Receber o Pedro contestando-o talvez não seja da maior simpatia, mas siga a dança.
O Pedro insurge-se com a falta de sensibilidade de Humberto Rosa quando terá afirmado que os danos dos fogos nas áreas protegidas não terão sido significtavos e não havendo necessidade de intervenções específicas por haver regeneração natural.
Humberto Rosa, se há coisa que demonstra na forma como se exprime nesta matéria, é sensibilidade.
Em primeiro lugar ao utilizar o condicional ("parece"), em segundo lugar afastando-se da discussão dos efeitos e concentrando a mensagem na mais consensual necessidade ou não de intervenção e por último ao explicar que a falta de intervenção se deve à existência de regeneração e não a uma qualquer opção política motivada por falta de interesse. Aparentemente, direi eu, Humberto Rosa conhece a sensibilidade dominante (que o Pedro traduz bastante bem) e procura não a ferir excessivamente.
Mas demonstra sensibilidade para outro aspecto que o Pedro escamoteia: o enorme volume de recursos que a conservação afecta a este problema em detrimento de outras prioridades de conservação, o que provavelmente o leva a querer matizar o discurso catastrofista nesta matéria. Pelo menos esta é a minha interpretação (cada um de nós acredita na verdade que gostaria que fosse a realidade).
O essencial do choque que o Pedro diz sentir, para além das suas contas precisarem de um bocadinho de enquadramento visto que as áreas protegidas e classificadas, no geral, correspondem naturalmente a áreas mais desprotegidas em relação ao fogos, por mais pobres e despovoadas, baseia-se na identificação de perdas ambientais com áreas ardidas.
Acho que falta ao Pedro uma pesquisa mais aprofundada sobre os estudos dos efeitos dos fogos (controlados ou não) já feitos em Portugal. Dalila Espírito Santo, Francisco Moreira, Francisco Rego, Hermínio Boltelho, Paulo Fernandes são apenas alguns dos investigadores que estudaram o assunto. E se não existe um quadro geral existem indícios bastante fortes no conjunto destes trabalhos. Indícios estes bastante consistentes com o facto do coberto vegetal autóctone em Portugal estar a recuperar de uma forma notável, apesar das áreas ardidas. Acho que no próximo Maio, quando for visitar pela terceira Primavera as áreas ardidas em 1993 no Pinhal Interior terei de convidar o Pedro para ver com os seus olhos.
Isto é, todo o choque do Pedro assenta na consideração de que área ardida é área perdida. Esse é o pensamento dominante entre a opinião publicada. Mas é apenas um preconceito sem qualquer base científica de suporte em Portugal.
Quer dizer que não há perdas de biodiversidade com os fogos? Não, não quer dizer isso, quer apenas dizer que são incomparavelmente menos que as que o post do Pedro poderia fazer supor.
E tiro o chapéu a Humberto Rosa por ter tido a coragem de sair do politicamente correcto, correndo riscos, com perdas certas e ganhos políticos incertos.
Espero que esta recepção não te faça perder a vontade de ficar por este blog durante bastante tempo, e considera esta resposta uma forma peculiar de te dar as boas vindas.
henrique pereira dos santos
quarta-feira, março 08, 2006
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
6 comentários:
Nao conheco o orcamento de estado em detalhe para saber se o dinheiro da conservacao e' gasto de forma assinalavel com o combate aos fogos. Se for, como afirma o Henrique, entao temos, alem do debate sobre prioridades, um problema de eficacia pois, como parecem indicar os resultados do Pedro, arde tanto fora como dentro das APs.
Penso que seria bom esclarecer este facto.
Outra questao mais abrangente e' se o Estado deve gastar recursos financeiros para o combate aos fogos no territorio Portugues.
Nao e' claro para mim qual seja a opiniao do Henrique sobre esta materia, pois focaliza a sua intervencao na vertente do orcamento de Estado que e' usada para a conservacao.
Creio que as contas nao estao feitas mas se contabilizassemos todos os factores: perda de materia prima, de solo quando se verificm as primeiras chuvas de outono e o solo nao esta' coberto por vegetacao, emissoes de CO2, perda de valor estetico e recreativo durante muitos e bons anos (especialmente quando ardem areas florestais naturais em APs), e perdas de biodiversidade (que estou convencido existirem ainda que nao sejam medidas), fico com algumas duvidas sobre a insinuacao de que investir no combate e prevencao seja ma' ideia.
Outra questao e' qual a melhor forma, do ponto de vista tecnico, de combater os incendios.
Mas o henrique, apesar de ja' discutirmos este assunto ha' bastantes anos, ainda nao me conseguiu convencer que nao temos um problema com a magnitude da area ardida e frequencia de fogos em Portugal.
Não pretendo convencer ninguém de que nã temos um problema com a magnitude da área e a frequência dos fogos em Portugal porque primeiro teria de me convencer a mim, porque essa não é a minha opinião.
Os fogos são um problema económico, um problema social e um problema de conservação.
Entendo que o problema económico deve ser basicamente resolvido pelos agentes económicos (a questão tem nuances, mas essa é a minha ideia geral, a da internalização dos custos).
O problema social deve ser resolvido numa lógica de protecção civil (pessoas e infra-estruturas).
O problema de conservação deve ser enquadrado no conjunto dos problemas de conservação do país.
Desse ponto de vista é muito redutor olhar para o orçamento de Estado, não só porque ele é muito opaco e enganador, como sobretudo não valoriza o mais escasso dos recursos de conservação em Portugal: as pessoas.
Os números do Pedro estão em primeiro lugar distorcidos, e são lidos em função de um pressuposto errado: o de que área ardida corresponde a área perdida.
Mesmo a perda estética por anos e anos não é verdadeira: em quase todas as situações em Portugal uma área ardida há três anos não é identificada como tal por nenhum leigo.
Mas acima de tudo o que acho é que este assunto só pode ser adeaudamente resolvido no quadro da política agrícola, isto é, pagando adequadamente os serviços ambientais prestados por agricultores e pastores e acabando com a anti-económica distorção que o Estado faz a favor da floresta contra a pastorícia.
Por último, as várias perdas potenciais e teóricas que o Miguel elenca, não se verificam em grande escala em quase todo o país.
henrique pereira dos santos
Caro Henrique,
Longe de mim ficar melindrado com as tuas posições. Se coloquei aqui críticas a uma pessoa que muito prezo (Humberto Rosa), também estou preparado para receber críticas.
Eu sei que área ardida nem sempre significa, do ponto de vista ecológico, uma perda; em alguns casos, a prazo pode relevar-se positiva (acho mesmo que a "vantagem" dos fogos a médio prazo é convencer as políticas florestais em apostarem mais nos montados de sobro em detrimento do eucalipto e do pinheiro).
No entanto, em relação às áreas protegidas, o fogo descontrolado é sempre uma forma de jogar à roleta russa. O fogo controlado, disse-o, pode ser uma forma de gestão. Mas não é esse o caso em Portugal.
Sobre a questão da sensibilidade do Humberto Rosa, eu acho sinceramente que ele a tem, como pessoa, mas não a teve como político. Se se proporcionar, voltarei ao tema, que este comentário já vai longo.
boa noite PAV restantes SNRS.
Consegui finalmente, "entrar" no AMBIO.
Do que já li, constato que tem substância.
Com ninguém tem o dom da verdade e como,creio que no 3o. post se referem as investigações e investigadores, dos quais conheço 2, deixe-me e para começar que...
investigações, não faltam neste País.
O que falta é estratégia sustentável e por isso e se bem definida, sustentada.
E essa, não existe. De facto.
Mas há 2 ou 3 comentários que gostaria de deixar já no ar:
fogo controlado-
é um tratamento cultural, que se bem executado e em tempo,
resulta em exito. Aliás e para certas áreas, é a única solução.
Ignorando a experiência da casa, vêm agora os americanos "ensinar" por 4 anos. Com cagança publicitada.Desnecessário esse investimento.Acredite que cá sabemos fzer e bem, há 30 anos, pelo menos.
- a regeneração natural
já no seu estrago, lhe referi que o fogo, é um provocador de produção agro florestal.
Claro que a um leigo na matéria, não é suposto exigir que saiba.
Compete aos conhecedores da matéria, explicar,divulgar e sensibilizar.
- gastar ou não em prevenção-
bom, é óbvio que me surpreende que esta questão se esteja a levantar.
Os números são +/- conhecidos e iremos paulatinamente analizar.
- finalmente sobre as areas protegidas
uma vêz mais, elas são de facto desprotegidas.E só.
Saberão concerteza, que os orçamentos ainda não estão disponibilizados.
E....Estamos a 16 dias do dia da arvore.
em contrapartida, soubémos nos últimos 3 dias, que:
a EDP, teve lucros de 1.07 biliões de €;
a PT, vai "dar" 3 biliões de €;
a CGD, lucrou 5.37 biliões de €;
grosso modo, 9.4 biliões de €;
a dividir por +/- 10 milhões de habitantes,
SÃO 940 € / habit. ou 78.3€/habit/mês.
Afinal, para que servem as empresas pùblicas?
Para sustentar os não publicos?
imagine o aumento que podia ser atribuido ao vencimento mínimo nacional.
amigo:
esqueça o pinheiro;
concordo com o sobreiro,aliás até o Mourinho está envolvido;
Se perdemos o eucalipto, só as castanhas,que depois ninguém quer apanhar.
boa noite
Hi people
I do not know what to give for Christmas of the to friends, advise something ....
Hello. Good day
Who listens to what music?
I Love songs Justin Timberlake and Paris Hilton
Enviar um comentário