domingo, junho 07, 2009

No País do faz de conta

Portugal tem um problema de gestão do fogo que resulta da energia barata e das políticas erradas para o mundo rural (basicamente, a separação que os teóricos da produtividade agrícola inventaram entre actividade agrícola e exploração do monte, potenciada pela cegueira do uso florestal do monte em detrimento da pastorícia).
Para fazer de conta que se resolvia este problema de gestão do território fez-se uma lei de limpeza da floresta.
Vejo hoje no Público o seguimento desta fábula: José Alberto Quartau faz um artigo de opinião, que uma revista científica publica e que o Público leva a sério, advertindo que os insectos estão em perigo por causa da lei da limpeza da florestas.
Que a realidade se esteja nas tintas para tudo isto, acumulando cada vez mais combustível no monte abandonado é irrelevante para quem resolveu o problema com uma lei, para quem acha que os insectos lêem o diário da república e portanto se importam com leis e para quem divulga o gravíssimo problema para os insectos provocado pelo facto das florestas estarem legalmente limpas.
Que neste processo ninguém se lembre de dizer que o rei vai nu é uma boa demonstração de como vivemos num país de faz de conta.
Talvez por isso lembrei-me disto enquanto lia sobre o gravíssimo problema dos insectos que correm riscos por causa da lei:
"Por isso eram teus olhos misericordiosos,
por isso era teu coração cheio de piedade,
piedade pelos homens que não precisam de sofrer, homens ditosos
a quem Deus dispensou de buscar a verdade.
Por isso estoicamente, mansamente,
resististe a todas as torturas,
a todas as angústias, a todos os contratempos,
enquanto eles, do alto incessível das suas alturas,
foram caindo,
caindo,
caindo,
caindo,
caindo sempre,
e sempre,
ininterruptamente,
na razão directa do quadrado dos tempos."
Para ouvir integralmente podem sempre dar aqui um salto


henrique pereira dos santos

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