domingo, março 29, 2009

Invasoras


Pela sua relevância retomo aqui um comentário a este post e uso a caixa de comentários para continuar a resposta.

"De tudo o que já foi escrito a respeito do "grande invasor", concordamos com algumas coisas e discordamos de outras. Não pretendemos listar aquilo com que concordamos ou discordamos mas uma vez que nos foi dado conhecimento deste texto, entendemos ser nossa obrigação enviar um contributo para a discussão do tema.
Trabalhamos desde há alguns anos com plantas invasoras e somos co-autoras do "site português" referido, do qual a Prof. Helena Freitas é coordenadora.
Em nossa opinião, a questão do eucalipto precisa de ser discutida com abertura, encarando todas as possibilidades...HÁ ALGUNS ANOS, quando nos perguntavam se o eucalipto (Eucalyptus globulus Labill.) deveria ser considerado uma espécie invasora, não respondíamos "claro que não, essa hipótese é um disparate absurdo", mas quase! Em boa verdade, só não considerávamos "um disparate absurdo" por termos em conta o historial da espécie como invasora em regiões de clima mediterrânico.
Mas explicávamos que uma espécie exótica não é sinónimo de espécie invasora e que o facto de vermos eucaliptos ocupando grandes extensões de território no nosso país nada tinha a ver com a capacidade da espécie dispersar pelos seus próprios meios, mas sim com a (discutível) opção de a plantarmos em larga escala.
Usávamos, então, o eucalipto como exemplo de uma espécie exótica que não era invasora em Portugal.
No entanto, HOJE, não temos a mesma opinião!Defendemos, com base em estudos realizados noutros locais e nas observações que temos feito que o eucalipto tem actualmente um comportamento invasor no nosso país (em semelhança do que se passa em várias outras regiões de Clima Mediterrânico, e.g. Califórnia e Chile). Eventualmente, a terminologia que se usa na comunicação deste tema está na base de muitas confusões, pelo que esclarecemos desde já o que entendemos por espécie invasora:
espécie exótica que produz descendentes férteis frequentemente em grande quantidade e os dispersa muito para além da planta-mãe, sem intervenção directa do Homem, e com potencial para ocupar áreas extensas, em habitats naturais ou semi-naturais.

Tanto quanto sabemos, em relação ao eucalipto, não existem ainda estudos em Portugal publicados que verifiquem detalhadamente cada um destes aspectos. Fundamentamos portanto a nossa análise nas características da espécie e nas observações efectuadas em diversas situações no nosso país (e.g. Tapada Nacional de Mafra; várias localizações ao longo da A1 e ao longo da Estrada da Beira, EN-17/margens do Rio Ceira; partes da Serra da Boa Viagem, Fig. Foz), a saber:
1) o eucalipto é uma espécie exótica;
2) produz sementes em grandes quantidades (o que se tem vindo a acentuar com algum abandono verificado e alteração dos ciclos de corte) e regenera vigorosamente de touça
3) as sementes são dispersas para além da planta-mãe (como atinge alturas elevadas consegue dispersar sementes para muito longe), sem intervenção directa do Homem, originando novas plantas
4) tem potencial para ocupar áreas extensas no futuro (associando a capacidade de dispersão às extensas áreas onde está plantado)
5) ocorre, por vezes, a regenerar em habitats semi-naturais a alguma distância das plantas-mãe, impedindo o desenvolvimento de outra vegetação.
6) há zonas onde estão a (tentar) controlar o eucalipto, obtendo-se níveis altos de regeneração (re-invasão) posterior e baixos graus de sucesso (tanto devido à germinação como à regeneração vegetativa - equivalente ao que ocorre com a mimosa).
Não creio que alguém tenha dito que o eucalipto vai ser listado como invasor na nossa legislação - faz(ia) apenas parte de uma PROPOSTA que está para discussão pública - e, quanto a nós, a discussão pública sobre esta proposta é muito necessária! Questionamo-nos portanto porque é que uma proposta (que cremos fosse só isso) terá sido alterada antes de passar da fase de proposta... muitas outras alterações serão ainda com certeza introduzidas.
Acreditamos que o eucalipto não deva ser tratado na legislação da mesma forma que as acácias - não por considerar que tem menos capacidade de invadir (já observamos situações de regeneração em que há competição entre acácia-de-espigas e eucalipto e em que o eucalipto domina), mas por reconhecermos que qualquer análise tem que ter em conta o aproveitamento económico que tem no nosso pais. No entanto, essa posição não significa "mascarar" o comportamento INVASOR que o eucalipto, na nossa opinião, está actualmente está a ter.
Talvez a presente proposta de dec. lei sobre esta matéria pudesse incluir uma distinção entre grupos de espécies com comportamento invasor, considerando o controlo de umas e a contenção/exploração controlada de outras - caso contrário, arriscamo-nos a que as gerações futuras (ou ainda a nossa) tenham que vir a lidar com o eucalipto (ou outras espécies) como actualmente lidamos com as mimosas!
Elizabete e Hélia Marchante
PS1. Por curiosidade, e para quem não conhece, sugerimos uma visita ao Concelho de Vila de Rei certamente que pode influenciar opiniões sobre a perigosidade das háquea-picante.
PS2. Não podemos deixar de referir a nossa total concordância pela opinião já expressa de que a grande aposta deve ser a informação e a educação (até mais do que a legislação...)
PS3. Tanto quanto sabemos, também não há nenhum estudo que prove que o eucalipto não é invasor em Portugal."

3 comentários:

Henrique Pereira dos Santos disse...

Começo pela última ideia: não há nenhum estudo em Portugal que prove que o eucalipto não é invasor em Portugal.
Provavelmente é verdade. Como provavelmente também é verdade que não haverá nenhum estudo em Portugal que prove que a chuva cai.
E no entanto...
O problema começa na definição de invasora usada.
Em primeiro lugar é uma definição que usa conceitos que dizem muito pouco sobre o carácter invasor de uma espécie.
Por exemplo, dizer "as sementes são dispersas para além da planta-mãe" deve englobar todas as plantas viáveis do mundo ou perto disso.
Dizer que produz sementes em grande quantidade (não dizcutindo o que quer dizer em grande quantidade) pode ser muito menos relevante que discutir o tempo em que a semente mantém a viabilidade (dois três anos no eucalipto, dezenas de anos nas mimosas).
Mas o mais relevante é "tem potencial para ocupar áreas extensas no futuro", um conceito fuido, interpretativo e sem acrescentar o essencial, "sem intervenção humana".
No caso do eucalitpo, e poderia acrescentar a tilia cordata, a thuya, a olaia e muitas outras que aparecem nos anexos, eu tenho as maiores dúvidas de que o eucalipto tenha a capacidade de ocupar áreas extensas sem intervenção humana. O facto é que o eucalitpo está em Portugal há 200 anos, mais coisa, menos coisa e nunca ouvi referências a qualquer invasão sem intervenção humana. Dispersão lenta, sim, com certeza, facilmente controlável, sim, sem dúvida.
O que há é regeneração intensa de áreas de eucalipto após fogo mas comparar esta regeneração com a da acácia ou mesmo da hakea parece-me manifestamente exagerado.
Daí a relevância deste ponto:
" há zonas onde estão a (tentar) controlar o eucalipto, obtendo-se níveis altos de regeneração (re-invasão) posterior e baixos graus de sucesso (tanto devido à germinação como à regeneração vegetativa - equivalente ao que ocorre com a mimosa)."
Regeneração vegetativa semelhante à da mimosa? Baixos niveis de sucesso no controlo do eucalipto?
Onde, quando, como? Respondam a estas perguntas por favor porque eu quero ir ver e ser convencido.
Quanto às referências invasoras noutros países, se forem como estas, fazem parte da lógica de produção académica de informação: alguém diz uma coisa que vagamente tem alguma probabilidade de ser verdade, alguém cita noutro país, um terceiro cita no terceiro e ao fim de meia dúzia de anos o primeiro confirma o que tinha posto como hipótese com base na quantidade de citações que existem noutros países.
Trata-se de um processo endogâmico de progressivo desfasamento entre a realidade académica e a realidade real que ou morre por si, dada a sua inutilidade, ou tem um efeito social concreto, como neste caso (ou a da regulamentação das eólicas) que obriga os prejudicados a reajir, fazer uma avaliação global da realidade real que retoma a sua prevalência face à realidade académica.
henrique pereira dos santos

Anónimo disse...

Com setecentos mil hectares de área cultivada (é uma espécie cultivada!) nos últimos cento e vinte anos e não existe qualquer estudo sobre se é ou não invasora? Não será isso mesmo uma resposta?
E estudos sobre o caracter invasor do pinheiro bravo? E de tudo o que regenera por semente?
Parece-me que "as sábias" se esquecem que para ser invasor o eucalipto teria de ter caracter de "praga". Ora todos nós sabemos como é fácil arrancar um eucaliptal e no seu lugar plantar vinhas e pomares (os exemplos são muito abundantes).
Deixem-se de misturar ideologia com ciência!

Anónimo disse...

Quando as senhoras "investigadoras" vêm dizer que acham mal que numa proposta de DL do ICNB o eucalipto seja classificado de "invasor", depois de o terem classificado como tal no seu site, apenas estão a dar razão a um dito muito conhecido:
"Por mais estúpida que seja uma ideia há sempre alguém mais estúpido que vai atrás dela!".