Fonte: Science 24 February 2006:Vol. 311. no. 5764, p. 1084 . Padrão e vectores de dispersão do virus H5N1 responsável pela gripe das aves
1. A epidemia está em processo de difusão rápida seguindo um padrão espacial previsível: a fonte de origem são as ilhas do SE Asiático sendo que a partir deste ponto o vírus tem-se expandido de forma “contagiosa” pelo território. Em breve a Europa e grande parte de África terão aves infectadas em todas as suas grandes regiões.
2. O vector de difusão da doença entre continentes, ou grandes distâncias dentro de cada continente, são as aves silvestres e não as aves domésticas, como tem sido defendido por alguns.
3. Os focos humanos de gripe das aves estão associados a locais onde o vector de transmissão a humanos são as aves domésticas.
Conclui-se desdes factos que:
A probabilidade de o vírus chegar a Portugal é elevada, ao contrário do que tem sido defendido por alguns representantes da SPEA.
Dado os focos recentes na Nigéria e Europa é provável que o vírus da gripe das aves chegue a Portugal num período que decorre entre a primavera e outono próximos.
A chegada do vírus não implica, necessariamente, casos de gripe das aves na população humana porque i) o vírus actual não passa de humano para humano; ii) em Portugal não existe próximidade entre aves domésticas e humanos, como é frequente em alguns países da Asia; e (iii) em Portugal será mais fácil implementar medidas de encerramento de aves domésticas em recintos fechados (por forma a evitar contacto com aves silvestres) do que é em Países de grandes dimensões e com pouca capacidade de intervenção estatal.
Logo não há motivo para panico mas também não há motivo para optimismo. O vírus está a chegar. É apenas questão de tempo. Em vez de negar a evidência é preferível começar a avançar desde já com planos de prevenção. Entre as medidas necessárias inclui-se a proibição de manutenção de aves domésticas ao ar livre (esta medida não devia esperar pelo aparecimento dos primeiros casos de aves silvestres infectadas e deves ser acompanhada de medidas adicionais de isolamento dos recintos onde se armazenam e o exterior) e proibição da caça na próxima época venatória. Esta medida, além de restringir o contacto entre pessoas e potenciais aves infectadas, justifica-se pelo facto de a caça ter um efeito dispersor de aves que pode ter como consequência uma mais rápida (e difusa) propagação do vírus.
6 comentários:
Olá Miguel. No geral o texto parece-me bem, mas como tenho sido parte pública desta discussão e se refere no texto algum equívoco sobre a SPEA, gostava de aproveitar para esclarecer alguns pontos.
Em primeiro, a dispersão do vírus é um efeito combinado através de aves migradoras e aves domésticas. O surto da Turquia é disso uma prova praticamente inequívoca, assim como o recente desenvolvimennto do surto em cisnes.
Continuamos a dizer que a probabilidade de ocorrência do vírus em Portugal nesta migração é baixa, com base nos dados conhecidos. Não há registos em aves selvagens em África e as aves que têm sido identificadas na Europa estão a afastar-se de nós. "Arrisquei" publicamente dizer que as aves encontradas em Espanha dariam resultado negativo e foi precisamente o que aconteceu. Claro que falamos de probabilidades, não quer dizer que não aconteça.
Se falarmos na próxima migração de Outono, aí a conversa será outra. Novamente com os dados actuais, a probabilidade é elevada, e teremos que nos precaver através do reforço das medidas de bio-segurança, possivelmente com suspensão de caça e anilhagem de aves só com devida protecção.
De qualquer forma, o importante é reforçar o que já referes no texto. O grande perigo é a pandemia de gripe, uma doença que ainda não existe e que provavelmente nos chegará da Ásia, não pelas aves mas sim pelos homens!
Excelente e elucidativo post.Obrigado.
Sobre a questao de o virus estar a ser disseminado por aves domesticas ou silvestres, vale a pena ler o artigo do New Scientist que divulgo baixo:
Are wild birds to blame for H5N1-flu's march into Europe?
28 January 2006
From New Scientist Print Edition. Debora MacKenzie
HAS the H5N1 bird flu virus crossed Asia on the wings of migrating wild birds? Yes, say governments and UN agencies. Prove it, say many bird conservationists, who fear we are about to see an irresponsible and unjustified cull. "People have just accepted that migrant birds are carrying disease," charges Richard Thomas of Bird Life International in Cambridge, UK.
What is beyond dispute is that in May 2005, thousands of wild geese died of H5N1 at Qinghai Lake in China. A smaller outbreak in migrant geese and swans followed in Mongolia. Then in late July the disease cropped up in poultry near Novosibirsk in Siberia, before moving west to five more regions in Russia and to Kazakhstan by August, Romania and Turkey in October, and Ukraine in December.
Conservationists point out that these outbreaks are clustered along major long-distance transport routes. They say this shows that commercial poultry, not migrating wild birds, are the vectors of the infection. Virologists, however, tell a different story.
Aside from a single test on a grebe in Novosibirsk, no one has yet found a smoking gun: healthy migrant birds carrying H5N1. But we do know that H5N1 can be carried and spread by healthy domestic ducks, and therefore probably by wild ducks - experiments are under way to find out. Moreover there is circumstantial evidence that the outbreaks are consistent with migration pathways.
Ward Hagemeijer of the conservation group Wetlands International concludes that the best explanation for the outbreak of H5N1 in Mongolia is that it was carried by infected migrating birds heading north from Qinghai. The further outbreaks can be explained by birds flying from Qinghai to north Siberian nesting grounds, where they mingled with, and perhaps infected, ducks from wintering grounds across the breadth of Asia and Europe, including the Black Sea coast and south Siberia. Birds that failed to mate, says Hagemeijer, then headed south in July - just in time for the outbreaks in south Siberia and Kazakhstan. The Black Sea outbreaks followed the main migration in autumn.
Genetic studies support this idea. Every outbreak in east Asia tested since 2004 was caused by a strain of H5N1 known as the "Z genotype". But birds in Qinghai, and in outbreaks to the west, were infected by a slightly different strain, a hybrid of the Z genotype with its immediate ancestor. The virus in both wild and domestic birds across Russia was closely related to the Qinghai virus, while swans in Romania died from a virus most closely related to the one in the grebe in Novosibirsk.
If the disease was being transmitted through poultry carried out of China, then at least some of the western outbreaks should be the Z genotype that has dominated outbreaks in China. But not one bird in west Asia or Europe has been found with this strain. "We haven't sequenced everything," cautions Juan Lubroth of the UN Food and Agriculture Organization in Rome, Italy. "But the pattern does suggest that wild birds are introducing the virus to new areas."
That doesn't mean the answer lies in the wholesale slaughter of wild birds -which is conservationists' worst fear. The real problem for people is not the wild birds, but infected poultry. It has been obvious, everywhere the virus has been, that poor management of domestic flocks is what transmits the infection throughout a region once it has arrived. And people have overwhelmingly caught the virus from their backyard chickens not from passing wild ducks.
"What can we do about the wild birds? Nothing," says Lubroth - shooting them just scatters them, and anything they may be carrying. "What can we do about poultry? A lot."
From issue 2536 of New Scientist magazine, 28 January 2006, page 9
A gripe das avestruzes
José Vítor Malheiros
Agripe das aves surgiu em 1997, mas foi só em 2003 que chegou às primeiras páginas dos jornais. País a país, os últimos meses vêm mostrando a mancha da contaminação com o vírus H5N1 a alastrar pelo mundo, começando na Ásia, para se estender às aves selvagens de vários países europeus e por fim chegar à primeira exploração aviária na União Europeia, em França.
O que dizem os especialistas? Que esta epidemia (por enquanto apenas das aves) pode dar origem a uma pandemia humana, caso o vírus sofra mutações que lhe permitam passar de humano para humano (por enquanto os doentes foram infectados por aves doentes). Que ninguém pode prever a dimensão dessa pandemia mas que ela pode atingir proporções catastróficas, com muitos milhões de mortos. Que não há vacina para esse vírus, ainda desconhecido. Que ninguém pode prever a eficácia do único medicamento actualmente disponível no mercado contra esse futuro vírus mutado. Que a quantidade de medicamentos disponível, no mundo ou na Europa, é insuficiente para combater uma epidemia em grande escala.
Os ministros da Saúde europeus (e o ministro português) continuam a dizer meias-verdades ao público, perante o silêncio cúmplice da maior parte dos especialistas: dizem que alguns cuidados de higiene podem evitar o contágio a partir de animais doentes, dizem que basta aquecer a carne das aves a 70 graus para destruir o vírus e para anular o contágio pela via alimentar, dizem que a gripe das aves é uma doença animal e que nada prova que se transforme numa doença humana. Isto é tudo verdade, mas escamoteia questões centrais: a alta probabilidade de mutação do vírus (eventualmente através de um estágio em porcos) e de que uma dessas mutações se torne transmissível entre humanos. Se isso acontecer (e não é improvável, pois aconteceu na gripe de 1918), a alta mortalidade que a actual estirpe das aves causa entre humanos faz recear uma catástrofe.
Os ministros da Saúde da União Europeia decidiram lançar uma "campanha de informação" para evitar a "incerteza e pânico" que sentem alastrar entre a população. A campanha é bem-vinda. Em Portugal a propaganda sanitária e a educação para a saúde são praticamente inexistentes e é bom que algo se faça.
Mesmo adoptando a posição de avestruz dos ministros europeus, com a cabeça bem enfiada na areia e rezando para que a gripe das aves continue a ser apenas uma gripe das aves, há conselhos sanitários que deviam estar a ser dispensados de forma sistemática à população e que não o estão a ser.
As autoridades sanitárias, nestes casos, costumam ser lestas a pedir o apoio dos media para que estes façam o trabalho que lhes compete a elas. Mas não cabe aos media fazer propaganda sanitária (é propaganda porque o que se pretende é incutir comportamentos). Os media devem alertar para o risco de que os excrementos de aves infectadas possam transmitir o vírus - mas isto é uma notícia que se dá uma vez. Depois disso, cabe às autoridades sanitárias fazer campanhas nas escolas, acções de formação a agricultores e caçadores, pôr cartazes nos jardins e publicar anúncios nos jornais explicando os riscos e os cuidados a ter quando as crianças vão dar de comer aos patos.
Os media fazem o que podem e têm uma tradição de extrema generosidade nestes casos, cumprindo um papel de serviço público que raramente lhes é reconhecido (e que não é pago) mas não podem fazer o trabalho da Administração Pública, dos técnicos de saúde, das escolas de medicina ou de saúde pública ou dos centros de saúde. Resta-nos esperar que Correia de Campos não queira ficar na história como o ministro da Saúde que podia ter evitado uma catástrofe e não o fez. É que desta vez não se pode dizer que a gripe das aves não tenha dado bastante pré-aviso. Há anos que estamos a ser avisados. Jornalista
Evidence Points to Migratory Birds in H5N1 Spread
Dennis Normile
With the H5N1 avian influenza virus racing across the globe, scientists are debating new evidence on the role of migratory birds. As Science went to press, the virus had just been confirmed in a third African nation, Niger, one of the world's poorest countries. It had spread further in Europe and Asia, with 13 countries confirming outbreaks in just the past 2 months. And France reported the European Union's first outbreak in domestic poultry.
Increasingly, scientists are attributing this remarkably fast spread to migratory birds, but dissenters remain. One set of data that points to a role for wild birds comes from recent, unpublished analyses of influenza viruses recovered from outbreaks stretching from Russia and Kazakhstan to Nigeria, Iraq, and Turkey. A World Health Organization report issued last week,* which drew upon these analyses, concluded that all of the viruses involved in these outbreaks appear to be related to the strain identified from Qinghai Lake in northwestern China, where an outbreak killed 6000 wild birds last spring. And instead of the constant evolution typical of avian viruses, the Qinghai variant appears to have remained unusually stable for nearly a year. "This finding raises the possibility that the virus--in its highly pathogenic form--has now adapted to at least some species of migratory waterfowl and is … traveling with these birds along their migratory routes," the WHO report concludes.
That case is strengthened by the first documented identification of the H5N1 virus in healthy migratory birds, reported in the 21 February issue of the Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS). Some researchers have expressed skepticism that migratory birds play a major role in the spread of H5N1, arguing that infected birds would die before traveling very far (Science, 21 October 2005, p. 426). The new findings, from a collaboration led by Yi Guan, a virologist at the University of Hong Kong, and virologist Robert Webster of St. Jude Children's Research Hospital in Memphis, Tennessee, suggest that's not always the case. Since early 2003, the team has collected more than 13,000 cloacal and fecal samples from migratory birds at Mai Po Marshes in Hong Kong and Poyang Lake in Jiangxi Province, China. In early 2005, they isolated the H5N1 virus from six apparently healthy migratory ducks at Poyang Lake. The team also collected serologic samples from 1092 captured migratory ducks and found that 3.1% had antibodies to H5N1, indicating a prior infection.
The group's findings confirm that wild birds can carry the virus great distances. Their sequencing analyses show that the viruses isolated from Qinghai Lake are genetically linked to the two strains recovered from the wild ducks at Poyang Lake. Guan says this doesn't mean ducks from Poyang carried the virus to Qinghai but does suggest that these viruses are circulating among migratory birds.
Guan and his colleagues also have data suggesting that once an outbreak is established, the main route of transmission appears to be through poultry. The group has regularly sampled poultry brought to markets in six provinces in southeastern China since 2000. Among the more than 51,000 birds studied, they found the virus in 1.8% of all ducks and 1.9% of all geese, as well as 0.26% of chickens. Sequencing of 121 influenza samples collected from birds in China, Indonesia, Malaysia, and Vietnam showed that the viruses fall into regional sublineages. Viruses recovered from wild ducks at China's Poyang Lake were related to two sublineages from different regions in southern China. Guan says that together, this suggests that the viruses have been endemic among ducks and geese in different regions long enough to evolve distinct phylogenetic signatures and that circulation among poultry, not reintroduction from wild birds, is keeping the virus going in China. If migratory birds had repeatedly seeded the outbreaks, there would likely be fewer distinct regional differences in the viruses. Guan adds that this conclusion offers hope that the cycle of transmission can be broken if the virus is eradicated from poultry flocks.
The WHO report and PNAS study don't convince everyone that wild birds explain H5N1's alarming spread. "There is no single bird species that migrates due west-east," notes Richard Thomas, a spokesperson for Birdlife International. Guan counters that the spread could involve a complex interaction of humans transporting poultry and the movements of dozens of species of wild birds. "It is not easy to trace this step by step," he says.
The difficulty is seen in Europe, where dead swans symbolize the spread of the virus. Because they obviously succumb to the virus, no one thinks swans are carrying it great distances. "Swans become infected by other aquatic [bird] species," says Albert Osterhaus, a virologist at Erasmus University Medical Center in Rotterdam, the Netherlands. But he admits that as yet, surveillance efforts in Europe have not found H5N1 in any healthy wild birds. "We do not, at this moment, have the complete epidemiological picture," Osterhaus says. He adds that more surveillance of wild birds is needed along with lab experiments to study the behavior of the virus in different migratory species.
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