quarta-feira, agosto 18, 2010

Como podem as grandes empresas ajudar a conservar a biodiversidade?

Excelente discussão de Jason Clay, vice-Presidente do WWF, evidenciando a necessidade e as formas de envolver as grandes empresas na conservação da biodiversidade. Aconselho os cépticos do conceito de "business & biodiversidade", em particular, a prestar atençao a este vídeo.
Jason Clay: How big brands can help save biodiversity Video on TED.com

9 comentários:

José M. Sousa disse...

Continuo céptico como dantes. O diagnóstico do senhor é claro; Agora, a solução será, quando muito, fraca; acho que se deve fazer tudo para que empresas melhorem o seu desempenho, mas se, afinal de contas, como ele próprio admite, o consumidor não tem capacidade para avaliar o que está por trás da cadeia de produção do bem que lhe chega às mãos, não estará ele a sobrevalorizar a importância que estas empresas atribuem à sua imagem? Ou melhor, será que a imagem corresponde à realidade? Será que a WWF consegue garantir isso? Duvido. E não faltam exemplos que reforcem o meu cepticismo. Aliás, a própria noção de sustentabilidade é duvidosa tendo em conta um dos exemplos referidos, o do "offsetting" das emissões de CO2 da Coca-Cola. Alguns dos exemplos que ele dá, como o da MARS não precisam da WWF para nada, é uma lógica que se paga por si: produzir mais com menos. O problema é que a lógica destas empresas é produzir sempre mais, levar as pessoas a consumir sempre mais, e portanto, lá se vai a sustentabilidade.

Anónimo disse...

E qual a alternativa? A sociedade comunista? Ainda não percebeu que o mundo não quer o comunismo?

Henk Feith disse...

José,

Admito não ter visto a peça, mas conheço a iniciativa B&B por dentro. Penso que as tuas dúvidas são perfeitamente ligítimas e fruto de uma visão que entende B&B como uma ferramenta de marketing. Acontece que na génese da B&B esteve a ideia de mostrar áreas de negócio que têm a biodiversidade (de uma forma ou outra) integrada na sua gestão. Quando o negócio e a biodiversidade andam de mãos dadas, um aumento de empenho na área da biodiversidade resulta num aumento de resultados, tangíveis ou intangíveis, de negócio. Isto é diferente (e muito) de uma política de mecenas verde, que não é mais de uma operação bem divulgada de passar cheques, frequentemente apeladada de "greenwashing".

É verdade que há exemplo de sobra de ambos os casos, e compete ao cidadão comum avaliar o que acha sincero ou greenwashing, apoiando os primeiros e denunciando os segundos (se assim achar útil, claro). Agora, não se deve condenar uma iniciativa no seu todo por causa de alguns elementos menos sinceros no seu envolvimento.

Mas é curioso que, quando é a iniciativa privada a envolver-se, financeira- ou operacionalmente, com a biodiversidade, muita gente fica nervosa e escrupulosa. Quando o financiamento é público, de repente as reservas e os escrúpulos desaparecem como neve ao sol e quanto maior os projetos melhor. Queres falar de sustentabilidade? recomendo olhar para a sustentabilidade da política pública de conservação da biodiversidade. É aí que se jogam as grandes fortunas que tornam alguns fundos privados em "peanuts".

Henk Feith

José M. Sousa disse...

Não sei o que é que o comunismo tem a ver com a discussão. Portanto, adiante. Mas, em relação a alternativas, frequentemente nada substitui a imposição de regulamentos; restrições impostas por lei, incluindo penas de prisão ou outras para os infractores, impostos e intervenção sobre os preços de modo a reflectirem os custos reais; restrições à publicidade, sobretudo a dirigida às crianças; educação para o consumo; limitação à actividade de lobbying, etc.. Se o anónimo das 6.27 acho que isto é comunismo, não sabe do que fala.

Anónimo disse...

Caro José. Creio que quem não sabe o que fala é você. Vá lá ver o video e verá que o homem do WWF fala de regras e imposições perguntando se faz sentido os consumidores poderem escolher entre produtos sustentáveis e insustentáveis. Se quer sustentabilidade tem de atacar o problema em várias frentes e ignorar os grandes produtores não faz qualquer sentido.

José M. Sousa disse...

Henk

Eu estou a referir-me ao casos do vídeo que são quase todas, senão todas multinacionais. Não estou a falar de privado vs público em abstracto. Se o negócio é explorar um parque natural tipo Timbavati na África do Sul, não vejo incompatibilidade de maior. Evidentemente que, se o Estado fôr corrupto ou incompetente, vai dar tudo ao mesmo. Aqui o problema não é apenas se é estatal, mas se é público num Estado que seja democrático. Um Estado democrático é sempre mais representativo dos cidadãos do que qualquer empresa.

José M. Sousa disse...

Se era essa a sua observação, devia tê-la feito de início, escusava de vir com esses papões!

Eu não disse que se devem ignorar os produtores. O que eu disse é que o conceito de sustentabilidade parece, em alguns casos, feito à medida dos interesses do freguês, logo, a definição de regras e imposições é frouxa. O "offsetting" das emissões de CO2 é um exemplo típico, que não tem credibilidade de qualquer espécie!

Henrique Pereira dos Santos disse...

José M. Sousa,
É evidente que nada substitui a regulamentação e repressão, como nada substitui a vontade dos consumidores ou as opções dos empresários.
O BB nunca foi desenhado para substituir isso, foi desenhado para integrar mais profundamente a biodiversidade nas opções dos empresários (e de caminho ajudar a que as opções dos consumidores integrem também a biodiversidade como valor positivo).
Aconselho francamente a leitura do artigo Green and Competitive, que fala exactamente das regulamentações ambientais como aliadas da eficiência e da competitividade, mas desde que com alguns pressupostos.
Um, serem de facto restritivas e aplicadas a todos de forma draconiana; dois, dirigirem-se a resultados e não a tecnologias (por exemplo, imporem um limite de emissões aos carros, mas não imporem a existência de catalizador).
O BB, na sua relativa simplicidade não tem nada com isto mas apenas com a tomada em consideração, voluntária, da biodiversidade em cada decisão de gestão de uma empresa.
Haverá greenwashing a aproveitar esta simplicidade? Sim, por alguma razão, enquanto fui responsável operacional pela iniciativa BB em Portugal insisti junto de muitos dirigentes do movimento ambientalista para que criassem um observatório da iniciativa, independente, que avaliasse o que ia sendo feito.
A maior parte preferiu pedir-me os contactos das pessoas que nas empresas tratavam do BB (aliás num movimento, falhado nos dois lados no que me diz respeito, exactamente simétrico ao de várias empresas que me pediam os contactos das ONGAs ou a indicação das organizações e projectos que deveriam apoiar, numa evidente incompreensão face à natureza da iniciativa) e envolver-se na iniciativa de outra maneira.
henrique pereira dos santos

José M. Sousa disse...

Henrique
Quando disse que era céptico, isso não significa que não apoie essa aproximação, desde que seja exigente e esclarecida. Tenho é dúvidas da eficácia a determinados níveis e em termos macro, sistémicos. Aí, só mesmo um Estado ou conjunto de Estados pressionados por uma opinião pública exigente. Claro que se esta não existir, provavelmente os Estados também, muito provavelmente, não vão resolver problema nenhum.