sexta-feira, abril 14, 2006

A cabra da floresta

Num agradável jantar, ontem, entre os membros deste blog, um dos temas mais quentes foi a floresta... e claro, também os incêndios. Condimentada com comida goesa, várias foram as teses picantes em cima da mesa. O Henrique Pereira dos Santos apresentou a «tese» de que, além da «culpa» dos incêndios serem dos ventos de leste, que a «coisa» alterava-se metendo cabras a ceifarem o mato. A ideia não me parece propriamente um disparate - ou pelo menos, não será tão grande como a ideia de se meterem centrais de biomassa espalhadas pelo país, pensando que somente isso fará com que se faça desmatação. Em todo o caso, recordei-me logo de como as cabras eram vistas no início do século XX, quando se estava em plena fase de arborização do país.
Em baixo coloco um pequeno extracto do livro que estou a escrever sobre a floresta, que aborda esta questão:

"O gado era considerada uma praga, odiada ferozmente. Tomás da Fonseca – um polémico jornalista da primeira metade do século XX, pai do escritor Branquinho da Fonseca –, que andou em acções a favor da plantação de pinhais junto das populações da região centro, comparava mesmo as cabras ao demónio. Porventura por ter sido um antigo padre, Tomás da Fonseca escreveria no seu livro «O Pinheiro» um divertido ataque à cabra: «figura esguia e ágil, de chifres aguçados, dentes cortantes como facas e a pata rachada como a que tem o Diabo figurado na bandeira da paróquia, aos pés do arcanjo São Miguel». Para ele, este «bicho» era «a executora da sentença de morte da nossa floresta (...), mais funesta que o machado», pois mutilava não apenas as pequenas árvores como obrigava que «o pastor lance o fogo com o fim de conseguir novos rebentos para o dente voraz». Tomás da Fonseca vislumbrava mesmo um futuro sombrio para quem insistisse no pastoreio em detrimento da floresta: «Esse bicho, se o não exterminarem ou, pelo menos, reduzirem, deixando apenas o bastante para a caçoilada em dias festivos, dentro em poucos anos esta povoação (...) ou acaba de todo ou terá somente dois ou três casais»".

4 comentários:

Anónimo disse...

Incêndios chegam mais cedo!2006-04-14

Anónimo disse...

Deve ser do vento leste!

Pedro Bingre do Amaral disse...

Uma das grandes motivações para se ter realizado o Plano de Povoamento Florestal 1938-68 foi justamente suster a erosão dos solos de montanha desnudados pelas queimadas e pelo sobrepastoreio de caprinos...

Por outro lado, sempre é verdade que se importarmos umas cabras marroquinas, e reflorestarmos o país com 'Argania spinosa', poderemos usar o pastoreio para desrramas das árvores mais frondosas, e prevenir assim o "fogo de copas". Ora vejam em
http://lexicorient.com/morocco/tamri.htm

A 'Argania spinosa', de resto, vem mesmo a calhar neste contexto de alterações climáticas: temos de introduzir espécies xerófilas no nosso país. ;-)

Ponto Verde disse...

Sublinho a ideia do Pereira dos Santos !!! Já agora, a anedota do dia será a Câmara de Almada pôr os PALOP´s a andar de bicicleta, um exemplo que não promove em ca(u)sa própria.

em www.a-sul.blogspot.com