sábado, fevereiro 27, 2010

Morrer pelas ideias? É bonito sim mas quais?



Mais ou menos desde o seu aparecimento que o blogue Mitos Climáticos tinha uma ligação ao Ambio. Creio mesmo que o Ambio terá sido o primeiro blogue a que o Mitos Climáticos se ligou. Recentemente esta ligação foi retirada (*) sendo que agora apenas blogues negacionistas são divulgados. Não deixa de ser curiosa esta capacidade que o blogue Ambio tem de incomodar à "esquerda" e à "direita". Para uns, este blogue é um perigoso espaço de proselitismo ambiental. Para outros é um espaço herético onde se ousam expor e criticar as contradições do movimento ambiental. Tanta indignação é certamente bom sinal. Quem pensa livremente e escreve o que pensa dificilmente encaixará em correntes herméticas de pensamento e os que querem que o blogue Ambio afine por um diapasão determinado é porque não entenderam o seu propósito.

A verdade é que Portugal é um País onde ainda se convive mal com o confronto de pontos de vista. Têm sido feitos progressos mas continuamos a ter tendência para confiar nas ideias em função da sua origem mais do que na sequência de uma análise independente, fria e racional dos factos. Diga-se que esta é uma tendência inata da espécie humana que provavelmente terá justificação evolutiva (terá mais probabilidade de sobreviver o que acredita nas ideias dos amigos do que aquele que se deixa levar pelas ideias do inimigo). Porém, a independência de espírito e o verdadeiro cépticismo (o que nos leva a duvidar de nós próprios) continuam a ser metas que qualquer pessoa intelectualmente sagaz deve almejar.

Nada disto é novo e os sectarismos, todos eles, têm morte lenta. Em meados do século XX --era das ideias defendidas atrás de grandes bandeiras-- Georges Brassens, o poeta, compositor e cantor Francês de Sète, de tendência anarquista, escrevia e cantava, numa óbvia referência às tendências políticas da sua época, este belo pedaço de prosa:

"Mourir pour des idées, l'idée est excellente
Moi j'ai failli mourir de ne l'avoir pas eu
Car tous ceux qui l'avaient, multitude accablante
En hurlant à la mort me sont tombés dessus
Ils ont su me convaincre et ma muse insolente
Abjurant ses erreurs, se rallie à leur foi
Avec un soupçon de réserve toutefois
Mourrons pour des idées, d'accord, mais de mort lente,
D'accord, mais de mort lente

Jugeant qu'il n'y a pas péril en la demeure
Allons vers l'autre monde en flânant en chemin
Car, à forcer l'allure, il arrive qu'on meure
Pour des idées n'ayant plus cours le lendemain
Or, s'il est une chose amère, désolante
En rendant l'âme à Dieu c'est bien de constater
Qu'on a fait fausse route, qu'on s'est trompé d'idée
Mourrons pour des idées, d'accord, mais de mort lente
D'accord, mais de mort lente

Les saint jean bouche d'or qui prêchent le martyre
Le plus souvent, d'ailleurs, s'attardent ici-bas
Mourir pour des idées, c'est le cas de le dire
C'est leur raison de vivre, ils ne s'en privent pas
Dans presque tous les camps on en voit qui supplantent
Bientôt Mathusalem dans la longévité
J'en conclus qu'ils doivent se dire, en aparté
"Mourrons pour des idées, d'accord, mais de mort lente
D'accord, mais de mort lente"

Des idées réclamant le fameux sacrifice
Les sectes de tout poil en offrent des séquelles
Et la question se pose aux victimes novices
Mourir pour des idées, c'est bien beau mais lesquelles ?
Et comme toutes sont entre elles ressemblantes
Quand il les voit venir, avec leur gros drapeau
Le sage, en hésitant, tourne autour du tombeau
Mourrons pour des idées, d'accord, mais de mort lente
D'accord, mais de mort lente

Encor s'il suffisait de quelques hécatombes
Pour qu'enfin tout changeât, qu'enfin tout s'arrangeât
Depuis tant de "grands soirs" que tant de têtes tombent
Au paradis sur terre on y serait déjà
Mais l'âge d'or sans cesse est remis aux calendes
Les dieux ont toujours soif, n'en ont jamais assez
Et c'est la mort, la mort toujours recommencée
Mourrons pour des idées, d'accord, mais de mort lente
D'accord, mais de mort lente

O vous, les boutefeux, ô vous les bons apôtres
Mourez donc les premiers, nous vous cédons le pas
Mais de grâce, morbleu! laissez vivre les autres!
La vie est à peu près leur seul luxe ici bas
Car, enfin, la Camarde est assez vigilante
Elle n'a pas besoin qu'on lui tienne la faux
Plus de danse macabre autour des échafauds!
Mourrons pour des idées, d'accord, mais de mort lente
D'accord, mais de mort lente"

(*) Nós continuaremos a ligar o Ambio aos Mitos Climáticos e outros blogues negacionistas da mesma forma como oferecemos ligações a blogues mais afins ao Ambio. É esta a nossa estranha maneira de ser e de entender o saudável e honesto debate de ideias.

6 comentários:

Negacionista FI disse...

"agora apenas blogues negacionistas são divulgados"

Talvez eu possa compensar esse excesso nagacionista colocando no Fiel Inimigo um link para o Ambio no grupo de links denominado Campo de Tiro. Que tal?

Miguel B. Araujo disse...

Esteja à vontade... Quer a outra face também?

APGVN disse...

Viva!
Já que se fala em links para outros blogs, vejo que o Ambio mantém o link "Vigilantes da Natureza" de há 6 anos atrás.
No entanto esse blog foi descontinuado (embora o responsável pelo mesmo não o tivesse retirado) e neste momento (alias, já há pelo menos 3 anos) o link é o seguinte: apgvn.blogspot.com
Como não faz sentido haver um link para um blog que não funciona há 6 anos, agradecia que: ou retirassem o link, ou actualizassem o link.

Obrigado,
Francisco Barros

Spawm disse...

O link quer me parece que foi retirado após um ataque pouco elegante de um dos autores deste blog ao autor do mitos climáticos, creio que nada tem ver se este blog é ou não negacionista, até porque o link para o Real Climate continua lá.

Francisco Barros disse...

Peço desculpa por o comentário anterior estar sob o log da APGVN e não em meu nome pessoal... No entanto vai dar ao mesmo.

Francisco Barros

José M. Sousa disse...

Sobre a questão da possível justificação evolutiva da tendência para confiar nas ideias dos "amigos", aproveito para fazer publicidade de um excelente livro "Evolução para Todos" de David Sloan Wilson, da Gradiva! DSW aplica/procura aplicar a teoria da evolução na explicação de todos os domínios da vida humana: arte, religião, economia, política, etc.
Os economistas, por exemplo, talvez aprendam alguma coisa.