domingo, junho 27, 2010

desperdício energético a escala micro

Leitor do meu reservatório de AQS ao meio dia algures em maio.

Quando se trilho o percurso da melhoria, ao progredir percebe-se mais da parte que falta do que da parte já percorrida.

A parte percorrida do trilho mostrou que foi possível usar somente energia solar para as águas quentes sanitárias (AQS) da minha casa desde início de março, quando o sol resolveu voltar (para ser completamente honesto, houve uns dias de chuva seguida em abril que tive de reforçar um pouquinho com a bomba de calor).

Com o aumento gradual da potência da insolação na primavera, assisto já há um mês e tal a um fenómeno que me mostrou que a capacidade do meu equipamento é desaproveitada: quando a água no depósito chega a 80º C, ela é recolhida dos painéis solares térmicos e armazenada no depósito por motivos de segurança contra sobre-aquecimento. Desde maio, isto acontece por volta da hora do almoço. Quer isto dizer que grande parte de tarde, a minha capacidade de armazenamento de energia solar térmica é desaproveitada (os painéis estão a trabalhar, literalmente, em seco). Isto é desperdício energético passivo.

Esta situação resulta naturalmente do dimensionamento do equipamento para os momentos em que o consumo (AQS + aquecimento central) é maior e a insolação menor: o inverno. Não há muito a fazer, a não ser encontrar formas de armazenar energia térmica no verão para consumo no inverno. Essa forma podia ser através do armazenamento no subsolo e se calhar um dia o investimento nessas soluções terá um rendimento que o justifique, atualmente o preço de energia elétrica continua de tal forma baixo que não é o caso. O resultado é que algum consumo energia elétrica no inverno que podia ser evitado, usando a água aquecida verão.

Outra solução seria, sobretudo em sítios de maior densidade urbanística, uma partilha de capacidade de equipamentos instalada em momentos de excesso. Mas isto já obrigava a soluções ao nível da comunidade em vez de cada um por si (não é nada de extraordinário: o district heating é comum em muitos paises nórdicos), e isso já obriga a intervenção política.

Ainda há uma boa parte do trilho por percorrer.

Henk Feith

2 comentários:

Anónimo disse...

Eu diria que não há desperdício nenhum. O sol que bate sobre a sua casa, no Verão, é sempre desaproveitado. Se você gastar uma parte dele para aquecer a água do seu banho, já há ganho; tudo o resto desaproveita-se, claro, mas de qualquer forma desaproveitar-se-ia sempre.

Mas, já que dispõe de água a 80 graus, pode ao menos aproveitá-la para cozer esparguete ou fazer chá. Já poupa a energia de aquecer essa água até essa temperatura.

O problema que eu ponho é se você não estará, desta forma, a danificar os seus paineis solares, ao deixá-los a apanhar sol sem que tenham qualquer água para aquecer. Segundo já me disseram - não sei se é verdade - isso acaba por estragar os paineis. Disseram-me que convem haver um repositório de calor - por exemplo, uma piscina - para depositar o calor desperdiçado durante as horas de sol do Verão, sob pena de estar a estragar os paineis.

Luís Lavoura

Henk Feith disse...

Caro Luís,

O desperdício é duplo: desperdício de capacidade instalada e desperdício energético porque vou ter de utilizar energia elétrica no inverno para me aquecer a água enquanto podia aproveitar do calor de verão armazenado.

Utilizar água quente para cozinhar é uma boa ideia, no entanto é de ponderar a poupança energética por um lado contra o aumento do consumo de água por outro: ao usar água quente terei de deixar correr a água até a quente aparecer. Não medi, mas são seguramente alguns cinco litros (volume de tubagem na canalização entre o depósito e a torneira). Sendo água estupidamente barata (tal como a energia, aliás), será provavelmente uma avaliação ética mais que económica.

O fabricante me garante que os painéis estão preparados para aguentar temperaturas superiores a 200 ºC. Até agora cheguei aos 148 ºC.

Um abraço,

Henk Feith