Estas projecções valem o que valem mas não deixam de ter algum valor indicativo. Sobretudo quando comparados com projecções feitas para outras regiões do planeta.
O mapa que poderão analisar com detalhe, aqui, mostra que Portugal, assim como vastas franjas da Europa de Leste poderão perder quantidades importantes da sua população, enquanto centros mais dinâmicos na Europa ocidental continuarão a manter saldos positivos.
Uma análise mais fina, possível com a utilização da ferramenta de lupa que encontrarão na página, permite detectar que, em Portugal, apenas os grandes pólos urbanos (Lisboa, Porto e alguns pontos do litoral Oeste e Sul) escapam à tendência de perda de população.
Mantém-se, portanto, o fado da Europa da segunda metade do século XX. Êxodo rural generalizado e emigração dos tradicionais Países pobres para os tradicionais Países ricos.
O que não se vê no mapa mas que se sabe por via dos relatórios do banco mundial é que a matriz de emigração se alterou. Nos anos 50 e 60 emigravam essencialmente pessoas com fraca formação profissional e académica, com excepção para alguns exilados políticos provenientes de Países onde vigoravam ditaduras.
Actualmente, além dos emigrantes tradicionais, temos 15% dos licenciados Portugueses a emigrar para outros Países Europeus e eu arrisco a previsão de que cerca de 80% dos novos doutorados Portugueses também se ficam por outras paragens.
Os dados existentes indiciam, assim, que o carácter periférico de Portugal se mantém com alguma tendência para aumentar.
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8 comentários:
Com a lupa também se constata perda de população em vastas zonas dos USA.
Como é que ninguém teve ainda a brilhante ideia de mudar o Estado de Israel para uma dessas zonas? Ficavam os amigos todos reunidos, a humanidade mais tranquila e os 2 milhões de refugiados Palestinianos obteriam uma vida normal.
Portugal tem cada vez menos habitantes, mais uma vez se comprova, no entanto os Planos Directores municipais feitos na década de noventa projectavam habiotação para cinquenta milhões de habitantes.
Esses mecanismos de suposto "ordenamento" estando em vias de ser revistos, num país de gente normal e face às projecções , sugeriria uma revisão em baixa , adaptando à realidade, mas nada disso se está a verificar, o que se conhece da revisãop dos PDM na Margem Sul , vem no sentido de mais e mais betão.
Para além disso inúmeros Planos de Pormenor com alteração de uso do solo de industria ou reserva ambiental para mais habitação foram ou estão em vias de acontecer (ver www.a-sul.blogspot.com).
Mas que esquizofrenia construtiva vem a ser esta se já há uma casa para cada dois portugueses e se no futuro seremos menos???
O subtítulo deste inquietante "post" poderia também ser "Portugal perde população doutorada".
A situação demográfica portuguesa por vezes me evoca a situação italiana. Ambos os povos migraram como lemingues para o Atlântico, tentando chegar ao Brasil ou aos Estados Unidos da América. Cem anos volvidos, a comunidade italiana em ambos os países mantém-se fiel à cultura que lhes deu origem, e marca presença no panorama do poder. Os nossos emigrantes do lado de lá do oceano perderam a cultura portuguesa. Basta circular pelos bairros de "Little Portugal" e "Little Italy", comparando a cultura de uns e de outros, para se perceber a radical distinção sociológica entre ambas as comunidades: os portugueses mantêm-se no "lumpenproletariat" (excepto personalidades empreendedoramente casamenteiras como Maria Teresa Thierstein Simões Ferreira Heinz-Kerry) enquanto os italianos ascendem.
Nunca exportámos emigrantes distintos, a menos que contemos Colón, Velázquez, Spinoza, David Ricardo, John dos Passos e poucos mais. Aparte isso, exportámos também ilustres usufrutuários de rendas como os duques do Cadaval, brilhando perdulariamente por gerações entre a fina-flor da sociedade parisiense com a fortuna propiciada pelos seus arrendatários em Portugal. Quanto ao resto dos cidadãos que partem para além de Vilar Formoso, têm sido quase sempre simples mulheres-a-dias, pedreiros e merceeiros. Profissões decerto honestas e dignas, mas infelizmente incapazes de nos projectar no firmamento das nações exportadoras de cultura e ciência. Somos a chacota do Ocidente, nos raros momentos em que ele nos mira.
O Miguel lança porém o alerta: passámos a exportar doutorados. Oitenta por cento deles. E quinze por cento dos licenciados. Um panorama aflitivo, sobretudo quando começa a aumentar o número de licenciados e doutorados estrangeiros que buscam emprego em Portugal, fugindo com algum desespero ao desemprego que encontram no seu país. Há entre nós franceses, alemães, espanhóis, italianos, holandeses, e doutorados de várias outras nacionalidades que vêm para este "jardim à beira-mar plantado" (nas palavras do olvidado Tomás Ribeiro) em busca de emprego. E isto leva-me a outro questionamento: que fazem os nossos doutorados e licenciados além-fronteiras?
Os jornais têm respondido a esta questão com sensacionalismo: há portugueses professorando na Sorbonne, em Oxbridge, na Ivy League (ah, como gostaria de traduzir isto para "A Liga da Hera", tanto que me cansa o idioma inglês!). Porém, o doutorado médio português não se distingue do doutorado médio europeu, ou seja: está em maus lençóis. Há doutoramentos e há doutoramentos.
Para quem herdou capital e o estudo é um passatempo requintado (como o foi para Darwin, Cavendish, Wittgenstein, von Braun e tantos outros), a sobrevivência material não depende da tese escolhida. É irrelevante a insolvência dos projectos de investigação. Para os restantes, bem - "its' another kettle of fish".
Quem for doutorado em Economia, Gestão, Finanças e Medicina (quatro temas que nunca saem de moda e sempre têm procura), o doutoramento quase garante um emprego. Estes doutorados conseguem sempre trabalho em Portugal - seja o trabalho académico ou "profano". Geralmente escolhem permanecer no estrangeiro por aí terem melhor poder de compra face aos seus salários. Quanto aos restantes licenciados em Antropologia, Sociologia, Ecologia, Biologia, História e afins, espera-os um cartaz garrafal no fim da cerimónia, dizendo:
"Congratulations, you're on the dole!"
A maioria dos nossos emigrantes licenciados e doutorados vive uma vida precária de classe média-baixa nos países de acolhimento, exactamente como vivem os doutorados estrangeiros em Portugal.
A triste verdade de tudo isto -creio eu- é que depois de uma política de "wellfare" financiadora de doutoramentos à margem do mercado de trabalho, regressámos à realidade económica de sempre: nem todos os estudos trazem recompensa laboral. É triste dizê-lo, mas o mercado de trabalho português não está disposto a sustentar especialistas em epigrafia hitita, fitossociologia sigmatista, etnologia pré-colombiana e gramática generativa sino-altaica.
Seria óptimo que Portugal pudesse sustentar um exército de académicos tão brilhante quanto aqueles que nasceram nas classes ociosas vitorianas, que dedicavam uma vida inteira à "ciência pura" enquanto a esmagadora maioria da população tinha de ganhar a vidinha e pagar o tributo aos lordes estudiosos.
Não sei qual será a solução para tudo isto, mas intuo que passará por uma aposta clara, no curto prazo, pela aposta preferencial em doutoramentos com impacto económico imediato (na esteira da estratégia educacional finlandesa), e no combate sem tréguas às sinecuras politicamente atribuídas.
Num país de escassíssimos recursos como o nosso, é cruel e contra-producente que se mantenham jovens a viver de bolsas de estudo até aos trintas e além, dando-lhes a crer que um dia chegará um contrato vitalício. Não chegará.
Pouco posso fazer para consolar o Pedro.
Todavia, sugiro-lhe a si a e todos os leitores que oucam os surpreentes programas da radio 3 da BBC sobre musica renascentista e barroca Portuguesa.
http://www.bbc.co.uk/radio/aod/mainframe.shtml?http://www.bbc.co.uk/radio/aod/radio3.shtml
Basta entrar no site e navegar ate' ao programa:
"The Early Music Show"
Ai escolher para ouvir os programas de Sabado e Domingo.
Simplesmente fantastico e de fazer corar a nossa antena dois da RDP, so' para referir um dos canais de media com mais categoria nas nossas bandas.
O que e' que isto tem a ver com o tema?
Muito.
...Pois a fantástica ironia, caro Miguel, é que estava *mesmo* a escutar a BBC4 quando escrevi o "post", e continuava a fazê-lo quando li a tua resposta.
Estas previsões não têm sentido nenhum.
Ninguém sabe prever o futuro.
Tudo depende de movimentos migratórios. A natalidade não tem grande importância, em face dos movimentos migratórios. E esses são difíceis de prever, porque dependem da saúde económica dos países.
Ninguém sabe prever como evoluirá o preço dos combustíveis fósseis. E esse é o fator mais importante na nossa civilização.
Luís Lavoura
Qual é o problema de licenciados e doutorados portugueses irem para o estrangeiro, se se reconhece que também há licenciados e doutorados estrangeiros que vêem para cá?
Portugal está cheio de imigrantes licenciados e doutorados. Em particular, montes de imigrantes ucranianos licenciados.
É normal que as pessoas, licenciadas e doutoradas, venham e vão. Os portugueses vão para o estrangeiro, os estrangeiros vêem para Portugal. Isso é ótimo.
O que não é ótimo, é a qualidade do trabalho que esses licenciados e doutorados executam. Cá, muitos estão nas obras. No estrangeiro, nem tanto.
Luís Lavoura
As palavras sempre servem para alguma coisa e se o Luis reparar nao e' a palavra previsao que aparece no texto nem na pagina web mas a palavra projeccao.
As projeccoes sao condicionais, as previsoes tambem sao mas fingem nao ser.
E' obvio que estas projeccoes sao feitas com base em cenarios "business as usual".
Se o curso da historia se alterasse as projeccoes ficariam sem efeito e teriam de ser recalculadas.
Mas se nao se alterassem eu estaria disposto a fazer o meu voto de confianca numa projeccao que salienta os padroes em curso:
* crescimento demografico no sul
* dinamicas centro periferia no norte, com perdas na periferia e ganhos no centro.
Mais do que os valores absolutos o que interessa e' o padrao geografico de perdas e ganhos.
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