Fantástica fotografia retirada daqui
Está em curso o Pé n'A Terra, organizado pelos parceiros, amigos e participantes no biodiversity4all.
E ontem foi o Dia Internacional do Fascínio das Plantas.
A minha contribuição para o Pé n'A Terra foi integrar um passeio que se iria fazer na quinta feira da espiga (o passado dia 17) na lógica de registo de biodiversidade e convidar o Francisco Barros para ir connosco e nos ajudar na identificação e registo de biodiversidade.
E quando há uma semana descobri que havia uma iniciativa concreta integrada neste dia internacional do fascínio das plantas sugeri (é certo, muito em cima da iniciativa) que no passeio de hoje da iniciativa se fizesse a ligação ao registo e disponibilização de informação (não sei o resultado).
Mas sei que nas inúmeras iniciativas do dia do fascínio das plantas há algumas com saídas de campo.
E calculo que de nenhuma dessas iniciativas resulte um registo democrático e aberto do que se observar (seja no biodiversity4all, seja na flora on, seja noutra base aberta qualquer).
O biodiversity4all tem neste momento cerca de 130 000 registos, e mantem-se o objectivo, difícil, de 250 000 no fim do ano. Seja ou não atingido este objectivo de 250 000 observações no fim de 2012, objectivo alcançável mas difícil, não parece absurdo pensar que num prazo de cinco anos existam nesta base cerca de meio milhão de observações.
Muitas dessas observações estarão noutras bases com quem se estabelecem canais de comunicação, como se está a tentar em relação a várias, e já existe em relação a poucas.
Mesmo assim há um conjunto de pessoas que se recusam a reconhecer o interesse do Biodiversity4all com o estafado argumento de que alguém que veja um falcão na sua varanda pode registar uma águia imperial.
É um argumento preguiçoso de quem não quer olhar para a forma como esse tipo de situações são tratadas e apenas conclui que pelo facto de ser possível um registo destes toda a base de dados não é de confiança.
O curioso, numa base com 130 000 observações, é que a alegação da sua falta de fiabilidade não se faz por via da demonstração de observações claramente erradas (que as haverá, com certeza) mas com base numa hipótese não verificada.
Há muita gente a esquecer-se de que nunca se perde o vínculo entre observação e observador, sendo possível investigar cada observação fora do normal através do contacto directo com o observador, com a sua história de observação, com os seus conhecimentos e por aí fora, permitindo limitar os efeitos de observações estranhas.
Ao mesmo tempo estas pessoas esquecem-se de que o biodiversity4all está na base da identificação de novas observações de espécies que não eram referidas há anos e mesmo na base da descrição de novas espécies para a ciência, por via do contacto de observadores de todo do sistema científico e bons naturalistas de campo.
Há até um investigador que se tem servido do biodiversity4all para a sua investigação, em especial usando observações e o contacto do observador para obter dados e identificar partes do território a inventariar, mas que não coloca uma única das suas observações na base porque alega que não tem credibilidade.
A explicação para esta desconfiança da academia encartada em relação à chamada citizen science é por um lado a deficiente compreensão das naturezas diferentes dos inventários científicos sistemáticos e dos registos aleatórios de massas, e por outro uma arrogância natural da academia, em Portugal, face ao comum dos mortais.
Penso que nada ilustra melhor isto que uma frase retirada do artigo de Amélia Loução que o Público hoje publica a propósito do Dia Internacional do Fascínio das Plantas: "Qual o motivo desta celebração a nível europeu ao (sic) qual inúmeros outros países da América Latina se juntaram? Precisamente para mostrar ao público em geral por que é que existem cientistas que se fascinam com as plantas, a sua beleza, o que nos proporcionam e nos possibilitam".
É isto. Há académicos, com grande responsabilidade na relação das pessoas comuns com a ciência, como é o caso, que acham que a capacidade de se fascinar com o mundo que nos rodeia é uma prerrogativa dos cientistas, arduamente obtida através do calvário dos graus académicos. E consequentemente acham que só dos cientistas se pode esperar uma observação e registo fiável do mundo.
Estão enganados, a fascinação pelo mundo é uma relação emocional ao alcance de qualquer pessoa. E qualquer amador se pode transformar na coisa amada por virtude de muito imaginar, não tendo mais que desejar por ter em si a parte desejada.
Na verdade estas celebrações deveriam, sobretudo, servir para mostrar aos cientistas em geral porque é que existem pessoas comuns que se fascinam com a biodiversidade.
E como perdemos, todos, com a prática, reiterada, das instituições científicas desvalorizarem os contributos das pessoas comuns para a ciência.
henrique pereira dos santos
sábado, maio 19, 2012
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2 comentários:
Essa do investigador que usa o biodiversity4all para recolher informação, mas depois recusa-se a participar com as suas observações deixou-me de boca aberta.
Caro Frederico.. só mesmo quem não conhece o calibre de alguns "doutores" da nossa investigação!
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