segunda-feira, abril 18, 2011

Desesperança

Esta imagem de regeneração de carvalhal foi retirada daqui, e vale pena ir lá ler o texto de que constitui ilustração. Tem uma afirmação passível de discussão técnica, mas não tem grandes erros.


"Os incêndios levam ao abandono das terras; em muitos casos o abandono dá lugar à ocupação por espécies exóticas como as acácias, o eucalipto, ou a háquea; estas espécies formam complexos de combustível altamente susceptíveis ao fogo; estas formações voltam a arder, completando o ciclo. Desta forma parece vislumbrar-se um ciclo de degradação sem fim à vista, perante a passividade e a falta de sensibilidade dos serviços do Estado. Muito embora se trate de uma realidade não extensível a todo o território nacional, trata-se de um problema de dimensões gravíssimas, pelos custos económicos, ecológicos e sociais que envolve. Paralelamente vimos assistindo à degradação das poucas áreas de floresta nativa que ainda restam, tal como aconteceu em 2010 com os incêndios que ocorreram no Parque Nacional da Peneda Gerês."

Se este pedaço de prosa tivesse sido colhido num táxi, num café ou mesmo numa conversa de comadres, eu limitar-me-ia a explicar mansamente, como quem não quer a coisa, que é o contrário, isto é, o abandono é que leva aos fogos e que estamos a atravessar uma das mais fortes recuperações de vegetação autóctone do holocénico (Carlos Aguiar dixit, nesta última parte).

Mas não, este pedaço de prosa é colhido de um texto da mais antiga e, supostamente, tecnicamente qualificada associação de conservação em Portugal, da qual aliás sou sócio e cujas posições sobre fogos e florestas já tentei influenciar vezes sem conta, sem o menor resultado (não sei, nunca percebi, como se formam estas posições que supostamente representam os sócios de uma associação que nunca são chamados a dar a sua opinião).

Não é um texto feito em cima do joelho para responder em tempo a uma qualquer posição pública, é o texto preparado com o tempo que se quiz para dar conta à sociedade de qual é a posição da LPN sobre o ano internacional das florestas.

É mau demais.

Desisto.

henrique pereira dos santos

PS A LPN lançou uma consulta pública para contratar uma pessoa na área da intervenção. Como preciso de trabalho e nunca achei que as pessoas devessem ser contratadas pelo que dizem mas pelo que podem fazer, concorri. O concurso terminou a 7 de Março, a 23 perguntei em que pé estava, explicaram-me que estava demorado e até hoje continuo sem uma resposta à minha candidatura. Nunca esperei muito deste concurso porque o preço do meu trabalho é provavelmente incompatível com o orçamento da LPN (eu trabalho de borla ou a preço completo, não faço descontos). Mas talvez seja porque ainda não contrataram o tal colaborador que falta na área da intervenção que tenham sido amadores a escrever o parágrafo que citei.

6 comentários:

João Paulo Forte disse...

Sim, de facto é lamentável que alguém diga que são os incêndios que levam ao abandono das terras (e não o contrário), ainda mais uma ONGA com responsabilidades. Lamento o facto enquanto geógrafo, enquanto cidadão informado e enquanto bombeiro voluntário.

Anónimo disse...

Henrique,

Lendo o comunicado da LPN na íntegra e o texto que antecede aquele a que aludes a má impressão atenua-se. O que poderia ter sido "comunicado" é a existência de um feedback positivo entre incêndios e abandono. Ou seja, o abandono implica incêndios que por sua vez reforçam o abandono.

Paulo Fernandes

Rui Pedro Lérias disse...

Caro Henrique,
Não poderia concordar mais.
Concorri a uma posição na LPN antes de abrir a Loja de História Natural, um pouco por descargo de consciência. Mas, mesmo assim, fiquei espantado com a forma como o processo foi liderado. Sei que não seria a pessoa tecnicamente mais capaz, mas outras mais valias (como o facto de não ir sair da LPN mal conseguisse uma bolsa de doutoramento ou mestrado), ter gerido um negócio com sucesso vários anos, etc., foram completamente ignoradas.

A LPN tem neste momento um problema grave de estrutura. A Direcção afastou-se da vida real da associação e pensa que basta ter uma Chefe Executiva que lida com o dia a dia. Mas que infelizmente cria, a meu ver, um ambiente de trabalho a evitar.

Nunca foi uma associação muito aberta aos sócios, mas neste momento passa por um momento particularmente negativo. Note-se por exemplo que não houve sequer convite aos sócios para apresentarem listas alternativas às eleições. Cumpriram-se os estatutos mas nunca se quis trazer os sócios à organização. Os sócios na LPN são considerados doadores de dinheiro.

Ainda há pouco tempo (1 ano) os contactei porque alguém de um municipio queria auxilio na execução de uma Avaliação Ambiental Estratégica. Eu servi de mediador e fiquei abismado com a resposta da associação: não quis sequer reunir com a pessoa em causa, simplesmente iria posteriormente avaliar o documento produzido. Ou seja, preferiu abdicar da possibilidade de intervir quando mais interessa, antes do documento ser feito. para depois poder dar bitaites com pouco resultado. Foi um choque para mim.

Enfim, uma organização que passa por um período um pouco infeliz, que acha que gerir dois ou três LIFEs é o seu objectivo, e que está completamente divorciada da sociedade que a origina.

O Henrique simplesmente não é tipo de candidato que obedeça a ordens se não acreditar nelas, e neste momento esse é a filosofia de trabalho que ali reina. A velocidade a que os colaboradores entram e saiem é um pouco esclarecedora.

As associações acham que não precisam dos sócios, estão-se a tornar fotocópias de uma sociedade míope.

Contratar quem possa questionar este status quo não está nos seus planos...

Infelizmente.

Cumprimentos,

Pedro Lérias

Henrique Pereira dos Santos disse...

Paulo,
Só por economia de espaço não citei mais extensamente o documento (deveria ter posto um link) porque tenho a impressão exactamente inversa da tua: o que torna este pedaço de prosa tão absurdo é ainda mais acentuado pelo que é dito anteriormente. Em nenhum momento a LPN faz o teu raciocínio, que está certo: o abandono leva aos fogos e o risco de fogo contribui para diminuir a atractividade do investimento florestal.
É que é exactamente a inversão das relações que causa efeito, por meras razões de propaganda de uma ideia preconcebida que é escandaloso.
henrique pereira dos santos

Nuno disse...

O meu nível de conhecimento nesta área roça o total analfabetismo mas vim de um par de caminhadas na Serra da Cabreira onde vi uma recuperação muito forte da vegetação autóctone (em Aboim, com carvalhos a engolirem lameiros e alastrarem-se em grandes extensões) e também uma ocupação bastante voraz de acácias (em Rossas).

Está errado dizer que, devido a situações específicas de cada zona que não tenha já intervenção humana directa, tanto pode haver uma recuperação muito forte de vegetação autóctone como uma ocupação muito forte de espécies invasoras após os incêndios?

Uma questão à parte: reparo que muitas ONGAs desta região utilizam bastantes recursos no combate a invasoras como a mimosa. Após participar numa desta sessões de controlo fiquei com sérias dúvidas da viabilidade de remoção destas árvores e da quantidade de recursos que tal implicaria, que não está ao alcance das organizações (de alguém?).

Não será mais eficiente procurar conter estas manchas de expansão com plantações limítrofes das espécies que interessarão mais?

Cumprimentos

Anónimo disse...

Pessoal
O projecto criar bosques ]e segundo sei da quercus e nao da lpn.
Ou e dos dois.
de todo o modo e oportuno o comentario feito ao tal texto.