Provavelmente não me fica bem iniciar a minha participação na Ambio com um post que, em certa medida, critica uma posição de um seu ex-membro, o actual secretário de Estado do Ambiente, Humberto Rosa. Porém, como nunca confundi amizade com discordância de opinião - que, por vezes, pode ser «violenta» - e, como a seu tempo, já a manifestei (a ele próprio e no meu antigo blog), venho de novo (a pretexto de estar a fazer umas quantas análises) meter algumas «achas no lume», tanto que mais que o tema condiz: os fogos. Ou mais precisamente, sobre os fogos nas áreas protegidas.
Por certo, todos se recordarão das afirmações de Humberto Rosa sobre os impactes dos incêndios nas áreas protegidas. Por exemplo, ainda em Janeiro, numa entrevista ao Diário de Notícias, ele afirmou que «o dano (nas áreas protegidas) parece não ser demasiado preocupante e não há necessidade de intervenção, porque há potencial de regeneração das espécies». Esta posição chocou-me na altura e mais ainda que tenho estado agora a debruçar-me sobre estas matérias. E as razões são três:
1ª) Uma área protegida pode ter, como instrumento de gestão, o fogo. Mas o fogo controlado e não descontrolado. Caso contrário, como tem acontecido, perdemos o usufruto dessas áreas que pretendemos proteger: hoje, amanhã, para a semana, para o próximo ano; em alguns casos para os próximos anos...
2ª) A dimensão dos incêndios nas áreas protegidas mostram, sobretudo, que nada as distingue do restante território em relação aos danos. Com efeito, com base em dados do Instituto de Conservação da Natureza, entre 1992 e 2005 os incêndios afectaram cerca de 157 mil hectares da Rede Nacional de Áreas Protegidas (que representam quase 8% do território de Portugal). Isto significa então que 22,3% da superfície das áreas com estatuto de conservação foram já visitadas pelas chamas nos últimos 14 anos. Ora, comparando com o restante território do país, constata-se que os incêndios lavraram uma superfície proporcionalmente equivalente (1). Mal está, portanto, um país onde as suas áreas protegidas se encontram tão susceptíveis aos fogos como as áreas não protegidas. E, claro, nem estou a contabilizar que parte das áreas protegidas são zonas húmidas, que - era o que faltava - não ardem. E nem os sítios da Rede Natura, onde algumas levaram nos últimos três anos uma forte «machadada» (por exemplo, Montejunto, Serra d'Arga, Monchique, Serra da Gardunha, Caia, Valongo, Serras de Freita e Arada, Lage da Prata, Complexo do Açor e Carregal do Sal).
Por certo, todos se recordarão das afirmações de Humberto Rosa sobre os impactes dos incêndios nas áreas protegidas. Por exemplo, ainda em Janeiro, numa entrevista ao Diário de Notícias, ele afirmou que «o dano (nas áreas protegidas) parece não ser demasiado preocupante e não há necessidade de intervenção, porque há potencial de regeneração das espécies». Esta posição chocou-me na altura e mais ainda que tenho estado agora a debruçar-me sobre estas matérias. E as razões são três:
1ª) Uma área protegida pode ter, como instrumento de gestão, o fogo. Mas o fogo controlado e não descontrolado. Caso contrário, como tem acontecido, perdemos o usufruto dessas áreas que pretendemos proteger: hoje, amanhã, para a semana, para o próximo ano; em alguns casos para os próximos anos...
2ª) A dimensão dos incêndios nas áreas protegidas mostram, sobretudo, que nada as distingue do restante território em relação aos danos. Com efeito, com base em dados do Instituto de Conservação da Natureza, entre 1992 e 2005 os incêndios afectaram cerca de 157 mil hectares da Rede Nacional de Áreas Protegidas (que representam quase 8% do território de Portugal). Isto significa então que 22,3% da superfície das áreas com estatuto de conservação foram já visitadas pelas chamas nos últimos 14 anos. Ora, comparando com o restante território do país, constata-se que os incêndios lavraram uma superfície proporcionalmente equivalente (1). Mal está, portanto, um país onde as suas áreas protegidas se encontram tão susceptíveis aos fogos como as áreas não protegidas. E, claro, nem estou a contabilizar que parte das áreas protegidas são zonas húmidas, que - era o que faltava - não ardem. E nem os sítios da Rede Natura, onde algumas levaram nos últimos três anos uma forte «machadada» (por exemplo, Montejunto, Serra d'Arga, Monchique, Serra da Gardunha, Caia, Valongo, Serras de Freita e Arada, Lage da Prata, Complexo do Açor e Carregal do Sal).
3ª) A atitude do Ministério do Ambiente demonstra uma inqualificável falta de sensibilidade ambiental para os prejuízos causados pelos incêndios. Nunca vi, em Portugal, qualquer estudo que apurasse as perdas dos benefícios ambientais causados pelos incêndios. Mas esperava vê-lo. E isto não é algo assim tão inovador de se exigir. Aqui ao lado, na vizinha Espanha, esse levantamento é feito desde 1961 - leram bem! A razão é simples: a floresta e o ambiente estão no mesmo Ministério (o do Ambiente). E não se pense que as perdas de benefícios ambientais são irrelevantes. Desde 1971, apenas se registaram três anos em que essas perdas ambientais foram inferiores às dos produtos florestais. Regra geral, são mesmo duas, três ou mais vezes superiores.
(1)Na verdade, a afectação em áreas protegidas até é ligeiramente superior (22,34%) à das áreas não protegidas (22,28%).
4 comentários:
Penso que trazes uma perspectiva nova e util a este debate: a do usufruto das areas protegidas por parte dos cidadaos.
Em debates passados confrontaram-se opinioes relativamente ao impacte dos incendios sobre a biodiversidade tendo, por exemplo, o Henrique, defendido que este e' negligenciavel. A base para este afirmacao e' suportada pela evidencia de regeneracao rapida da vegetacao, designadamente, com carvalhos.
Pessoalmente continuo a achar esta interpretacao nao e' tao "clear cut" e que os impactes podem ser mais profundos do que deixa antever a taxa de regeneracao do coberto mas a realidade e' que continuam a faltar dados cientificamente validados quer para uma opiniao quer para outra.
Outra questao e' se os incendios, designadamente nas areas protegidas, afectam os valores economicos das mesmas. Todos sabemos que afectam os valores economicos das producoes florestais mas o "post" do Pedro vem lelmbrar-nos que tambem afectam o valor estetico e recreativo das areas protegidas. Numa altura em que o ICN avanca com o conceito da rentabilidade das APs talvez seja de considerar tambem este factor.
Quanto a' taxa de incendio dentro e fora das APs, os dados sao interessantes e revelam, essencialmente, que a gestao das APs, quanto a fogos, nao e' melhor que a gestao fora das APs. Ou seja, nao ha' uma verdadeira gestao para fogos. Haveria, obviamente, de descontar a area passivel de arder dentro e fora das APs para extrair de aqui uma estatistica fiavel. Mas o Pedro la' chegara'.
PS. Concordo com o escritor anonimo que faz um comentario num dos "post" anteriores, que nao e' necessario trazer especialistas dos EUA para fazer fogos controlados em Portugal. Temos massa critica suficiente em Portugal para gerir este processo. O que tem faltado e' vontade politica ou simples capacidade de execucao. Nao sei bem.
Caro Miguel, será possível fazer a comparação entre o risco do fogo nas AP e fora das AP; basta fazer isso usando os mapas de risco de fogo do ISA. Porém, tenho a ligeira sensação (mas é uma sensação) de que o risco é provavelmente menor no conjunto das AP...
Vivam!
Já que estão a anunciar uma remodelação...Por favor:mudem o fundo preto do blogue!!!!!
Para mim , e sei que não sou a únioca, é extremamente desagradável ler blogues de informação e debate com fundo preto (que só tem maior aceitação no caso blogues de fotografia)
Bem sei que a coisa está preta no que diz respeito ao ambiente e particularmente aos incêndios...
Essa e' uma das modificacoes manuela. Dentro de umas semanas contamos poder fazer as ditas remodelacoes. Obrigado pelo comentario.
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