Porque este blog é um espaço de liberdade de pessoas diferentes, que pensam de forma diferente sobre os mesmos problemas, acho bem que Pedro Vieira tenha escrito o post anterior.
Mas porque este blog é também da minha co-responsabilidade, tenho imensa pena que Pedro Vierira tenha decidido publicar o post anterior.
Sobre os fogos Pedro Vieira saberá incomensuravelmente mais que eu, quanto mais não fosse pelo tempo que dedicou ao assunto, com a pertinácia que lhe é unanimemente reconhecida.
Mas separa-nos uma diferença de pontos de vista iniciais que é grande: Pedro Vieira procura incessantemente o responsável pela dimensão dos fogos em Portugal, descartando a hipótese de qualquer especificidade desta zona que justifique parte do que se passa, eu procuro compreender um fenómeno complexo cuja dimensão não acredito que seja apenas fruto da nossa incompetência e irresponsabilidade.
Na discussão geral esta diferença de pontos de vista pode até ser enriquecedora. Mas no momento da morte de seis pessoas, mesmo ainda antes de estudadas e avaliadas as causas do acidente ter uma opinião tão taxativamente acusadora como tem Pedro Vieira parece-me de uma falta de sensibilidade e de uma leviandade que, como co-autor deste blog, não gostaria de deixar de exprimir aqui de forma clara, por solidariedade pelos que tendo de tomar dezenas de decisões, em curto espaço de tempo e sob a tensão enorme de um fogo incontrolado, estão naturalmente sujeitos a cometer erros.
Estou de acordo que esses erros devem ser avaliados, estou de acordo que as pessoas devem ser responsabilizadas pelos seus erros, mas não estou de acordo com quaisquer formas de justiça popular e imediata que não avalie as circunstâncias em que foram cometidos erros, ou mesmo se houve de facto erros.
Aprender com a tragédia também implica aprender a respeitar o luto dos outros e a respeitar o direito dos outros à sua defesa, mesmo que tenham cometido erros que tenham custado a vida a terceiros.
henrique pereira dos santos
segunda-feira, julho 10, 2006
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6 comentários:
Caro Henrique,
Pois, sem ofensa, mas acho que a leviandade está do teu lado. Eu não escrevi aquele texto com leviandade, mas com seriedade. Pouco antes da morte dos bombeiros (e o comunicado do SNBPC o diz), o fogos estava «com baixa intensidade e baixa velocidade de propagação». A questão é saber como é possível que não haja uma companhamento técnico para que uma situação não perigosa se transforme numa tragédia.
Quando escrevo que não vale a pena culpar o vento e o fogo, não é para responsabilizar a pessoa x ou y, mas sim para que se respeite (que se tema, mesmo) o inimigo. E respeitar o inimigo (fogo) obriga-nos a ser mais prudentes e melhorar tácticas. É isto que exprimi, penso que de uma forma clara.
Já agora, os investigadores que elaboraram o Plano Nacional para a Defesa da Floresta contra os Incêndios escreveram que um dos grandes problemas em Portugal é a «ausência de requisitos de aptidão (conhecimento, capacidades físicas e psicológicas e treino) para o exercício de funções na cadeia de comando, resultando na não aplicação correcta, na maioria das operações de combate, de conceitos estratégicos e tácticos de supressão, com refelxos negativos nas actividades de planeamento, direcção e controlo».
Caro Pedro,
Seguramente não em ofendo com a tua opinião. E seguramente não vou prolongar muito esta troca de pontos de vista.
Deixa-me apenas fazer notar dois pontos: Xavier Viegas, no mesmo Diário de Notícias, explica como de repente um fogo aparentemente inócuo se transforma numa armadilha mortífera. E cita o famoso caso de guadalajara, em Espanha, onde morreram 11 bombeiros. (já agora, no famoso incêndio de Huelva, Andaluzia também morreram duas pessoas, embora em circunstâncias diferentes).
O outro comentário não tem nada a ver com fogos: quando a EDP instalou os primeiros parques eólicos nas serras do centro de Portugal, os técnicos da empresa fornecedora dos equipamentos vieram a Portugal: é que apesar de ser o maior contrutor de pás para eólicos em todo o Mundo nunca tinham tido tantas partidas em lado nenhum. Ao que parece o vento tinha uns turbilhões caprichosos que obrigaram a alterar uns pormenores no projecto e construção das pás para as tornar resistentes a essa especificidade que ali se verificava sem explicação plausível.
henrique pereira dos santos
Henrique,
A nossa única (e fundamental) diferença de opinião é a seguinte: eu não considero que a catástrofe dos fogos seja um fado lusitano. As condições meteorológicas podem ser especiais, podem ter-se agravado, mas não justificam o agravamento medonho da destruição. A derrota perante um inimigo, não é por ele ser muito forte; é por sermos mais fracos do que ele...
Já agora, saiu hoje no Público um artigo interessante sobre o uso de cabras na prevenção dos incêndios.
Concordo 100% com HPS.
Pedro A Vieira é um fundamentalista escrevinhador.
Pode pesquisar muitos assuntos de ambiente, mas não deixa de ser um fundamentalista.
Os problemas só se resolvem na raíz. Se esta não for conhecida e claramente identificada, a solução não pode ser encontrada.
Bitaites qualquer um pode dar ( até eu).
Viva,
devo dizer que não concordo que post do Pedro Vieira seja de algum modo ofensivo, insensivel ou leviano. Considero que exprimiu um ponto de vista e talvez tenha sido a própria morte dos bombeiros que o motivou a divulga-lo. No entanto não estou aqui para defender ninguem. O que quero realmente dizer é que do meu ponto de vista tanto o pedro como o henrique tem razão nos seus pontos de vista só que ainda não perceberam que eles não são incompativeis! Se não vejamos, todos os combates, sejam eles contra o fogo, doenças ou outros individuos tem 2 fases: a preparação e a acção propriamente dita. Parece-me que as falhas estão exactamente nestas 2 fases que de alguma forma são abordadas pelos dois autores. Se por um lado a nossa floresta cresceu exponencialmente após a entrada para a UE, tambem não é menos verdade que existe cada vez menos organização na mesma.
Qualquer um de nós se apercebe da quantidade de material combustivel disponivel na maioria da nossa floresta. Este facto leva a que os fogos se iniciem com mais facilidade e se propagem tambem muito mais rápidamente, acrescido das condições climatéricas extremas que temos tido nos ultimos anos torna o nosso interior num pasto para chamas! Estes factores fazem com que seja extremamente dificil de combater fogos em Portugal mesmo para os mais experientes bombeiros (como no caso dos chilenos) quanto mais para os nossos que eu considero que na generalidade tem formação deficiente talvez por na sua maioria serem honrosamente VOLUNTARIOS(falhas na fase da acção)!Quando um incendio toma determinadas proporções é muito dificil controla-lo, vejamos o caso dos EUA onde mesmo com recursos e técnicos bastante superiores são incapazes de controlar incendios durante semanas. Aqui surge então com elevada importancia o factor "preparação" , através de vigilancia apertada da floresta, estudo dos diversos terrenos, limpeza, corta fogos, etc.
Parece-me então que do meu ponto de vista o problema tem uma multipla origem:
1-estado desordenado/abandonado da nossa floresta
2-falhas na prevenção/vigilancia dos fogos
3-defeciencias de actuação dos bombeiros/estrutura de comando em fogos que ainda se encontram com dimensões controlaveis
4- e não esquecer as condições extremas que tem assolado a peninsula nos ultimos anos.
Espero ter contribuido para mais uma discussão actual e de maior importancia.
Abraço e continuem o bom trabalho no vosso blog
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