sexta-feira, agosto 23, 2013

Obrigado ao leitor atento...



... que chamou a atenção para as previsões do vento a partir de amanhã, num comentário ao último post.
Eu acho que o leitor tem razão, o abrandamento relativo de hoje não vai chegar para recuperar forças para a semana que vem, se as previsões meteorológicas se concretizarem.
O risco é grande, muito grande.
Até 15 de Agosto a área ardida era razoável, em torno dos 30 mil hectares.
Daí para cá a situação ter-se-á alterado bastante, mas suspeito que, a confirmar-se a previsão de vento, ainda se alterará mais na semana que agora entra, começando já amanhã à tarde.
Dito isto, reafirmo o que já aqui disse dezenas de vezes: a área ardida é um péssimo indicador, sobretudo quando é eleita como o principal indicador.
As perdas (sociais, em especial vidas de pessoas, ambientais, de maneira geral diminutas e reversíveis e económicas, muito variáveis em função do uso do solo) é que deveriam ser o indicador base.
O que me assusta são as enormidades que tenho vindo a ler vindas do Governo, que aparentemente acha  que os fogos são um problema de polícia e de combate.
Ainda hoje, no Público, Paulo Fernandes refere que as substituições de responsáveis pelo dispositivo de combate em Junho era mau, mas acima de tudo o facto dos responsáveis escolhidos estarem mais perto dos bombeiros que da floresta.
Ora o que arrepia é a resposta que o Público diz que o Ministro da Administração Interna deu: "Os bombeiros são, também eles, especialistas na floresta".
Não só continuamos a falar dos fogos como se fossem um problema florestal (quando em muitos casos os bombeiros se limitam a proteger casas, deixando de gerir o fogo fora da envolvente urbana), como mais que isso, achamos que comandantes de bombeiros são especialistas em floresta (e, calculo eu, em gestão do território e combustíveis).
No curto prazo os Governos não são responsáveis pelos fogos, que se explicam quase só pela meteorologia e pela acumulação de combustíveis (com alguma maximização pela eventual incompetência dos dispositivos, nomeadamente nas fases de rescaldo).
Mas é inacreditável pensar que o Governo acha que os problemas dos fogos são, essencialmente, uma questão de bombeiros.
Pelos vistos vai ser preciso outro 2003 para que este, ou outro, Governo perceba que o excesso de peso da protecção civil, dos autarcas e dos bombeiros, que tapam com o seu peso político o conhecimento científico que hoje existe sobre o fenómeno, é um caminho que não leva a lado nenhum.
E que custa fortunas aos contribuintes.
Dêem-me 1% do que se gasta em cada concelho com os bombeiros e protecção civil (deveria dar perto de um milhão de euros anuais) e eu monto um sistema de protecção com resultados visíveis ao fim de cinco anos (antes disso não é possível ter resultados consistentes).
Não acabaria com os fogos, isso é seguro, mas reduziria perdas de forma sensível, criando emprego e riqueza.
henrique pereira dos santos

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