(como complemento do oportuno post do Henrique, uma reflexão sobre algo que não é feita de uma forma assim tão inconsciente por parte do Governo... na minha opinião, é intencional)
Este Verão, como se sabe, foi publicada a Estragégia Nacional para as Florestas, com pompa e circunstância. Muito a propósito, foi definida como metas em termos de destruição pelos fogos um patamar de 100 mil hectares - ou seja, abaixo disso considerar-se-ia um ano positivo. Ora, este ano não se atingirá, em princípio, os 100 mil hectares, logo 2006 é um ano «oficialmente» bem sucedido, como muito bem tem sido destacado por quase todos os quadrantes, comunicação social incluída.
No entanto, convém recordar que, há sete anos, um Governo socialista - no qual estavam vários ministros do actual Governo, incluindo o primeiro-ministro José Sócrates- diria que agora se estaria muito longe do sucesso. Com efeito, em 1999 foi publicado o Plano de Desenvolvimento Sustentável da Floresta Portuguesa, um extenso documento que ocupou 50 páginas do Diário da República de 30 de Abril desse ano. Dado que se considerava que no período 1992-1997 tinha ardido muito (um total de 473.312 hectares, uma média anual de 78.885 hectares), o então Governo socialista estipulava várias metas faseadas, que eram, de facto, tecnicamente correctas.
Assim, para o período 1998-2003 deveria haver uma redução de 20% (em relação ao período 1992-1997), significando que seria apenas admissível uma área ardida total de 378.650 hectares - ou seja, uma média anual de 63.108 hectares. E o que aconteceu? Arderam afinal 1.050.861 hectares - ou seja, uma média anual de 175.144 hectares. Significa então que em vez de uma redução de 20%, tivemos um aumento de 122%. Noutra perspectiva, ardeu 2,8 vezes mais do aquilo que se prometera.
O mesmo Plano era ainda mais ambicioso para o período 2003-2008 (ainda em curso), pois em relação ao período 1992-1997 apontava para uma redução de 50%. Ou seja, nestes seis anos apenas seria admissível arder, no conjunto, 236.656 hectares, o que daria uma média anual de 39.442 hectares.
Porém, tendo passado apenas quatro anos, já se contabilizam 963.738 hectares (incluindo os 70.231 hectares apontados pela DGRF para este ano), o que dá por agora uma média anual de 240.935 hectares. Significa portanto que em vez de uma redução média de 50%, em relação ao período de referência (1992-1997), regista-se actualmente um aumento de 205%! Ou, noutra perspectiva, em média ardeu seis vezes mais do aquilo que o Governo socialista de António Guterres prometera. E se se reparar, mesmo neste ano de 2006 (um «oficial sucesso» com os seus «provisórios» 70.231 hectares) estamos muito acima - quase duas vezes mais - do valor médio (39.442 hectares) apontado pelo plano socialista de 1999.
Mas, claro, mudando-se a «fasquia» por decreto consegue-se sempre transformar algo de péssimo, em algo de bom. Porém, não é por isso que a floresta portuguesa se tornará sustentável. Pelo contrário, com as actuais metas da Estratégia Nacional, o Governo apenas se está a iludir e a iludir-nos (com a ajuda da comunicação social), pois julga-se que tudo vai bem, quando afinal tudo continua mal. Isto é, o país até pode cumprir as metas políticas, mas a floresta nunca se tornará economicamente sustentável.
Este Verão, como se sabe, foi publicada a Estragégia Nacional para as Florestas, com pompa e circunstância. Muito a propósito, foi definida como metas em termos de destruição pelos fogos um patamar de 100 mil hectares - ou seja, abaixo disso considerar-se-ia um ano positivo. Ora, este ano não se atingirá, em princípio, os 100 mil hectares, logo 2006 é um ano «oficialmente» bem sucedido, como muito bem tem sido destacado por quase todos os quadrantes, comunicação social incluída.
No entanto, convém recordar que, há sete anos, um Governo socialista - no qual estavam vários ministros do actual Governo, incluindo o primeiro-ministro José Sócrates- diria que agora se estaria muito longe do sucesso. Com efeito, em 1999 foi publicado o Plano de Desenvolvimento Sustentável da Floresta Portuguesa, um extenso documento que ocupou 50 páginas do Diário da República de 30 de Abril desse ano. Dado que se considerava que no período 1992-1997 tinha ardido muito (um total de 473.312 hectares, uma média anual de 78.885 hectares), o então Governo socialista estipulava várias metas faseadas, que eram, de facto, tecnicamente correctas.
Assim, para o período 1998-2003 deveria haver uma redução de 20% (em relação ao período 1992-1997), significando que seria apenas admissível uma área ardida total de 378.650 hectares - ou seja, uma média anual de 63.108 hectares. E o que aconteceu? Arderam afinal 1.050.861 hectares - ou seja, uma média anual de 175.144 hectares. Significa então que em vez de uma redução de 20%, tivemos um aumento de 122%. Noutra perspectiva, ardeu 2,8 vezes mais do aquilo que se prometera.
O mesmo Plano era ainda mais ambicioso para o período 2003-2008 (ainda em curso), pois em relação ao período 1992-1997 apontava para uma redução de 50%. Ou seja, nestes seis anos apenas seria admissível arder, no conjunto, 236.656 hectares, o que daria uma média anual de 39.442 hectares.
Porém, tendo passado apenas quatro anos, já se contabilizam 963.738 hectares (incluindo os 70.231 hectares apontados pela DGRF para este ano), o que dá por agora uma média anual de 240.935 hectares. Significa portanto que em vez de uma redução média de 50%, em relação ao período de referência (1992-1997), regista-se actualmente um aumento de 205%! Ou, noutra perspectiva, em média ardeu seis vezes mais do aquilo que o Governo socialista de António Guterres prometera. E se se reparar, mesmo neste ano de 2006 (um «oficial sucesso» com os seus «provisórios» 70.231 hectares) estamos muito acima - quase duas vezes mais - do valor médio (39.442 hectares) apontado pelo plano socialista de 1999.
Mas, claro, mudando-se a «fasquia» por decreto consegue-se sempre transformar algo de péssimo, em algo de bom. Porém, não é por isso que a floresta portuguesa se tornará sustentável. Pelo contrário, com as actuais metas da Estratégia Nacional, o Governo apenas se está a iludir e a iludir-nos (com a ajuda da comunicação social), pois julga-se que tudo vai bem, quando afinal tudo continua mal. Isto é, o país até pode cumprir as metas políticas, mas a floresta nunca se tornará economicamente sustentável.
2 comentários:
parabéns. é tão bom ter memória.
e nós tendemos a não fazer esse exercício que fez. parabéns.
também seria interessante comparar as medidas propostas por um e outro plano. é que somos tão bons a fazer planos. e depois melhorá-los. de depois melhorar outra vez. e se preciso ainda mais uma vez. a realidade, essa vai passando...
Bom post.
Mas, porque é que, quando se fala da floresta portuguesa e dos objetivos para ela, só se fala dos fogos e da área que eles consomem? Não haverá outros objetivos? Por exemplo, objetivos em termos de espécies plantadas, em termos de espécies infestantes, em termos de floresta autótone, em termos de produção de biomassa, em termos de produção de outros produtos - sei lá, bolotas, pesticidas naturais, mel?
Será que a extensão dos fogos é a única medida do (in)sucesso na floresta portuguesa?
Luís Lavoura
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