O projecto escola na natureza é um projecto pelo qual tenho carinho. Não exactamente por ter trabalhado nele mas por me parecer um projecto consistente para conciliar a nação com as suas áreas protegidas e por ter um potencial de investimento multiplicativo no interior.
Pelas contas que fiz na altura 10 milhões anuais eram suficientes para o pôr a funcionar.
Destes 5 milhões seriam facilmente mobilizáveis pelas famílias, e não sei quanto mais mobilizáveis com mecenato porque o projecto tem muito good will.
Tentei perceber quanto custou esta história dos magalhães.
Não consegui saber com exactidão, mas vi números por volta dos 80 milhões.
Vamos então admitir que custou 50 milhões e que os computadores duram cinco anos (a coisa não é bem assim, mas enfim...).
Ou seja, custa os mesmos 10 milhões anuais que a escola na natureza.
A opção por um ou outro projecto é pois de natureza eminentemente política (estou a considerar uma hipótese em que não acredito, a de que é preciso optar entre uma ou outra opção).
Quer do ponto de vista educativo, quer do ponto de vista da equidade territorial, quer do ponto de vista do uso do papel do Estado na correcção das assimetrias e falhas de mercado as duas apostas têm consequências bem diferentes.
Não falo sequer da capacidade de uma e outra serem mal usadas, com muito maior risco para o Magalhães, da capacidade de um e outra mobilizarem socialmente o país, com muitas vantagens para a Escola na Natureza.
Haverá vantagens de desenvolvimento tecnológico global do país que por outro lado são facilmente identificadas como melhores e maiores para o lado dos magalhães.
Mas o que me interessa sublinhar que dar um computador (ou ensinar inglês) a todas as crianças é considerado uma prioridade nacional de qualificação dos recursos humanos do país, mas usar as áreas protegidas como recurso educacional e levar todas as crianças do país a ter pelo menos uma vez a oportunidade de ter uma experiência positiva de relação com o património natural do país não é considerado relevante.
Isto demonstra facilmente a posição que a gestão do património natural tem nas prioridades políticas do país.
Não porque os políticos sejam uns malandros mas porque todos nós (ou melhor, nós todos, em conjunto) atribuímos, nas nossas decisões práticas quotidianas, quase zero ao valor desse património.
henrique pereira dos santos
1 comentário:
Caro Henrique
Apenas quero deixar a informação sobre um projecto intitulado “À descoberta da Águia-caçadeira” que, ambiciosamente, pretende dar utilidade aos computadores do programa e-escola, à aprendizagem do Inglês e de outras línguas estrangeiras e, sobretudo, aproximar professores, alunos e agricultores.
Como deves imaginar, este projecto não dispõe de um orçamento de 10 milhões de euros nem de uma equipa coordenadora altamente qualificada. Mas de uma forma mais modesta, irá propor-se a alunos de Évora e de Castro Verde para pesquisarem informação, produzirem textos, ilustrações e dramatizações, partilharem conteúdos em rede e colocarem os seus trabalhos na Internet. Está igualmente prevista a presença de agricultores na escola e a visitação de áreas de nidificação pelos alunos.
Espero que desta forma seja destacada a importância das culturas de sequeiro para a conservação da biodiversidade a elas associada, algo que tem sido pouco valorizado pelos ministérios da agricultura e do ambiente.
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