sábado, setembro 12, 2009

Tendências

Está a chegar ao fim mais um verão, época por excelência para férias e turismo. Se bem que o momento não seja economicamente muito propício para grandes aventuras, faço parte daqueles que continuam a poder desfrutar de umas férias agradáveis pelos Algarves.

Aliás, os números provisórios mostram que a contracção turística, quer no país, quer globalmente, não foi significativa, se tivermos em conta a crise que atravessamos (segundo o World Travel & Tourism Council temos uma queda de ~6% de Agosto 2008 a Agosto 2009 em chegadas de visitantes overnight, o que quer dizer que mesmo no pico desta crise o Turismo não foi muito afectado).

Assim, este ano mais uma vez cheguei ao fim de férias com um sentimento misto de satisfação e alívio. Satisfação por ter revisto amigos, por ter estado com a família duma forma mais despreocupada e ter tido a possibilidade de fruir Tavira, um dos locais mais agradáveis a sul. Alívio, por acabar com as filas para tudo e mais alguma coisa e com ver gente a mais em todo o lado.

Penso que este sentimento é partilhado por muitos daqueles que se deslocam para estas paragens e claramente contraditório à aspiração de muitos dos residentes, que continuam a ver esta época, e a quantidade de visitantes que ela proporciona, como essencial à formação do seu rendimento. Esta situação não é única e por todo o mundo encontramos cada vez mais locais idílicos e fascinantes em brochuras ou em sites, mas quando lá chegamos são autênticos pesadelos, tal é a pressão turística sobre eles.

Esta realidade não é nova e está presente por todo o mundo. Ainda no mês passado vimos na televisão milhares de pessoas no aeroporto de Santiago do Chile completamente furiosas por o governo Chileno ter decidido vedar o acesso de turistas à ilha da Páscoa devido a esta estar completamente superlotada de visitantes. E o que dizer do Município de Veneza, que planeia restringir o fluxo diário de turistas e obrigar aqueles que pretendem visitar a cidade a fazer uma pré-reserva (e adquirir bilhete de ingresso) a fim de gerir a massa de turistas que nesta época a pretendem visitar diariamente. Este mesmo problema de turismo de “hiper massas” encontramo-lo em Londres, no Egipto, no Nepal ou em qualquer outro hotspot turístico.

E se esta é a situação actual, imagine-se o que será o futuro depois da crise quando as economias em crescimento como a Índia e o Brasil, mas muito em particular a China, começarem a viajar. Só o governo chinês espera passar em dez anos dos actuais 48.5 milhões de saídas em turismo para perto de 400 milhões, considerando razoável que uma percentagem de 10 % seja destinada à Europa. A pressão que esta massa de gente fará sobre o “museu do mundo” que é a Europa é ainda de difícil percepção.

Ora, esta situação torna mais evidente o que já hoje é considerado fundamental na formação de qualquer pacote turístico. A necessidade de diversificação ao longo do período de estadia (excepto para aqueles produtos de estadia curta que apresentam um objecto único ou esmagadoramente maioritário como pode ser o caso do golf, do turismo de negócios ou do city break) com a constituição de fugas que permitam o alongamento do pacote deslocando o turista ao longo do território para outras zonas de menor intensidade turística.

Em Portugal, o Turismo é, como se sabe, fundamental à constituição de riqueza no país e será nos próximos anos uma das únicas indústrias (a par com a grande distribuição/retalho) com capacidade significativa para gerar emprego. Assim, vai ser essencial criar produtos de complemento que satisfaçam esta necessidade e garantam um ordenamento mínimo desta actividade económica.

Portugal apresenta algumas dificuldades para criar estes “programas de fuga” ao produto turístico do Algarve ou de Lisboa. O património cultural edificado de relevo restringe-se a Lisboa e ao Oeste (zona dos mosteiros) e quanto ao património natural (no âmbito da paisagem) não encontramos muitas áreas que se possam afirmar como significativas ao nível europeu, embora se possam encontrar nas Áreas Protegidas nacionais possibilidades que poderão e deverão ser exploradas.

Contudo, esta tendência vem colocar na ordem do dia um dos desafios fundamentais à gestão dos nossos Parques Naturais e Nacional; como disponibilizar um espaço ambiental de referência identitária de Portugal e ao mesmo tempo garantir receitas que mantenham esse espaço em condições decentes para aquilo que são as referências europeias destes territórios. Tendência, que é ao mesmo tempo uma ameaça e uma oportunidade para repensar a gestão dos Parque nacionais e para integrar o ecoturismo e o turismo de massas mantendo as devidas especificidades e conseguindo eventualmente obstar a muitos dos problemas que estes dois tipos de turismo apresentam.

9 comentários:

Armando Alves disse...

Caro João,

Parece-me há um lapso importante:

"Portugal apresenta algumas dificuldades para criar estes “programas de fuga” ao produto turístico do Algarve ou de Lisboa. O património cultural edificado de relevo restringe-se a Lisboa e ao Oeste"

Bem Portugal não é só Lisboa e arredores e Algarve.. o norte do país, e dou o exemplo do Porto, tem patrinómio cultural muito significativo e se falarmos de cultura menos main stream, actualmente supera largamente Lisboa. No norte a diversidade paisagística do Minho e de Trás-os-montes é bastante interessante a nível ibérico. Não se esqueça que o único parque nacional português encontra-se bem lá no norte.

No entanto concordo com o que disse, só queria mesmo corrigir que Portugal tem vida de Lisboa para cima.

cumprimentos

AAA

Coveiro de Portugal disse...

Ibéria, a Salvação de Portugal

Este blooge se destina a abrir os corações e mentes dos Portugueses, sobre as vantagens de se ter uma monarquia iberica moderna a mandar em nossos destinos.
Esta mais que provado há mais de dois mil anos que não sabemos nos governar ( já diziam os romanos ….. ).
Já agora mudamos de vez, passamos a dar vivas ao Rei Juan Carlos de Borbon, verão que ficaremos muito melhor servidos.

Viva o Rei de Espanha Juan Carlos de Borbon

Este é o nosso futuro chefe de estado, nosso Rei Juan Carlos de Borbon.

Portugal esta entregue aos bichos e maricas.

Temos uma oportunidade única, acabar com o estado Portugues, e nos tornarmos em uma provincia do GLORIOSO REINO DE ESPANA.

Nunca deveriamos ter nos tornado em País, maldito seja DOM AFONSO HENRIQUES até aos quintos dos infernos.

Quero aqui deixar meu repto; abandonemos a nacionalidade portuguesa e no transformemos em ESPANHOIS ORGULHOSOS.

Bem haja a todos.

Coveiro de Portugal

iberiaportugalespanha.blogspot.com

rui disse...

"ver gente a mais em todo o lado".
penso que esta frase resume grande parte do problema.
é que todo e qualquer um dos indivíduos que constituem a massa de "gente a mais" pensa exactamente como nós.

Anónimo disse...

Não estou nada de acordo que Portugal tem dificuldade em propor um turismo alternativo. Ainda este ano passei em Agosto pela zona do Alva, com aldeias atras de aldeias com praias fluviais extremamente agradaveis e bem cuidadas, mesmo no centro, e praticamente vazias. Para uma parte substancial da Europa, isso é um sonho inatingivel.

IsabelPS

João Menezes disse...

Meus caros, estamos de acordo mas o ponto é como constituir produtos turísticos que permitam integrar o ecoturismo e o turismo de massas.

rui disse...

Será possível integrar ecoturismo e "turismo de massas"?
Pela ordem natural das coisas o turismo de massas está associado a "turismo barato" embora o inverso não seja necessariamente verdadeiro: Enquanto um determinado destino não é divulgado, pode ser usufruido pelos escassos conhecedores com grande prazer e a custos muito baixos, sobretudo se admitirmos que hoje existe uma sensibilidade muito maior para usufruir conservando.
JUulgo que é muito dificil haver hoje condições para conjugar eco turismo com turismo de massas. É quase uma contradição nos termos.
Digo isto com a secreta esperança de ouvir um "contraditório".
Neste Verão apercebi-me que tem havido um esforço grande do ICNB (penso que é essa a entidade responsável) para disciplinar o acesso a determinadas zonas da costa, particularmente da costa vicentina, permitindo simultaneamente o usufruto dessas zonas a grande numero de pessoas. Mas lá está, eu fui um dos tipos que foram lá ver a maravilhosa paisagem e foi por causa de mim e de milhões de outros, muitos deles lamentando que "isto já não é o que era, deixaram destruir tudo, isto era bonito era quando era selvagem quando eu vinha para aqui com os meus amigos e era só uns pescadores e uns alemães com umas carrinhas a cair de podres" que foi preciso construir aquelas passadiços sobre elevados, etc...
É por issso que hoje em dia acho inconscientes as pessoas que se preocupam com quase avidez em "revelar" o cantinho "exclusivo" que conhecem, insuportáveis (criminosos...) os artigos de jornais e revistas de início de verão espiolhando com detalhe histérico o "segredo mais bem guardado" desta ou daquela costa... garantindo que passados dias a afluência de leitores atentos à procura do "isolamento" atravanca o local.

Henk Feith disse...

Caro João,

Hoje resolvi festejar o meu aniversário com uma visita em família às Berlengas, onde já não ia há 15 anos.

O que vi, para além dos procurados cagarras, falcão-peregrino, pardelas, uma skua perdida, gansos-patola, lagartixas etc, foram sobretudo pessoas, muitas pessoas. Centenas de pessoas, de todos as formas e feitios. Desde famílias de província com farnel à costas, merguladores, hippies a procura de algo, fotógrafos e passarólogos a procura de outras coisas, nacionais, estrangeiros, malta da cidade, jovens, velhos (muitos! e a percorrer, com esforço, os famosos trezentos e tal degraus até o forte de São João de Batista). Vi só uma família a ignorar a regra de ficar nos trilhos marcados. Vi gente a divertir-se, a pernoitar em tendas e quartos. Vi gente a ficar vislumbrada com as vistas, as águas e os peixes. Vi gente a comer e beber. Vi gente a gastar dinheiro (não é barato ir lá com uma família!) e outros a ganhar. Vi muitos queixotes de lixo, coloridos e separadinhos conforme a modernidade pede. Não vi lixo espalhado pela ilha fora. E pensei para com os meus botões, estás a ver, eis uma área protegida que consegue atrair gente, de forma ordenada, sem que haja um impacte significativo nos valores presentes em consequência deste turismo (julgo eu, sem grande conhecimento da causa).

Há centenas de Berlengas por este mundo fora, muitas muito mais bonitas que esta. Mas esta é nossa e é estimada pelo povo, é visitada pelo povo e pelos turistas estrangeiros. E é isso que se espera de áreas classificadas em Portugal. E quantas, com a mesma beleza, conseguem isso?

Um abraço,

Henk

João Menezes disse...

Para quem queira seguir de uma forma mais sustentada a discussão de como a integração entre ecoturismo e turismo de massas não só é possível como benéfica para os dois lados e qual o papel das
Áreas Protegidas neste objectivo, aconselho a consulta a:
http://cqx.sagepub.com/cgi/reprint/42/2/104?ijkey=YVUbrPklHGSGc&keytype=ref&siteid=spcqx

Gonçalo Rosa disse...

Interessante (ante)visão com a qual, genericamente, concordo. E concordo essencialmente com a necessidade de nos prepararmos para o futuro que aí vem. O incremento do turismo no país, quer como consequência de existirem, globalmente, mais pessoas a fazerem turismo fora de portas, quer por uma eventual (e desejável) capacidade de captarmos mais quota desses turistas pode constituir uma oportunidade, se a soubermos aproveitar, e não uma ameaça, caso tudo isso aconteça "aos trambulhões".

Falando de áreas protegidas, talvez fosse interessante pensar, qual o orçamento actual de determinada AP, quais as suas reais necessidades orçamentais, qual a capacidade de carga para os diferentes tipos de turismo associados que suporta e qual a receita que, nestas condições, se poderiam gerar. Depois de tudo isto, pensar de que forma a conservação da natureza, populações locais, privados, enfim, todos nós, poderíamos sair a ganhar... ´

Gonçalo Rosa