Artigo de opinião, da minha autoria, publicado hoje no Diário de Notícias sobre a morte de seis bombeiros no incêndio da Guarda.
No dia 5 de Julho, o ministro António Costa felicitava-se com o balanço "positivo" da época dos fogos por apenas terem ardido até finais de Junho pouco mais de seis mil hectares, atribuindo esse desempenho "à boa detecção e intervenção no controlo das ignições". Esta atitude assemelhou-se à de um treinador de uma equipa de futebol que se congratula por não ter sofrido ainda qualquer golo aos 10 minutos de jogo. Na verdade, o Verão ainda agora vai no início. E lançar foguetes antes da festa quase nunca dá bons resultados. E assim aconteceu, mais uma vez: um dia depois das afirmações do ministro, o avião de extinção russo Beriev - a coqueluche do Governo para esta época dos fogos - quase se estatelava e, ironicamente, causou incêndios na subsequente operação de emergência. Quatro dias após as declarações do ministro, eis que surge uma catástrofe: seis bombeiros morrem num incêndio, rodeados pelas chamas. Infelizmente, não é uma surpresa. Em Portugal, a tragédia espreita ao virar da esquina.
Embora seja ainda prematuro apontar as causas para estas mortes, espera-se que não se caia no erro de culpar o incêndio e as condições meteorológicas. O vento e o fogo são imprevisíveis e traiçoeiros - e isso é algo que se deve assumir sempre - e sobretudo inimputáveis. Mesmo que, como assume o Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil, o fogo tenha rodeado os bombeiros devido a uma mudança brusca do vento, algo de estranho se terá passado na Guarda. Por duas razões: os bombeiros chilenos eram bastante experientes e somente em circunstâncias anómalas um fogo faz um cerco completo de 360 graus sem que ninguém, em tempo útil, se aperceba.
Este acidente e o inquérito que o Governo e a Afocelca anunciaram deveria assim levar a uma profunda reflexão sobre as tácticas de combate e a coordenação dos meios humanos, tanto mais que Portugal apresenta, infelizmente, uma tenebrosa sucessão de tragédias do género, inigualável a nível mundial. Por exemplo, em Setembro de 1966, morreram 25 militares em Sintra. Em 1985, 14 bombeiros em Armamar. Um ano depois, 12 bombeiros em Águeda. E nas últimas décadas, faleceram, em acidentes pontuais, mais de uma dezena de bombeiros e mais de meia centena de populares. É demais!
Na verdade, grande parte destas mortes poderia - e deveria - ser evitada se em Portugal se "respeitasse" o inimigo. Ou seja, se se assegurasse sempre a existência de uma rápida evacuação dos bombeiros que estão na frente de fogo, prevendo as tais situações de alteração brusca dos ventos. Para isso, em todas as situações de fogo, deveria existir uma rede portátil de medição dos ventos e um sistema individual de comunicações e alerta de urgência (veja-se, por exemplo, o método que as equipas de arbitragem do Mundial de futebol usaram). Além disso, seria fundamental que os bombeiros soubessem, antes de irem para a frente de fogo, quais as "saídas de emergência" nos casos de mudanças bruscas das condições do incêndio. Ou seja, para isso, deveria existir cartografia actualizada e disponível. E, de igual modo, a coordenação operacional terá de melhorar a sua eficácia. Basta observar como estes aspectos são levados ao pormenor em outros países (o exemplo da Andaluzia, na Espanha, é paradigmático).
Em suma, um incêndio deve ser combatido sempre de pé atrás, com profissionalismo e tecnologia; sem heroísmo nem voluntarismos, que dão em tragédia. Já nos basta chorar a floresta que arde todos os anos; não queiramos continuar todos os Verões a chorar também os mortos.
No dia 5 de Julho, o ministro António Costa felicitava-se com o balanço "positivo" da época dos fogos por apenas terem ardido até finais de Junho pouco mais de seis mil hectares, atribuindo esse desempenho "à boa detecção e intervenção no controlo das ignições". Esta atitude assemelhou-se à de um treinador de uma equipa de futebol que se congratula por não ter sofrido ainda qualquer golo aos 10 minutos de jogo. Na verdade, o Verão ainda agora vai no início. E lançar foguetes antes da festa quase nunca dá bons resultados. E assim aconteceu, mais uma vez: um dia depois das afirmações do ministro, o avião de extinção russo Beriev - a coqueluche do Governo para esta época dos fogos - quase se estatelava e, ironicamente, causou incêndios na subsequente operação de emergência. Quatro dias após as declarações do ministro, eis que surge uma catástrofe: seis bombeiros morrem num incêndio, rodeados pelas chamas. Infelizmente, não é uma surpresa. Em Portugal, a tragédia espreita ao virar da esquina.
Embora seja ainda prematuro apontar as causas para estas mortes, espera-se que não se caia no erro de culpar o incêndio e as condições meteorológicas. O vento e o fogo são imprevisíveis e traiçoeiros - e isso é algo que se deve assumir sempre - e sobretudo inimputáveis. Mesmo que, como assume o Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil, o fogo tenha rodeado os bombeiros devido a uma mudança brusca do vento, algo de estranho se terá passado na Guarda. Por duas razões: os bombeiros chilenos eram bastante experientes e somente em circunstâncias anómalas um fogo faz um cerco completo de 360 graus sem que ninguém, em tempo útil, se aperceba.
Este acidente e o inquérito que o Governo e a Afocelca anunciaram deveria assim levar a uma profunda reflexão sobre as tácticas de combate e a coordenação dos meios humanos, tanto mais que Portugal apresenta, infelizmente, uma tenebrosa sucessão de tragédias do género, inigualável a nível mundial. Por exemplo, em Setembro de 1966, morreram 25 militares em Sintra. Em 1985, 14 bombeiros em Armamar. Um ano depois, 12 bombeiros em Águeda. E nas últimas décadas, faleceram, em acidentes pontuais, mais de uma dezena de bombeiros e mais de meia centena de populares. É demais!
Na verdade, grande parte destas mortes poderia - e deveria - ser evitada se em Portugal se "respeitasse" o inimigo. Ou seja, se se assegurasse sempre a existência de uma rápida evacuação dos bombeiros que estão na frente de fogo, prevendo as tais situações de alteração brusca dos ventos. Para isso, em todas as situações de fogo, deveria existir uma rede portátil de medição dos ventos e um sistema individual de comunicações e alerta de urgência (veja-se, por exemplo, o método que as equipas de arbitragem do Mundial de futebol usaram). Além disso, seria fundamental que os bombeiros soubessem, antes de irem para a frente de fogo, quais as "saídas de emergência" nos casos de mudanças bruscas das condições do incêndio. Ou seja, para isso, deveria existir cartografia actualizada e disponível. E, de igual modo, a coordenação operacional terá de melhorar a sua eficácia. Basta observar como estes aspectos são levados ao pormenor em outros países (o exemplo da Andaluzia, na Espanha, é paradigmático).
Em suma, um incêndio deve ser combatido sempre de pé atrás, com profissionalismo e tecnologia; sem heroísmo nem voluntarismos, que dão em tragédia. Já nos basta chorar a floresta que arde todos os anos; não queiramos continuar todos os Verões a chorar também os mortos.
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