As reacções ao meu post anterior, quer aqui no blog, quer em alguns mails privados, quer ainda na lista de discussão associada, surpreenderam-me bastante porque seguem todas a mesma argumentação: os sapadores são muito úteis e é inacreditável que eu os ponha em causa.
Curiosamente o meu post faz apenas uma coisa simples: isola uma das funções dos sapadores (a de gestão de combustível) e compara os custos de obter os resultados pretendidos com sapadores e com cabras.
As conclusões são de tal maneira claras que eu próprio digo que as contas devem estar erradas algures.
Pois os gestores e amigos dos sapadores (e eu também acho os sapadores úteis, embora gostasse de redefinir e requalificar as suas funções) em vez de explicarem a racionalidade de usar sapadores nessa função (e exclusivamente nessa função), limitam-se a dizer que são muito úteis.
Nem uma palavra sobre a racionalidade orçamental associada a essa opção.
Como é comum em Portugal dificilmente se questiona a racionalidade no uso do dinheiro público, nomeadamente se as soluções em uso são as mais eficientes para obter os mesmos resultados, bastando que um determinado gasto de dinheiro tenha alguma utilidade para que seja um sacrilégio perguntar se não podia ser mais bem usado.
Não admira, é assim na discussão dos sistema de saúde, é assim no ensino, é assim nos apoios às renováveis e por aí fora.
No fundo toda a gente acha que o dinheiro do Estado é um dado adquirido e não uma parcela do seu próprio rendidmento (e muito menos se lembra que é também uma parcela do rendimento dos mais pobres).
Por isso a preocupação de toda a gente parece ser perguntar quanto me toca a mim (ou à minha associação, ou ao meu clube, ou ao meu problema) e muito raramente a de perguntar qual é o uso mais eficiente para obter o resultado que se pretende.
Só isso explica que as organizações mais abertas a avaliar resultados e experimentar novas soluções para problemas velhos acabem por ser as empresas, que levam depois o Estado por arrasto.
Talvez porque nas empresas o dinheiro não nasce do trabalho dos outros.
henrique pereira dos santos
2 comentários:
Sei que os sapadores desempenhem outras funções para além daslimpezas do mato. Não questiono que são úteis para a primeira intervenção, detecção, informação das populações etc.
Foi referido aqui que acabar com os sapadores ( solução que não defendo, não em absoluto) seria eliminar postos de trabalho etc.
Há que ver também o reverso da medalha. O Estado em financiar os sapadores ( em parte, pelo menos) introduziu uma distorção no mercado que pode muito bem ter acabado com postos de trabalho em empresas prestadoras de serviços, que não tinham subsídios e que para além disso pagavam impostos.
Ana P. Dias
Não desvalorizando as outras funções que os sapadores florestais cumprem gostaria que considerassem o que é visto como um programa efectivo de gestão de combustíveis:
1. A localização das áreas de intervenção é estratégica, resultando numa organização espacial de faixas/mosaicos tratados que se sobrepõem parcialmente numa determinada direcção.
2. A limitação da propagação de um incêndio na paisagem exige um mínimo de 20% de área tratada efectiva (sendo a área tratada efectiva aquela que permite a extinção de um fogo com meios de combate terrestres em situação meteorológica extrema) [em Portugal o combate não aproveita a existência destas áreas, mas isso é outra história...]
3. De acordo com umas contas que fiz há uns anos o ponto 2 exigiria tratar anualmente 7% ou 4% de uma determinada área, consoante estejamos a falar de pinhal ou de matos. No caso do tratamento ser feito com fogo controlado, e usando a produtividades típica de queima em Portugal, seria necessária 1 equipa de sapadores (mais 1 técnico florestal) por cada 1700 ha de pinhal ou por cada 9000 ha de matos.
Agora comparem o que está acima exposto com aquilo que os sapadores florestais realmente executam no terreno. Será outra coisa qualquer (trabalho de cantoneiro é o que me ocorre mas facilmente) mas não é silvicultura preventiva, uma vez que não incide na massa florestal (apenas na sua orla) e como tal não previne coisa nenhuma.
Paulo Fernandes
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