Hoje no Público, numa notícia pequenina (pelo menos na versão sulista, não sei o que diz a versão nortista) cita-se Henrique Carvalho (do PNPG) dizendo que na zonas portuguesa e espanhola do parque do Gerês existirão cerca de 400 cabras selvagens e, não percebi se na mesma área se só no parque português, sessenta lobos.
Lembro-me há uns anos dos inúmeros problemas levantados pelos especialistas acerca da reintrodução das cabras, nos quais se incluía a necessidade de previamente erradicar a brucelose, e nas inúmeros cuidados que haveria a ter para se fazer a sua reintrodução como mandam as regras.
Até que alguém se deve ter fartado e acidentalmente um grupo fugiu de um cercado e desatou a reproduzir-se, defendendo-se dos perigos espanhois fugindo para o lado português (onde ao contrário do lado espanhol a caça estava proibida e havia pouca caça furtiva, mas, sobretudo, dá um trabalhão ir perseguir cabras para os Cornos da Fonte Fria).
Com os lobos tive experiências várias sobre a incapacidade de lidar com o risco no processo de tomada de decisão.
A população de lobo em Portugal está longe de estar ameaçada neste momento. Existe sim um problema temporário e resolúvel a Sul do Douro com a falta de alimento, uma vez que o gado já anda muito menos no monte e as presas naturais ainda não recolonizaram a área de forma tão extensa como a Norte do Douro.
Pois ainda assim quando se propunham soluções para resolver esta questão, era frequente ouvir argumentos de base supostamente ética, de que não se deveria aumentar o gado no monte para alimentar os lobos porque isso seria favorecer uma fonte de alimentação não natural.
Para já não falar nas mais que conhecidas dificuldades levantadas que retardam o fomento de uma das principais espécies presa do lobo, como acontece com o corço.
Não tem número o número de problemas potenciais que é possível descobrir em qualquer acção concreta que se pretenda levar a cabo em matéria de conservação.
O que safa o lobo e as cabras é que a dinâmica da paisagem lhes é favorável (como ao javali) ao contrário de outras espécies como a águia real (e o lince, já agora).
Confesso que não entendo bem o que ensinam as nossas universidades de biologia em matéria de gestão da biodiversidade e biologia da conservação.
Mas da minha experiência o que me parece, e quero estar convencido de que estou a dizer uma grande asneira, é que para uma boa parte do que lá se ensina a realidade é um estorvo que convém afastar.
Suspeito que se juntasse à volta de uma mesa os trinta melhores professores destas matérias que existem nas nossas Universidades e se lhes perguntasse quem tinha experiência concreta (não inclui estudos sobre experiências concretas) de gestão de áreas importantes para a conservação ou de gestão de programas de recuperação de espécies ameaçadas, poucos seriam os braços que se levantariam.
Quando digo experiência concreta quero dizer decidir sobre um orçamento e a afectação de recursos, gerir uma equipa de pessoas com funções diversas, lidar com os poderes fácticos que se exercem sobre os territórios, conhecer as manhas de quem lá vive, saber com quem se pode contar e para quê, sem nunca poder dizer que essa matéria não está no âmbito do que se pretende discutir neste momento.
É uma pena, mas também não é nada que saia muito fora do padrão da nossa academia.
henrique pereira dos santos
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