A informação sobre as grandes linhas de investimento para o País são escassas mas o que vai sendo publicado nos jornais vai dando alguma matéria para reflexão e apreensão.
Ao que parece o Governo pretende apostar em duas grandes linhas de investimento: o turismo e a energia. O turismo é indubitavelmente uma actividade na qual Portugal apresenta vantagens comparativas face a outros Países Europeus. É também uma actividade que permite alguma margem para expansão de investimento. Mas cuidado! É fácil matar a "galinha dos ovos de ouro".
O afã de aumentar o número de “camas” em Portugal tem proporcionado bons exemplos do que não deve ser feito e poucas garantias existem que desta vez, com impulso Estatal, as coisas sigam melhor caminho. Se o Governo tem alguma intenção de facilitar o turismo não precisa de avançar com um plano de investimentos imobiliários para a albufeira do Alqueva (a quem passa pela cabeça que as margens de uma barragem mal cheirosa, excessivamente soalheira, pode competir com o litoral?), como anunciou, mas resolver o imbróglio do aeroporto de Beja que poderia finalmente abrir as portas às companhias “low cost”. Esta medida não implicaria mais do que dar continuidade a planos anteriores e dar procedimento a investimentos públicos bastante baixos com efeito multiplicativo sobre a economia muito superior ao investimento em infra-estruturas turísticas no Alqueva (que só os autarcas alentejanos estimam poder ter qualquer potencial para o turismo internacional de massas).
O Estado deveria centrar-se naquilo que tem competência para fazer, ou seja, investimentos cirúrgicos, ordenamento do território e planificação macro-económica. De momento o desafio não é aumentar o número de “camas” mas preencher as que existem e que estão vazias no quadro de um espaço Europeu cada vez mais competitivo. Lembro que a oferta turística tem tendência para aumentar com o advento de novos mercados que florescem no Mediterrâneo (por exemplo Turquia) e mar negro (por exemplo Bulgária e Roménia) mas a procura não segue necessariamente a mesma tendência.
O turismo é importante para o País mas por favor usem a cabeça e por favor, não matem a "galinha dos ovos de ouro"!!
Quanto à energia não posso esconder a decepção. Do que foi publicado na imprensa foram destacados três prioridades: eólica, "biodiesel" e nuclear. Mais uma vez – inexplicavelmente – fica de fora a opção pelo solar.
Concordo com a aposta na energia eólica mas aqui o Estado pouco tem de fazer que não seja deixar as empresas existentes trabalhar. Relativamente à energia eólica o papel do Estado é o de regulador, i.e., definir a quota nacional de produção (já está feito) e avaliar as propostas de localização das centrais eólicas ponderando os diversos critérios em causa. Não vale a pena avançar com planos de investimento e novas prioridades para algo que está encaminhado e que apenas não vai mais depressa pelos inúmeros entraves a que tem sido sujeito.
O “biodiesel” é uma aposta dificilmente justificável. Não é por aí que a Europa, ou o mundo, estão a caminhar pelo que só entendo a proposta como uma tentativa de resolver o problema de uma barragem que foi construída sem que os sucessivos governos tivessem qualquer ideia do que fariam com ela uma vez construída. O impacte do “biodiesel” na economia nacional será baixo, ocupar-se-ão milhares de hectares de solo agrícola, utilizar-se-ão milhares de hectómetros de água e gastar-se-ão milhares de “watts” de energia para a sua produção. É uma aposta pobre e de vistas curtas.
A possibilidade de Portugal avançar com uma central de energia nuclear foi a única novidade de peso mas mais uma vez se criam mais apreensões do que expectativas. Ao que parece o incentivo para que o "nuclear" seja colocado de novo sobre a mesa advém da possibilidade do investimento ser privado. Será só o "nuclear" que atrai investimentos privados? Ou será que o Governo vai a reboque de oportunidades em vez de liderar a abertura de oportunidades aos investidores privados?
Eu tenho preconceitos assumidos contra o "nuclear" que advêm do facto de os riscos para a saúde pública e o ambiente serem gigantescos. Não tanto pela probabilidade de ocorrerem desastres – que é baixa – mas pela magnitude do impacte desses acidentes no caso de ocorrerem. É uma matéria claramente no âmbito da decisão popular - já que a proposta não consta do programa eleitoral do PS e os cidadãos têm o direito de decidir se querem assumir riscos letais a troco de energia mais barata - pelo que se o governo avançar com uma proposta concreta nesta matéria serei um dos primeiros a apoiar uma proposta para realização de um referendo sobre a matéria.
Mesmo assumindo esta posição negativa face ao "nuclear" o debate parece-me bem vindo. Principalmente porque obrigaria o Governo a apresentar as contas e a explicar porque não investiu e continua sem investir nas energias alternativas, designadamente no solar.
domingo, julho 03, 2005
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2 comentários:
Muito oportuno e fundamentado este texto.
Concordo na generalidade naquilo que escreveu mas continuo a não poder entender o porquê de se escamotear a energia hídrica proveniente das barragens , cuja tecnologia dominamos amplamente ,para obtenção da energia eléctrica e principalmente na criação de vastos reservas de água neste País tão necessitado dela , perante os incêndios que todos os verãos lavram em Portugal e da futura desertificação que nos aguarda .
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