segunda-feira, julho 20, 2009

Silly em qualquer estação


Em verdade se diga que o mais silly é mesmo o jornalista que faz estes três parágrafos (salva-se o último que dá alguma esperança de que o discurso ecológico sobre os fogos se vá alterando à medida que a realidade se impõe ao preconceito).

henrique pereira dos santos

"QUERCUS SUSPEITA DE INTERESSES IMOBILIÁRIOS
A Quercus suspeita de que haja interesses imobiliários por detrás do incêndio que destruiu mais de cem hectares de floresta na Herdade da Apostiça, em Sesimbra. "Sabemos que as zonas ainda verdes de Seixal e Almada são muito apetecidas e há muitos anos que existem interesses de urbanização na zona ardida", diz ao CM Carla Graça, presidente do núcleo de Setúbal da associação ambientalista, frisando não poder "apontar nada de específico". De qualquer forma, o CM sabe que a PJ de Setúbal está atenta aos fogos na Margem Sul.
Recorde-se que em 2003, quando Isaltino Morais era ministro das Cidades, Ordenamento do Território e Ambiente, esteve para nascer na Mata de Sesimbra um megaprojecto imobiliário de 5200 hectares. O projecto da Pelicano previa investimentos de 800 milhões de euros em vários aldeamentos turísticos com capacidade para trinta mil pessoas. Foi o actual Governo que em 2007 chumbou o plano.
Quanto ao impacto ecológico do incêndio, a dirigente da Quercus desdramatiza. "Os incêndios fazem parte do clima mediterrânico e a vegetação regenera-se. Não é um desastre ecológico, mas coloca questões ao nível da gestão florestal", diz, apontando "problemas clássicos" como "perímetros urbanos mal definidos, com o mato a entrar em casas das pessoas"."

4 comentários:

Nuno Ribeiro disse...

A classificação dos fogos florestais como desastres ambientais, quando não está em causa a perda de património irrecuperável, é intrínseca á evolução e natureza da sua recuperação.
Esta pode assumir-se como uma ocorrência espontânea mas sem acompanhamento como saber o que de facto caracteriza as recuperações em Portugal? Ficaram mais vulneráveis á construção (como aqui se suspeita) ou a monoculturas intensivas?

Julgo que importa salientar a natureza (inclusive a espontânea) e planeamento do incêndio, se existir (são todos iguais?). Corre-se o risco de desvalorização do impacto do fogo posto de origem criminosa ou do aparecimento de uma ideia errónea de permissividade ou de indiferença.

Quanto á avaliação dos impactos ambientais, importa, como me chamou a atenção anteriormente (na interpretação dos fogos de 98, 03 e 05 como "todos"), não generalizar dada a complexidade de cada caso específico e a necessidade de uma avaliação interdisciplinar de todas as condições afectadas.

Parece que discussões anteriores no blogue denunciam a falta de informação acessível (quando existente) tanto a leigos como eu como mesmo a autores e intervenientes no blogue que pertencem a áreas relacionadas com o ambiente e que levam a debates inconclusivos.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Caro Nuno Ribeiro,
Há de facto bastantes estudos sobre evolução após fogo (incluindo alguns acessiveis escolhendo palavras chave no google) que apontam para uma esmagadora maioria de resultados conclusivos bastante tranquilizantes, o que não significa que em situações particulares essas conclusões gerais possam não se verificar.
Este aspecto é especialmente relevante para definir prioridades e opções de intervenção sobreo território.
Coisa diferente é falar de interesses imobiliários a propósito de projectos aprovados e quando existe legislação que dificulta a sua concretização após fogos. E dizer, como diz o jornalista, que o projecto foi travado, coisa que para mim é novidade, mas admito que seja eu que esteja mal informado. Mesmo que assim seja não se percebe a relação do segundo parágrafo com os outros dois.
henrique pereira dos santos

Carla Graça disse...

O Henrique tem aqui alguma razão na confusão que o segundo parágrafo induz no texto.
Quando dei a entrevista ao jornalista, apenas mencionei um conhecimento difuso de que haveria interesses imobiliários na zona. Também referi que o principal problema se deve à forma como é feita a gestão florestal e o ordenamento do território.
Mencionei especificamente a legislação que impede a construção após incêndio, mas como não a tinha muito presente, aconselhei-o a fazer uma pesquisa sobre o assunto.
A inclusão do nome do ex-Ministro Isaltino Morais e do projecto da Mata de Sesimbra são iniciativas do próprio jornalista, uma vez que nunca me referi a nenhum deles.
E, por fim, a noticia tem obviamente um erro factual. O projecto da Mata de Sesimbra não foi travado, muito pelo contrário, pois o seu Estudo de Impacte Ambiental encontra-se neste preciso momento em consulta pública.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Carla,
Já vou percebendo como estas coisas são. O que aconteceu foi que vi uma chamada de primeira página no jornal e depois procurei no google as palavras chave.
Quando li a notícia fiquei com a sensação de que o que tinha sido verdadeiramente silly era a forma de tratar a informação.
Obrigado pelos esclarecimentos.
henrique pereira dos santos