domingo, outubro 18, 2009

O Falhanço de um Modelo

Estamos nos últimos dias da vida deste Governo. É genericamente reconhecido que o seu desempenho na área do Ambiente deixou muito a desejar (estou intencionalmente a ser bastante comedido…). Para muitos, tal desempenho vem da baixa prioridade que as pessoas dão à área do ambiente em tempos de crise. Outros consideram que a área ambiental em Portugal perdeu o seu furor e salientam a dificuldade de se construir hoje algo de concreto e positivo para a sociedade. Mas, para quase todos a inexistência política e a incapacidade para a acção do Ministério e do seu Titular, não só não ajudaram como contribuíram em muito para este resultado.

Contudo este Ministério foi-nos apresentado há quatro anos como uma das apostas deste Governo e como aquele que iria ser o motor do desenvolvimento do País. Sócrates, ao não ter querido reeditar o modelo de departamento ministerial de planeamento com as características do de Cravinho/Guterres, onde os “drivers” do desenvolvimento regional eram os grandes equipamentos que estruturariam o território, “compra” a lógica do Desenvolvimento Sustentável. Assim se conseguiria a integração do económico, do social e do ambiente através do planeamento para o desenvolvimento. Para isso, criou um Ministério onde estivessem o ambiente (os grandes desafios civilizacionais…), o Planeamento do Território, o Planeamento de Políticas e Prospectiva Estratégica e as Cidades (a materialização das ideias para o socioeconómico, leia-se planos…) e os fundos comunitários (o dinheiro, ou pelo menos o seu planeamento e controlo).

Com esta “máquina” não se pretendia que ela fosse a condutora operacional de políticas, mas apenas o ser pensante e planeador estratégico que teria de influenciar (através de planos, “estratégias nacionais…”, ou outros programas) os restantes ministérios que aceitariam o papel do “fazer” operacional. Ora, bastava ter existido algum conhecimento do que foi a realidade e a evolução do pensamento nos últimos 50 a 60 anos da Estratégia das Organizações para perceber que este modelo estava votado ao fracasso.

No final dos anos 50 do século passado, os desafios estratégicos para as organizações passavam por encarar o planeamento como algo de longo prazo que saísse da óptica anterior, contabilista e de controlo financeiro de curto prazo, que realçasse a capacidade de previsão de um futuro que era no essencial estável. Pretendia-se alguém que, recolhendo informação sobre os desafios futuros, desenvolvesse planos que iriam influenciar e orientar posteriormente os departamentos funcionais da organização, que se estruturavam numa óptica hierárquica tradicional enquadrando tarefas sistematizadas e estandardizadas. A incapacidade de liderar mudanças estratégicas na organização, o desenvolvimento burocrático de planos que chegavam sempre tarde, eram baseados em dados desactualizados e encontravam-se desfasados da realidade operacional da empresa e dos poderes que se jogam a este nível e a inaptidão de perceber o essencial da realidade competitiva, foram as principais críticas formuladas a este modelo.

Ora, as organizações de hoje movem-se em ambientes fortemente turbulentos, onde o tempo é uma variável crítica, estão sob uma enorme pressão da sociedade para a obtenção de resultados e é desta que brota o essencial do valor que justifica a sua existência. Por outro lado, as organizações e as pessoas já não se estruturam em torno de silos funcionais verticalizados e entre aqueles que planeiam versus os que executam.

O resultado desta aposta no país é conhecido. Inexistência de liderança, levando a que a ideia inicial de agregação em torno do tópico “Desenvolvimento Sustentável” fosse transformada, pelo realismo político, na do poder a quem consegue realizar mais em cada área funcional e a contento dos lobbies mais fortes (pelo menos até se ter decretado que estávamos em crise); carência e não aceitação de ideias inovadoras que limitassem a afectação da maioria dos recursos a grandes projectos públicos, atrofiando ainda mais uma sociedade já de si demasiada dependente do Estado e adiando a alteração do padrão competitivo e de inovação da economia e do território; incapacidade de executar atempadamente os programas comunitários, logo de injectar dinheiro na economia quando este era mais necessário nestes tempos de crise. E mesmo no âmbito do Ministério do Ambiente, até a liderança pelo grande ícone das políticas Alterações climáticas / Energias Renováveis foi tomada por outros, neste caso o Ministério da Economia, o que lhe permitiu escamotear o grande vazio em que se tinha tornado a política deste Ministério.

Estamos prestes a começar um novo ciclo de Governação do País e será interessante ver qual a evolução que se irá dar neste domínio. Mas temo que tenhamos apenas o primado do realismo e do curto prazo, garantindo que o essencial do que está a andar se faz e de uma forma financeira tolerável. Estratégia, é algo muito complexo para os tempos que correm.

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