que critico neste "post" não são climatólogos. O autor do blogue que publica a carta por mim comentada também não e tenho em crer que o anónimo que escreve a nota anónima acima também não é pois caso contrário teria assinado a nota e teria dado argumentos de substância.

Portanto em matéria de motivações emocionais pessoais estamos conversados.