Madrid, 11 Ago (Lusa) - Os incêndios em Espanha já destruíram este ano mais de 40 mil hectares, metade da média dos últimos 10 anos, com a Galiza a representar um quarto de toda a zona ardida, disse hoje o Ministério do Ambiente espanhol.
O balanço confirmou que apesar do elevado número de fogos, particularmente os que afectam a Galiza desde a semana passada, o impacto dos incêndios foi para já claramente menor que em 2005, um dos anos em que mais hectares arderam.
Os dados referem que o número total de hectares em que se registaram incêndios neste ano é significativamente menor do que nos primeiros sete meses do ano passado, quando por esta altura já tinham ardido 104 mil hectares, 15 mil dos quais na Galiza.
Mais de metade de todos os fogos de 2006 ocorreram no noroeste do país (Galiza, Astúrias, Cantábria) e nas províncias do País Basco, Leon e Zamora.
As autoridades registaram entre 01 de Janeiro e 06 de Agosto, 7.214 fogos em menos de um hectare - menos 434 que a média dos últimos 10 anos e 4.447 menos que neste período em 2005.
O número de incêndios que destruiu mais de um hectare foi de 3.268, o que representa menos 1.600 do que a média dos últimos 10 anos e metade dos que ocorreram no ano passado.
Houve ainda a registar 10 "grandes incêndios" em mais de 500 hectares, menos de metade dos 22 registados no ano passado e ligeiramente menos que a média dos últimos 10 anos fixava em 23.
Dos mais de 40 mil hectares queimados desde o início do ano, 13 mil são de superfície arborizada, 24 mil de mato e 2.500 de pastos e outras culturas.
Actualmente a zona da Galiza concentra todas as atenções, com mais de sete mil pessoas envolvidas hoje no combate a mais de 100 incêndios e em operações de vigia e rescaldo a quase 100 outros (...).
7 comentários:
Caro Pedro,
Tenho muita pena de ter que lhe dizer isto, mas afinal qual é a sua posição relativamente aos incêndios florestais ?
Já todos percebemos que muita coisa vai mal em matéria de combate e prevenção. No seu último livro dedicou uma parte significativa a tentar defender a tese de que deviamos , em certa medida, seguir o exemplo espanhol . Não me parece, no entanto, que o modelo espanhol sirva de exemplo para o que quer que seja. No fundo os espanhóis, tal como os portugueses,franceses, italianos,chilenos, californianos e australianos, parecem andar a apanhar papeis em matéria de incêndios florestais.
Parece mais do que evidente que a solução para o problema dos incêndios florestais em biomas que caracterizam aquelas regiões, tem que passar por uma abordagem completamente diferente, uma vez que o modelo de combate e prevenção parece manifestamente ineficaz.
Não vale a pena insistir na intensificação de meios aéreos e terrestres, em centros de coordenação, etc,etc.
A questão fundamental tem a ver com o excesso de matéria combustível que se vai acumulando ano após ano, e só existem três formas de reduzir essa carga combustível~:
1- Acção do ecosistema através da biodegradação que em biomas mediterranicos resulta sempre num saldo positivo de matéria seca.
2- Intervenção humana no sentido de gerir essa carga combustível, se quizer, compensação antropogénica.
3- O fogo.
Tendo em consideração que o primeiro não ocorre em Portugal, que o terceiro é indesejável por diferentes motivos, só resta a segunda alternativa.
Por isso em vez de de passar o tempo todo a "cascar" em tudo e em todos, comece de uma vez por todas a contribuir para a solução.
Como já o referi em outras ocasiões, enquanto toda a gente parece ver tragédias e prejuízos nos incêndios florestais, o que eu vejo ali, é acima de tudo energia, muita energia.
E não me venham com a história das centrais bio-termoeléctricas, nem com a questão da logística. O grande potencial da biomassa florestal está na produção de calor e não de electricidade. Hello ?
O que o país precisa neste momento é de pessoas que dediquem o seu tempo à procura de soluções sustentáveis e não de uma série de pseudo peritos que passam a vida a dizer mal de tudo e de todos mas que são incapazes de apresentar qualquer idéia no sentido da resolução do problema.
Já li os seus últimos dois livros e considero-os extremamente valiosos sobretudo em termos da análise da situação, mas não consegui vislumbrar qualquer proposta sustentada no sentido de propor qualquer tipo de solução.
Dir-me-á que isso não é da sua competência. Então será da competência de quêm ? Do governo ? Dos bombeiros ? Dos proprietários florestais ? De cada um de nós ?
Basta de estupidez !
Então vocês adaram a tirar cursos para quê ? Para modelar a mecânica de fluidos do leite derramado ?
Santa paciência!
Concentrem-se no essencial !
Por razões alheias à minha vontade o meu comentário ficou atribuido a "anonymous", quando na realidade deveria constar:
Luis Matos
xantipo@sapo.pt
Pela ocorrência, as minhas desculpas
Afirma Luís Matos:
"E não me venham com a história das centrais bio-termoeléctricas, nem com a questão da logística. O grande potencial da biomassa florestal está na produção de calor e não de electricidade. Hello ?"
[Vou assumir que esse "Hello?" não é o mesmo que os adolescentes mal-educados usam para insinuar que o interlocutor é imbecil, pois nesse caso o seu comentário nem mereceria atenção.]
Pergunto:
E que faria o Luís com esse calor? Um churrasco? Não lhe parece que seria melhor converter o calor numa forma de energia armazenável e transportável?
Ora, transformar a energia térmica em energia eléctrica é uma forma particularmente eficaz de disponibilizar e distribuir a longas distâncias o capital energético da biomassa. Trata-se de uma questão de armazenamento e transporte de energia.
Quanto à sua proposta acerca da gestão das florestas -sobretudo no que concerne à responsabilidade dos proprietários limparem e desmatarem os seus terrenos-, vem ao encontro de vários artigos já publicados neste blogue.
[Corrijo-me: a energia eléctrica serve-nos apenas para distribuir a energia contida na biomassa. Para a armazenarmos teríamos de a converter por seu turno em energia química, gravítica, &c.]
Caro Luís Matos,
A questão da Galiza é grave, como disse, mas a uma escala galega. Comparar a situação da Galiza (com um ano anormal, mas veremos se foi assim tão anormal..)com a portuguesa é um absurdo.
Eu defendo que devemos seguir o modelo espanhol, mas isso jamais evitará que haja um ou outro ano de descontrolo. Mas mesmo o ano de descontrolo não pode atingir os níveis que temos. Um ano de descontroolo, para mim, é ter uma área ardida superior a 100 mil hectares e nunca superior a 150 mil. Ora, nós já não temos menos de 100 mil hectares desde 1999!! E já tivemos 425 e 325 mil e continua a arder apesar disso...
O modelo perfeito será termos boa gestão e boa eficácia do combate (que começa na prevenção e na vigilância). Quando por razões spociais não é possível fazer boa gestão, a solução pode ser a melhoria da eficácia do combate, enquanto não se melhorar a gestão. Mas em Portugal nem a gestão melhora nem o combate melhora. Pelo contrário, tudo piora. E a situação deste ano, na minha opinião, é dramática, porque estão a arder sobretudo concelhos que eram relativamente poupados pelas chamas nos anos anteriores.
Luis Matos said...
Caros Pedro Bingre e Pedro A. Vieira,
Obrigado pelas vossas reacções à minha intervenção. Devo admitir que a minha intervenção possa ter sido um pouco agressiva. Tal deve ser entendido como uma reacção de certa forma inflamada pelo espírito de revolta e desespero que a situação recorrente dos incêndios florestais nos suscita ano após ano.
Este não é o local apropriado para desenvolver em profundidade a minha opinião sobre o assunto. Prometo voltar, quiçá noutra plataforma de comunicação, ao tema em apreço, onde espero apresentar de forma sustentada aquilo que acredito poderá constituir uma alternativa aos modelos actualmente em vigor e que assenta fundamentalmente no desenvolvimento da vertente bioenergética do complexo agro-florestal. Existem milhões e milhões de toneladas de matéria lenhosa ( não considerando o mato) espalhadas pela floresta portuguesa que não têm qualquer valor comercial tradicional, mas que constituiem um importante recurso energético. Um aproveitamento racional deste recurso poderia gerar as mais valias suficientes para que a gestão activa da floresta possa ser encarada com uma alternativa económicamente interessante.
Eu acredito que é possível, por exemplo, que o país possa vir a produzir nos próximos 10 anos, cerca de 1 milhão de toneladas de biocombustíveis sólidos refinados de origem florestal, a que corresponde um valor energético da ordem dos 5000 GWh de energia primária, o que por outro lado corresponderia a uma potencia instalada eólica equivalente de cerca de 2000 MW quase o dobro do valor actual.
Luis Matos
Caro Luís,
Cuidado com as reacções inflamadas, não vá a biomassa pegar fogo!
;-)
PB
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