sábado, julho 10, 2010

Agricultura urbana

Aconselho vivamente a leitura da discussão que se pode ver neste link.
Depois aconselho a ler sobre a campanha "eat the view", aqui ou aqui.
Talvez seja tempo de pensar mais consistentemente na integração dos sistemas produtivos primários (agricultura, pastorícia) nas funções urbanas.
Não estou a falar apenas de espaços urbanos, estou a dizer que as funções urbanas sempre incluíram a produção de alimentos e não há razão nenhuma para manter a separação criada pela revolução industrial e que é hoje dominante da gestão urbana. É certo que de vez em quando se cede a umas iniciativas mais ou menos folclóricas à roda das hortas urbanas, criando a ideia redutora de que a agricultura e pastorícia urbana é um mero arrebique decorativo.
Eu não estou de acordo.
Se quiserem ver mais de perto coisas relacionadas perguntem ao meu colega Jorge Cancela, que tem um trabalho notável de mobilização na Alta de Lisboa (já lhe sugeri que se candidatasse a presidente de Câmara com um programa baseado em meia dúzia de ideias de bom senso que transmitiu num inquérito que o Público faz aos Domingos, mas riu-se, infelizmente. Teimoso como sou, não perdi a esperança mesmo assim).
Este é o trabalho de base, começando na horta da varanda. Um dia chegaremos outra vez a ver olivais e trigais em Lisboa. Sem com isso estarmos a falar de espaços rurais, estaremos com certeza a falar de outros olivais e outros trigais, que se integram nas cidades como partes de pleno direito e contribuindo para cidades melhores, e não como resquícios de educação ambiental sem sustentabilidade e sem sentido.
henrique pereira dos santos

5 comentários:

Susana Nunes disse...

Apoiado!

Carlos Aguiar disse...

E falta saber, creio, o significado das hortas familiares no amortecimento da crise económica e na economia portuguesa, uma vez que não entram nas contas nacionais.

Anónimo disse...

As hortas urbanas surgem quando as pessoas têm necessidade delas, ou seja, quando os alimentos comprados no supermercado são demasiadamente caros para as pessoas.

Ou seja, as hortas urbanas (e as rurais) não são um tema ideológico, são uma consequência da necessidade.

Luís Lavoura

Henrique Pereira dos Santos disse...

Luis,
Deve ser por isso que quer o Obama quer a Rainha de Inglaterra decidiram ter parte dos seus jardins transformados em hortas. E deve ser por isso que as quintas de recreio em Portugal sempre tiveram funções sobrepostas de recreio e produção.
A opção pelo carácter de um espaço verde urbano não é exclusivamente uma questão económica. A razão pela qual os espaços urbanos se dissociaram das hortas foram eminentemente ideológicas (se quiseres podes consultar os jornais da época sobre a polémica à volta do projecto do Caldeira Cabral e Ribeiro Telles para a avenida da Liberdade, que não continha hortas, mas espécies autóctones condieradas pelo público como pouco dignas de um espaço tão nobre). O que se passou foi que o século das luzes quiz marcar o triunfo da razão sobre os atavismos rurais e criou espaços urbanos (de maneira geral espaços da nobreza entregues ao público), assumidos pelo Estado como símbolos da nova razão democrática e racional. E por isso mesmo, incompatíveis com hortas, pomares e searas. Curiosamente há jardins que se mantêm estruturalmente produtivos, com estufas e espaços de produção, mas transformados em campos experimentais ou jardins botânicos, o que já os tornava palatáveis para a mentalidade postivista e urbana triunfante.
É disto que estou a falar.
As hortas por necessidade existirão sempre que exista necessidade, mas exactamente por serem excrescências do espaço urbano são marginais, feias e pouco integradas no espaço urbano.
henrique pereira dos santos

Nuno disse...

Estou de acordo,

Só perguntava que hortas urbanas considera folclóricas porque todas as que conheço funcionam bem como parques públicos, têm dimensões que permitem aos participantes cultivar algo de jeito, e não umas amostras e são para quase todos o único modo que alguma vez terão de aceder a terrenos (muitos nem varandas têm).

Têm um grande potencial, especialmente nos casos em que estão em áreas RAN que servem de tampão com o tecido urbano como em Guimarães e Ponte de Lima.