Do público de segunda feira:
""Estamos melhor porque há menos focos e os que se iniciam estão a apagar-se rapidamente", avaliou o Ministro". O comentário diz respeito a Espanha/ Galiza.
Do público de terça feira:
"Por enquanto a prioridade da Xunta é combater os incêndios que ainda se mantêm activos, pelo que não há cálculos da área ardida. Contudo, baseando-se nas suas fotografias de satélite, os norte americanos da Nasa admitem que mais de 170 mil hectares terão sido pasto das chamas"
Há ainda a informação relevante de que cerca de 50% das ignições em Espanha são na Galiza (não este ano, em vários anos). Tendo a Galiza cerca de 2 milhões de hectares, tendo Portugal cerca de 9 milhões de hectares e sendo a Espanha cinco vezes maior que Portugal, facilmente se percebe como podem ser enganadoras quaisquer comparações entre Portugal e Espanha nesta matéria.
Penso pois que facilmente se conclui, sem margem para dúvidas, o seguinte:
Há uma evidente relação entre área ardida e condições meteorológicas conjunturais (geralmente associadas às condições meteorológicas em que o rumo dominante do vento é Leste). Repare-se como o vento soprou desse rumo (enfim, mas nordeste menos nordeste de vez em quando) durante nove dias, em que ardeu a fachada atlântica da península a norte do Tejo (aparentemente agravando-se à medida que se caminha mais para Norte). Houve alguns fogos importantes no meio do Alentejo, mas parecem pouco significativos na intepretação do que se passou.
É evidente que essa relação das condições conjunturais com o fogo pressupõe condições estruturais de vulnerabilidade, decorrentes da acumulação de combustíveis, matéria que depende essencialmente das condições sócio-económicas de uso do território.
Parece-me ainda evidente que a fachada atlântica da península ibérica é especialmente vulnerável à combinação de condições estruturais e conjunturais que provocam estes episódios dramáticos para as populações e para a economia florestal (e também turística).
Continua sem haver evidência de afectação significativa do património natural, mas naturalmente este tipo de análises só podem ser feitos a partir da próxima Primavera.
Diz-se agora que diminuições de área ardida resultam sobretudo de não ter ardido em anos anteriores. Sendo certo que esse é um factor a ter em atenção, sobretudo na extensão de áreas contínuas ardidas pela eventual existência de descontinuidades de combustíveis, convém no entanto não sobrevalorizar este aspecto: Portugal tem cerca de nove milhões de hectares, destes cerca de um terço arde pouco, e cerca de 30% do restante também é menos atreito ao fogo. O que significa que cerca de 4,2 milhões de hectares são potencialmente vulneráveis ao fogo. Mesmo admitindo que nos últimso anos ardeu cerca de um milhão de hectares (contas generosas), mesmo admitindo que quatro anos não são suficientes para repôr grande parte do potencial de fogo (o que dou de barato que seja parcialmente verdade), o certo é que sobram mais de três quartos de áreas potencialmente vulneráveis que não arderam nos últimos anos.
Pois é sobre isso que um dias destes falarei, procurando explicar por que razão esse não é um problema de política florestal, mas um problema de desenvolvimento rural.
henrique pereira dos santos
quarta-feira, agosto 16, 2006
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3 comentários:
Bruxelas, 16 de Agosto de 2006
De 31 de Julho a 14 de Agosto, a cartografia dos incêndios de extensão superior a 50 hectares por imagens de satélite aponta para um aumento das áreas ardidas de 13 591 para 49 881 ha em Portugal e de 2 241 para 88 473 ha na Galiza. A 31 de Julho, os incêndios florestais destruíram já mais de 64 500 ha de floresta na UE. Esta informação, transmitida pelos Estados-Membros e que se reporta, foi compilada graças ao Sistema de Informação sobre Incêndios Florestais na Europa (EFFIS), criado pela Comissão Europeia e cujo objectivo consiste no acompanhamento do risco de incêndio nas florestas da Europa, fornecendo aos Estados-Membros um instrumento de alerta precoce e de avaliação rápida dos danos. Após um início bastante calmo do período dos incêndios nas regiões mediterrânicas, verificou-se no início de Agosto um aumento acentuado dos incêndios e das áreas ardidas, sobretudo na Galiza (Espanha) e em Portugal. Por outro lado, no Norte da Europa, registou-se um risco invulgarmente elevado de incêndio em certas regiões na Primavera e no início do Verão. Os valores para 2006 estão até agora muito aquém dos 610 000 ha (i.e., o dobro da área do Luxemburgo) ardidos em 2005, mas a época de incêndios não terminou ainda.
Caramba, Henrique, já cheira a desonestidade intelectual (e digo isso, porque considerando-te inteligente) insistires ad nauseum na questão dos ventos de leste como quase única causa para os incêndios. Vai a este link (http://scrif.igeo.pt/satelites/satelite.html) e verificarás que existiram incêndios grandes, em anos anteriores, tantos com ventos de leste como com outros ventos (olhar para a direcção das plumas).
Por outro lado, colocaste no post um dado dos fogos da Galiza que é um disparate (esse valor foi lançado pelo PP espanhol...), pois o valor foi sensivelmente metade. Aliás, como bem colocas no comentário anterior. O valor para a Galiza é bastante elevado (no ano passado ardeu 57 mil hectares), mas ainda não é tão catastrófico como os anos de 2003 e 2005 para Portugal.
Insistir que o fogo está relacionado com a meteorologia constitui apenas uma desculpa para o falhanço de Portugal em matéria de incêndios. Portugal é o único país da Europa do Sul em que tal acontece, logo é uma excepção...
As contas que fazes sobre a área vulnerável ao fogo (4,2 milhões de hectares) são um disparate tão grande que nem merecem comentário.
Esta tua frase então [Mesmo admitindo que nos últimso anos ardeu cerca de um milhão de hectares (contas generosas), mesmo admitindo que quatro anos não são suficientes para repôr grande parte do potencial de fogo (o que dou de barato que seja parcialmente verdade), o certo é que sobram mais de três quartos de áreas potencialmente vulneráveis que não arderam nos últimos anos] é de uma demagogia atroz, para além de conter erros de palmatória.
Quanto à perda do património natural, enfim já estou habituado a que queiram minimizar os estragos dos fogos incontrolado. A Natureza recupera, não é? Como não avaliamos nunca nada perdemos, não é?
Estive a ver o fantástico site que o Pedro indicou, e que agradeço.
Tem razão o Pedro no sentido em há várias imagens com plumas que não indicam vento Leste.
Há um aspecto muito interessante e que vale a pena partilhar porque é bem possível que eu esteja a torcer o que vejo, podendo um olhar mais independente demonstrar-me o contrário, apontando-me os erros de análise.
Quando há fotografias apenas de um momento, muitas vezes as plumas indicam os mais variados rumos.
Mas quando há períodos de dias seguidos em imagem há uma coisa extraordinária: uma dominância de plumas indicando o vento Leste nos primeiros dias e depois, mais para o fim, uma dispersão de rumos.
Ora quando há imagens de dias isolados, a fotografia é normalmente escolhida para evidenciar as áreas ardidas, isto é, estas imagens traduzem sobretudo a situação no fim dos grandes fogos.
Se alguém tiver acesso a imagens do início dos períodos de grandes fogos acho que poderia contribuir de forma muito útil para esta discussão, pese embora ser evidente que não há só fogos com vento Leste (só alguém inteiramente estúpido diria isso, visto que há fogos quase todos os dias).
Sobretudo eu estaria interessado no grande incêndio do Caldeirão, em 2004, e do qual só há uma imagem que obviamente é de um período em que o fogo já se tinha desenvolvido muito, teria mesmo muito interesse em ver as plumas dos dias anteriores porque me parece que foge do padrão que tenho vindo a defender e sempre fui de opinião que se aprende mais com o que questiona as nossas certezas que com o que o confirma.
henrique pereira dos santos
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