sexta-feira, janeiro 22, 2010

QUERCUS e Insurgente: a mesma luta, a mesma falta de juízo


Este comunicado da QUERCUS é de fazer chorar as pedras.
Anda para aqui uma pessoa a ver se põe um bocadinho de juízo na cabeça dos negacionistas que confundem meteorologia com clima e a QUERCUS entretem-se a dar-lhes argumentos com parágrafos de antologia como estes:
"Na opinião da Quercus, as últimas semanas em termos meteorológicos em Portugal são sinais ou sintomas de uma alteração climática caracterizada por eventos meteorológicos extremos. O que se passou imediatamente antes do Natal na Região Oeste, o facto de Dezembro ter sido o mês mais chuvoso deste século, o ter-se passado de uma situação de seca meteorológica e de valores relativamente baixos de armazenamento das albufeiras, em comparação com a média, para uma situação de pleno armazenamento em muitos casos, são uma demonstração de uma maior irregularidade do clima.
Soube-se também agora que de acordo com a Direcção Geral de Saúde, no Verão de 2009 - ano em que as ondas de calor tiveram o seu início mais cedo – morreram precocemente mais mil pessoas. Os custos, só para o Estado, parecem ascender a mais de 80 milhões de euros, sem contar com os enormes prejuízos em termos de agricultura, edificações e infra-estruturas."
Francamente.
Amanhã estará bom para surfar de manhã ou as alterações climáticas mudaram o swell para a tarde?
henrique pereira dos santos

17 comentários:

joserui disse...

Declaração de interesses: Não tenho nenhum interesse na Quercus.
A primeira parte está essencialmente correcta, pelo menos é o que julgo saber. "Fenómenos meteoreológicos extremos" está no catálogo de consequências das alterações climáticas.
O resto ok.
Mas o que não entendo é a pertinência deste post e para mais nestes termos. Eu se fosse mero sócio da Quercus sentia-me ofendido. Não há nada em comum com o Insurgente. Nem isto, nem nada. Zero.
O Insurgente, pode comparar ao Resistir.info e a outros que tais. É a mesma intelectualidade mas invertida. Melhor ainda, com o BE. Até os tiques censórios são iguais.
Diz que a Quercus se entretem a dar argumentos aos negacionistas, mas pelos vistos deram-lhe argumentos a si. Que sentido é que isto tem? -- JRF

Henrique Pereira dos Santos disse...

Caro José Rui,
Não há a mínima base para relacionar acontecimentos meteorológicos específicos com alterações do padrão da sua ocorrência sem uma série estatística longa.
Interpretar acontecimentos meteorológicos à luz de convicções é o que faz a QUERCUS neste comunicado e o Insurgente amiúde.
O que é uma tolice nos dois casos.
henrique pereira dos santos

joserui disse...

Não dizia específicos, mas extremos. Mas, repare, não tenho simpatia pela comunicação.
Mas para que serve o seu post? Por outras palavras: O HPS escreve cinco posts por semana. Se fosse às tolices que estivesse dedicado em exclusivo, bastava-lhe o Insurgente; menos frequentemente o Blasfémias; o Resistir.info; os jornais, os comentários seriam fonte infindável... Mas ainda se dedica a muitas outras coisas, às rolhas, à paisagem de Alguidares de Baixo, ao clima, ao lobo, ao lince e sei lá que mais. Para quê estar a moer a Quercus?

Nem como demonstração que não existe concertação e "um plano global para dominar o Mundo" serve. Porque quem acredita nisso tem uma cassete e mantém-se fiel, fidelíssimo, à cassete.

O que eu digo é que para "tratar" da Quercus não faltam insurgentes, tretas, dentes, lidadores... isto só para falar dos zeros à esquerda. Porque podia falar dos ministros do ambiente, primeiro ministro, cabeças pensantes líderes de opinião e empresários de sucesso à portuguesa. Onde estão os "checks and balances"? Assim não há "balances".

A Quercus é um alvo fácil, na minha opinião, as bojardas escusam de vir daqui. No Blasfémias é uma associação tratada literalmente como "seita" (CAA et al). Por exemplo, este post é muito elucidativo. O piadético JCD tenta traçar um paralelo entre a Quercus e o BE (aqui o do BE). Mas o post dá jeito para se analisar aquilo que a Quercus sendo contra — e muitas coisas são elementar bom senso—, ficaram realmente no papel ou numa localização ambientalmente mais favorável. Sobre isso é que era interessante um post. Sobre os resultados práticos e verdadeiro poder das associações ambientalistas em Portugal. Que não precisam de um blogue ambientalista a chatear. Mesmo que seja com razão. O comunicado é uma minudência, comparado com as atoardas do Insurgente e os constantes atentados ao nosso país, não é nada. -- JRF

EcoTretas disse...

Parabéns ao Ambio! Este artigo é de louvar, e como sugeri em http://ecotretas.blogspot.com/2010/01/ecologistas-rasca.html, talvez a Quercus tenha interesse em estudar as alterações climáticas dos Açores, onde há 4 estações num dia!

Ecotretas

Henrique Pereira dos Santos disse...

Caro Tretas (espero que não se incomode com este tratamento mais familiar, até porque o diminutivo mantém o que é certo no nome que escolheu, deixando o incerto em parte incerta),
O que me espanta é que uma série de posts essencialmente iguais, mas aplicados aos negacionistas, não tenham merecido da sua parte o mesmo comentário.
Parece que o que é de louver para si é a crítica à Quercus e não a crítica à instrumentalização da meteorologia na discussão do clima.
É pena, porque me parece um aspecto menor do assunto (que tratarei num post mais tarde em resposta ao José Rui)
henrique pereira dos santos

Gonçalo Rosa disse...

:(

Quando não se resiste a este tipo de tentações, dão-se verdadeiros tiros nos pés. A todos nós.

Gonçalo Rosa

EcoTretas disse...

HPS,
Tretas não é o meu apelido, mas pode utilizar à vontade! ;-) Quem começou a instrumentalizar a meteorologia, ao serviço do Aquecimento Global, não fui eu. Exageros há de parte a parte como já aqui referimos. No entanto, reconheço que um erro de um cientista/jornalista é mais grave que um de um céptico, quando com qualificações menores. Já não estou a equacionar sequer os comentários que habitualmente se observam nas versões online dos jornais. Veja-se o caso espantoso dos comentários a esta notíci no Público...
Ecotretas

Porquinho disse...

Olá, gosto muito do teu blog! :)

Gostava de te pedir um grande favor. Estou a participar numas olímpiadas para jovens sobre as alterações climáticas e o meu grupo fez um video sobre jovens e consciência ecológica. A nossa principal questão é: Apesar de haver muita informação sobre a questões ambientais, porque é que as massas não alteram os seus comportamentos?

E agora preciso de votos para passar para a final. Por isso, por favor, DIVULGA e VOTA no seguinte endereço: http://www.apea.pt/scid/olimpiadas/defaultVideoViewOne.asp?articleID=768&categoryID=719

Eduardo Freitas disse...

A coisa está ficando preta pelo que há que podar as hastes potencialmente gangrenosas. A começar por aquelas que já cheiram mal.

É este - sempre foi - o padrão do damage control. Para tentar preservar o essencial. É o que o Caro Henrique Pereira dos Santos anda a fazer ultimamente. Compreendo-o.

Cordiais saudações.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Caro Eduardo F.,
Eu acredito, e pratico, um dos ensinamentos básicos do meu professor de matemática: o direito à asneira é sagrado.
De qualquer maneira seria melhor guardar esse direito para o que vale a pena e não o gastar em coisas tão pequeninas como esta.
Para isso bastaria visitar o arquivo da Ambio para perceber que há anos que critico umaboa parte do movimento ambientalista, nomeadamente pela falta de rigor em algumas posições alarmistas (esta não é alarmista, é só uma tolice).
henrique pereira dos santos

Nuno disse...

É difícil, estando do lado da razão e dos factos, não ceder á tentação de uma crítica abrasiva, comparativamente a uma crítica construtiva.

É tão importante ser rigoroso e firme naquilo que se critica como na mesma sequência apontar meios para superar problemas, quando existe um interesse comum óbvio.

Sem esta última parte, que exige bastante humildade, acaba-se eventualmente por ficar na posse de toda a razão do mundo mas em total isolamento.

Cumps

Nuno Oliveira

Henrique Pereira dos Santos disse...

Nuno,
Na lista de discussão que partilha a gestão com este blog tive uma troca de mails com o Francisco Ferreira sobre o assunto e deixa-me que te diga que fiquei muito mais preocupado: o Francisco acha mesmo que estes eventos meteorológicos pontuais demonstram uma alteração de padrão estatístico.
Nestas circunstâncias o que é uma crítica contrutiva?
henrique pereira dos santos

Unknown disse...

"o Francisco acha mesmo que estes eventos meteorológicos pontuais demonstram uma alteração de padrão estatístico."

A fé religiosa é sempre preocupante quando deixa de ser uma coisa privada e se fanatiza, procurando o proselitismo.
O Francisco Ferreira é apenas um caso de milhares.
Não é por acaso que , mutatis mutandis, os maiores terroristas e activistas das causas mais absurdas, foram/são gente instruída e com acesso à informação.

Há estudos que sugerem que determinadas pessoas sofrem de uma desordem que implica não serem capazes de equilibrar a inteligência e o bom senso.

É mais ou menos como um indivíduo sem instrução de tiro, ter na sua mão um canhão.

José M. Sousa disse...

«Não há a mínima base para relacionar acontecimentos meteorológicos específicos com alterações do padrão da sua ocorrência sem uma série estatística longa.»

Parece que já vai havendo:

nos EUA : «Several indicators stand out most conspicuously in the picture of surface climate variations and changes in the U.S. over the past century»
«A Climate Extremes Index, defined by an aggregate set of conventional climate extremes indicators, supports the notion that the climate of the U.S. has become more extreme in recent decades,»


US Climate Extremes Index

«As far back as 1995, analysis by the National Climatic Data Center showed that over the course of the 20th century, the United States had suffered a statistically significant increase in a variety of extreme weather events»


Na Austrália: «Of course, the impacts of anthropogenic climate change on bushfires in southeast Australia or elsewhere in the world are not new or unexpected. In 2007, the IPCC Fourth Assessment Report WGII chapter “Australia and New Zealand” concluded. An increase in fire danger in Australia is likely to be associated with a reduced interval between fires, increased fire intensity, a decrease in fire extinguishments and faster fire spread. In south-east Australia, the frequency of very high and extreme fire danger days is likely to rise 4-25% by 2020 and 15-70% by 2050.
Similarly, observed and expected increases in forest fire activity have been linked to climate change in the western US, in Canada and in Spain (Westerling et al, 2006; Gillett et al, 2004; Pausas, 2004). While it is difficult to separate the influences of climate variability, climate change, and changes in fire management strategies on the observed increases in fire activity, it is clear that climate change is increasing the likelihood of environmental conditions associated with extreme fire danger in south-east Australia and a number of other parts of the world.

Nuno disse...

Caro HPS,

Só posso dizer que fico no mínimo pasmado, e concordo que é um tiro no pé uma vez que na melhor das hipóteses este desvio metereológico actual só pode ser entendido de tal forma se lido numa evolução a longo prazo que o confirme.

Dito isto, concordo com uma crítica firme mas associada a um apelo para a sua correcção, apoiada em informação fornecida por quem tem competência para se pronunciar sobre estes fenómenos. Isto porque estou convencido de que se joga neste momento na opinião pública a relevância do AGA, apesar de na ciência esta fase estar ultrapassada.

Como a blogosfera tem desempenhado um papel importante numa desacreditação infundada do problema seria essencial reter alguma credibilidade das ONGAS, apesar de vários desacordos que alguns associados têm quanto aos seu funcionamento. Julgo que o Ambio tem a capacidade de promover críticas firmes e susgestões/apelos tal como as ONGAS têm a responsabilidade de abordar os apelos que lhes são feitos pelos seus associados em questões deste tipo.

Nuno Oliveira

ps. Sou sócio da Quercus, entre outras ONGs.

Nuno disse...

O comentário d'o-lidador ilustra muito melhor aquilo que eu pretendia dizer na intervenção anterior, quando falava de uma percepção pública absurda ampliada por alguma blogosfera.

miguel carvalho disse...

Caro Henrique,

totalmente de acordo com a sua observação. A Quercus não pode cair nestes comentários de café.
Uma pessoa faz um esforço diário para explicar que não se pode concluir nada de fenómenos localizados e momentâneos, e a Quercus cai nesse erro.


Já agora, o diminutivo "Tretas" (que encaixa que nem uma luva) tem direitos de autor! (meus)