Há uns dias atrás, recebi uma circular da SPEA (ver aqui) com solicitação de apoio financeiro. Nele se referia que o maciço montanhoso central da ilha da Madeira - onde nidifica toda a população mundial de Freira da Madeira Pterodroma madeira, uma ave marinha criticamente ameaçada - foi devastado por fogos florestais no passado mês de Agosto.A questão era exposta de forma clara e simples. Segundo a SPEA "após a avaliação dos estragos, concluiu-se que são precisos, no imediato, 7000€ para que o Parque Natural da Madeira e a SPEA possam adquirir a manta anti-erosão, material para criar os ninhos artificiais, material para remoção de vegetação exótica, equipamento de montanha e assegurar as despesas de pessoal especializado".
Dias mais tarde, acedi a uma solicitação semelhante (ver aqui), mas agora da BirdLife (sendo que a SPEA é a representante portuguesa da BirdLife), desta feita, tendo como objectivo final a angariação de £10000 (cerca de 12000€) e referindo que "The Natural Park of Madeira and SPEA have now developed an action plan to mitigate the consequences of this devastating natural disaster. All nests with surviving chicks have been reinforced, all dead bodies were removed, and bait stations around the now barren nesting areas established. Burnt bushes and trees were also removed to avoid collisions with returning adult birds. In the next few months, the Natural Park of Madeira and SPEA will work to maintain the area around the nests free of invasive exotic plants, will cover some areas with an anti-erosion blanket, and will build and put up artificial nests. All this will urgently need to be done before the winter." Apesar das diferenças de valores, cujo motivo desconheço e que não me preocupa particularmente, o peditório é seguramente o mesmo.
Neste caso em concreto, e ainda que compreenda que a SPEA e a BirdLife procurem respostas rápidas e desejavelmente eficazes para o problema, pasmo por, pelo menos publicamente, não ter sido exercida qualquer pressão para que, perante esta situação, não existam fundos disponibilizados de imediato pelo Governo Regional (para mais, relembro que estamos a falar de verbas relativamente baixas).
Com aquela pedra no sapato (a da ausência de pressão pública) e algumas outras que eventualmente abordarei num outro post, e que me levam a não ser um grande entusiasta de peditórios, depois de muito pensar, mal, como se verá adiante, mas muito, lá entendi fazer um donativo. Paralelamente, pareceu-me bem levantar esta questão no Ambio. E, pela minha parte, a questão morreria por aqui, não fosse, na busca de informação para escrever este post, ter acedido ao site do Parque Natural da Madeira (Secretaria Reginal do Ambiente e dos Recursos Naturais) - que, para os mais desatentos, é um organismo público - e me ter deparado com mais informação surpreendente e, de certa forma, contraditória. De acordo com o Director do PNM, "De forma a contribuir para a Salvaguarda desta espécie endémica e exclusiva da nossa Ilha, esta organização [a BirdLife International] deu início a uma campanha de internacional de angariação de fundos, que serão geridos pela SPEA (parceiro da BirdLife para Portugal) e aplicados no plano de recuperação do habitat da Freira da Madeira coordenado e gerido pelo Serviço do Parque Natural da Madeira". O que é ligeiramente diferente do descrito nos documentos online disponibilizados pela SPEA e BirdLife International. Nos destas instituições, SPEA, BirdLife e PNM formam equipa na execução de medidas de conservação em que os primeiros angariam fudos e todos executam. Mas de acordo com o PNM, há um peditório em curso para angariar fundos que posteriormente serão entregues ao Estado, através do PNM, para este executar medidas de conservação urgentes para uma espécie criticamente ameaçada. Percebi bem???
É que se assim é, não sei qual o sentimento que mais me inunda: se o de amargamente arrependido se o de que quem acaba de fazer figura de parvo. Mas seja lá o que fôr, não é nada de muito agradável.
Gonçalo Rosa
3 comentários:
Gonçalo,
Se percebi bem a SPEA/BirdLife está a organizar um peditório para angariar fundos que posteriormente serão entregues ao Estado (através do PNM) para aplicar medidas de minimização, que muito provavelmente serão aplicadas pela SPEA/BirdLife, pagas pelos donativos.
Teoricamente os donativos são feitos a pessoas ou organizações, para usufruto directo das mesmas, serão que neste caso podemos considerar donativo?
aulo,
Percebeste como eu percebi, depois de ler o que estava na páqina web do PNM.
Chamar-lhe (considerar) donativo ou não, é-me indiferente. O que quis salientar é que não faz qualquer sentido lançar um peditório para cidadãos pagarem ao Estado a execução de medidas de conservação de uma espécie altamente ameaçada. Muito menos numa sociedade que se diz e aparentemente se quer (a sociedade) social.
Gonçalo Rosa
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