in Diário de Notícias, 26 de Julho de 2008, p.11
Por Aline Delgado, Arquitecta. Ex-dirigente da Quercus.
As Organizações Não Governamentais de Ambiente (ONGA), surgiram num ambiente descontraído, eram descentralizadas e marcadas por uma gestão informal. Organizavam-se em torno dos poucos recursos que tinham, com rectidão e transparência nas tomadas de posição.
Hoje, algumas ONGA, manifestam um comportamento profissional, o que implica um modelo de gestão, que ajude a preservar o estatuto de utilidade pública que, na maioria das vezes, possuem. A aura de romantismo que emanava das ONGA acabou. O valor dos associados perdeu expressão e foi substituído pelo pragmatismo.
Algumas, absorveram modelos de gestão existentes no mercado, como que empresas de prestação de serviços a quem outras empresas e o Governo recorre procurando "tranquilidade" para desenvolver alguns projectos mais "estruturantes e/ou problemáticos".
Mas afinal, o que é, e o que não é uma ONGA? O que é uma ONGA:
* serve a comunidade, realizando trabalho de promoção da cidadania e de defesa do ambiente;
*luta contra a exclusão e contribui para o fortalecimento do associativismo;
* incentiva a participação na formulação e implementação das políticas públicas.
O que não é:
* não é uma empresa, nem lhes deve fazer concorrência; .não é representativa de interesses pessoais;
*não é um partido político.
A falta de um modelo específico para as ONGA, leva a que algumas assumam uma gestão estratégica, que aposta na necessidade de ter competência e capacidade para sobreviver e garantir espaço político, ignorando outros valores.
O profissionalismo alterou o perfil de "mão-de-obra" das ONGA: aos velhos activistas voluntariosos não se juntam novos activistas, mas sim técnicos profissionalizados. Os ainda activistas, resumem-se a antigos sócios. Alguns, ocupam cargos de direcção desde sempre, o que lhes confere uma espécie de status de "dono". Tornam-se a cara da ONGA ou até do movimento ambientalista.
Não que não sejam importantes. O que não podem é desprezar novos sócios que chegam, interessados na problemática ambiental e que se entregam voluntariamente.
No movimento associativo, observei esforços para que se integrassem novos voluntários. Eu própria fiz alguns. Mas parece que não há espaço a novas caras, novos activistas.
As Olimpíadas do Ambiente. Concurso, de qualidade incomparável, levado a cabo pela Universidade Católica do Porto e Zoomarine em co-organização com a Quercus. Onde estão os vencedores? Qual a estratégia para os integrar no movimento ambientalista? Quem, melhor que a Quercus, poderá promover estes promissores activistas?
A permanência de algumas pessoas nos mandatos estáticos ou rotativos, a centralização do poder, conflitos de interesses entre cargos dirigentes e vínculos laborais, a falta de participação democrática e a falta de transparência na tomada de decisões, são situações que gostaria de ver debatidas e analisadas. Lembro que até há bem pouco tempo, os Municípios não tinham limitação de mandatos.
O que, embora tarde, acabou por ser alterado e ainda bem, no meu entender. Uma ONGA tem sempre de se pautar por decisões democráticas favorecendo o bem comum e só terá sucesso se às preocupações ambientais, souber aliar a solideriedade e respeito por todos aqueles que acreditam num ambiente melhor."
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6 comentários:
dividir para reinar... já dizia o JC.
a limitação de mandatos não faz sentido em ONGAs pequenas, onde nem todos os sócios têm perfil para liderar, mas cá me parece que esta proposta é só para ver se o FF sai da frente da Quercus antes que os associados morram todos desinteresse.
Os mandatos limitam-se com votos!!! Se querem sacar alguém da DIR da Quercus apresentem lista alternativa com apoio suficiente e talvez saquem de lá quem querem, isto porque concordo com o anónimo anterior "nem todos os sócios têm perfil para liderar" e limitar mandatos em associações não faz sentido nenhum...
SM
Desde há muito tempo que as PRINCIPAIS ONGA apenas servem para promover pessoalmente os seus dirigentes. Caso acabassem de vez a Natureza e a poluição, os toiros e os toureiros, as perdizes e os caçadores, os cães e os gatos, os ratos e o queijo, a floresta e os madeireiros, os bons e os maus, os gordos e os magros, os ricos e os pobres, os honestos e os corruptos agradeciam.
Ex-dirigentes de ONGA são hoje autarcas. Ex-autarcas são hoje dirigentes de ONGA. Ex-dirigentes de ONGA ganham dinheiro em estudos para projectos imobiliários. Fazedores de estudos para projectos imobiliários são hoje dirigentes de ONGA . Ex-dirigentes de ONGA ocupam "altos" cargos (por nomeação) na Administração Pública. E mais, muito mais...
Com o tacho em perspectiva, a luta pelo protagonismo dentro das ONGA é, evidentemente, hercúleo. Quem chega de novo é esmagado. A não ser que seja um sócio pagador de cotas: neste caso é bem vindo - mesmo que pague apenas o primeiro mês fica registado para o resto da vida. Quantos sócios PAGAM cotas nas "grandes" ONGA?
Actualmente os subalternos lembram os jovens cucos. Com dinheiro de projectos a entrar em barda (sócios pagarem cotas? para quê?!) há que afastar os manos.
"trrim-trrim...Estou? boa-tarde Senhor Secretário de Estado. Apenas para o avisar que provavelmente avançaremos com uma queixa contra o Estado Português nas instâncias comunitárias. No mínimo, meia página com foto vai sair no Público a propósito do atentado ambiental em...Como? O Grande Projecto de Recuperação do Habitat do Tigre Dente de Sabre foi aprovado? ... A verba já foi desbloqueada?...Claro!... V. Exa. sabe que não temos nenhum interesse em denegrir o actual Governo nem o Estado Português...Não prometo nada mas vou fazer os possiveis. Quanto ao Público os senhores tratam disso? Claro que podem dizer que fomos mal informados. Vamos também já enviar um fax a referir fontes mal-intencionadas e pedir a anulação da notícia ...Mas diga-me V. Exa., a verba foi mesmo desbloqueada?"
A Quercus e as restantes ONGA estão muito bem adaptadas ao meio em que vivem, de tal forma que sem capitalismo e subsídios extinguiam-se...
Há uns anos atrás num projecto industrial (estes sim, em risco de extinção em Portugal) em que estive envolvido, fomos «melgados» por uma destas beneméritas e altruístas ONGA, em que assim que o seu principal dirigente recebeu uma empreitada de construção civil, passou a portar-se como o Zé Sá Fernandes em Lisboa: desapareceu...
Como diz um amigo empresário: «todos os burros comem palha».
A Aline tem razão. O problema é estrutural e nem é exclusivo das ONGAs. Também nos partidos, nas ONGs, nos sindicatos, etc., vemos sempre as mesmas caras na direcção. A rotatividade é um pilar básico da democracia, mas claro que nunca será assegurada quando existirem interesses pessoais pelo meio, mais ou menos ocultos.
1 nota: porque é que toda a gente escreve os seus comentários sem assinar? Será que há razão para ter medo de dar o nome (e a cara)?
há razão amigo... se não sabes andas a dormir
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