sexta-feira, setembro 06, 2013

O amigo americano

Carvalhal-americano ardido em Vizela - agosto 2013

Em comentários sobre um post anterior, o Luís Lavoura e Jaime Pinto (não levo a mal as gralhas no meu nome) teceram rasgados elogios à espécie Quercus rubra, o carvalho-americano.

De Luís compreendo-os (Luís é produtor florestal; se eu quisesse produzir madeira de carvalho também plantaria Q. rubra), do Jaime fiquei muito surpreendido.

O carvalho-americano é tão exótico na flora Portuguesa como o eucalipto, e é considerado por muitos como espécie invasora devido à elevada capacidade de germinação da sua bolota. O carvalho-americano não é resistente ao fogo e arde como todas as outras espécies florestais.

Eu acho o carvalho-americano bastante feio. As cores berrantes da sua folhada no outono não condizem com as cores outonais lusas e a sua casca falta aquela linda rugosidade dos carvalhos nacionais. São gostos...

Eu proibo plantar carvalhos-americanos em projetos de restauro ecológico da minha empresa, por não servir objetivos ecológicos mas sim de produção, dando preferência a carvalhos nacionais (isto é, quando os planto porque cada vez mais me convenço que plantar carvalhos é deitar dinheiro na rua que pode ser muito mais bem aproveitado em outras ações de restauro como a eliminação de espécies exóticas em áreas de conservação).

Mas o que acho curioso é como duas espécies exóticas de produção podem originar sentimentos tão opostos.

Henk Feith

5 comentários:

Jaime Pinto disse...

Se houvesse em Portugal serras a perder de vista plantadas com carvalhos americanos, como as há com eucaliptos, provavelmente também ganhariam a minha antipatia.

Por enquanto coloco os carvalhos americanos ao nível das simpáticas pseudotsugas. A madeira é de boa qualidade e umas pinceladas aqui e ali ficam bem na paisagem, é a minha opinião. A sua cor, no outono, não destoará assim tanto da dos lusos castanheiros. As bolotas são uma imensa fonte de alimento para mamíferos e passarada. Para além disso, pelo menos que eu saiba, não serão um sugadoiro de água como são os eucaliptos.

Quanto à não plantação de carvalhos americanos nas áreas de restauro ecológico das celuloses, se os plantassem, com conta, peso e medida, muito poucos criticariam essa opção. Muito mais certo será levarem a mal os inúmeros produtores de eucaliptos que não têm os seus terrenos sob gestão das celuloses quando compreenderem que essas áreas de restauro ecológico lhes está a desvalorizar (actualmente, no futuro poderá ser mais) os eucaliptos deles em 10/100. Poderá estalar a revolução caso o eucalipto num futuro próximo seja excedentário, seguindo apenas para as fabricas o eucalipto certificado, certidão essa devido às tais áreas ecológicas que as celuloses bondosamente estão a criar.

Com isto não estou, de maneira nenhuma, contra as celuloses não lavrarem as linhas de água, muito pelo contrário. Só estou contra não contarem a história toda. Que me desculpe o Henk Feith se eu estiver a contar mal a história. Conto-a aqui como ma contaram.

Anónimo disse...

Bem, é assim como um Dinamarquês e um Chinês em Portugal; ambos são exócticos, mas um é muito mais do que o outro :-) Já estive em plantações de carvalhos americanos com várias décadas e "parecia" mesmo uma floresta: os javalis não estranhavam o sabor das bolotas e os veados o dos rebentos... e ainda faltam décadas para serem cortados. Em contraste, um eucaliptal bem gerido tem as qualidades e vantagens de uma plantação de cana de açucar; estéril, feia e lucrativa...

Anónimo disse...

Para os contabilistas-paisagistas, e ainda todos os chicos-espertos, fanáticos dos eucaliptos, inimigos da ecologia, que se fazem passar por amigos do ambiente, das paisagens e das touradas, e que tanto mal andam a fazer ao ambiente e às lutas ecologistas, reproduzo abaixo alguns excertos do notável texto de autoria do Professor Jorge Paiva publicado no jornal Público.

Para que os poluidores mentais cá do burgo tenham um pingo de pudor quando falam de ambiente, de capitalismo e de fogos.


«A desumanização das nossas montanhas teve várias causas. Uma, foi a maneira como se deixou eucaliptar o país. Repetimos o que já tínhamos feito com o pinheiro, mas com a gravidade de agora todos saberem que isso não se devia fazer. Como já dissemos, os eucaliptais, tal como os pinhais (resinosos), também ardem melhor que as florestas de folhosas, por produzirem essências. Com o eucaliptal contínuo contribuiu-se estrondosamente para a desumanização das nossas montanhas. Com o pinhal, a população rural estava lá, para colher a resina, para cortar o mato, para apanhar as pinhas e lenha e para cortar um pinheiro. Como os eucaliptos servem quase exclusivamente para a indústria de celulose e como só dá cortes de dez em dez anos, a população não fica no monte durante dez anos a olhar para uma árvore à espera que ela cresça: vem-se embora e vai lá só de dez em dez anos para o corte.»

(...)

«Finalmente, outro fator que contribuiu para a desumanização rural foi a drástica mudança nos processos de agricultura e melhores condições de vida.»

(...)

«os incêndios florestais no nosso país são praticamente todos resultantes de ações humanas, por descuido, vingança, piromania e, valha a verdade, por interesses inconfessáveis»
(...)
«Além de terem acabado com os Serviços Florestais, "obrigaram" o povo a abandonar os montes por estarem eucaliptados»


Sobre o Professor Jorge Paiva:
http://cfe.uc.pt/index.php?menu=18&tabela=pessoaldetail&language=pt&user=48


Anónimo disse...

Afinal quem tem andado a escrever e a semear textos execráveis, poluindo o ciberespaço de barbaridades anti-ecológicas é o nosso contabilista-paisagista cá da casa.

Vamos a ver se ele aprende alguma coisa sobre a correlação entre modelo económico capitalista , ambiente e fogos.

Mas é difícil acreditar no seu bom senso. É que, no caso em apreço, a ideologia é mais forte que a vontade de conhecimento.

Luís Lavoura disse...

plantar carvalhos é deitar dinheiro na rua

Depende de haver na vizinhança carvalhos adultos para fornecer bolotas e aves para as disseminar.

Eu tenho um terreno onde espontaneamente têm nascido imensos carvalhos portugueses, por haver a uns duzentos metros carvalhos adultos e por (presumo eu) as aves passarem, no seu trajeto, por cima de uma faixa do meu terreno.

Já noutros terrenos meus não nascem carvalhos absolutamente nenhuns de forma espontânea. (Mas nascem sobreiros, dado que na região o sobreito é muito comum e há várias árvores de grande vulto por todo o lado.)

Quero eu dizer, plantar carvalhos faz sentido sempre que eles não nasçam de forma espontânea.