O público de hoje tem a sua principal manchete dedicada aos fogos no Gerês.
No essencial a manchete (a principal manchete do jornal, não um título de uma notícia no interior) refere que há projectos de prevenção de fogos no Gerês que estão parados há quatro anos por falta de verbas (supõe-se que alguém considera isto implicitamente uma coisa inconcebível).
No interior uma notícia sobre a visita da comissão eventual de fogos à zona do Ramiscal é tratada de uma forma razoável, e no meio lá tem a tal revelação de um deputado que há uns projectos de pontos e água e de melhoria de caminhos que não avançam, com uma vaga referência ao facto dos bombeiros se queixaram da falta de acessos no combate ao fogo (o que nem se percebe muito bem porque o fogo passou várias estradas alcatroadas sem que parasse, portanto não percebi bem a que propósito é que se diz que com melhores acessos a coisa tinha corrido melhor).
Na realidade a notícia tem apenas um ponto verdadeiramente significativo: a surpresa da ilustre comitiva (ou pelo menos de parte dela) pelo facto de ver um manto de verde sobre o negro (suponho que se tratam das copas dos carvalhos não totalmente ardidos como parece previsível em face das fotografias, que são poucas, que conheço da área ardida e da própria história do fogo, mas a notícia não é muito clara nesse ponto, o que é pena).
A jornalista fez o seu trabalho, mas o que espanta é o trabalho do editor e do responsável pela primeira página do jornal.
A falta de senso do destaque dado ao assunto, a ideia de que todos os projectos de prevenção de incêndios devem avançar sem consideração dos meios envolvidos e da sua eficácia, a ideia de que pontos de água e acessos são sempre de apoiar (na realidade os efeitos negativos da abertura e franqueamento de acessos em áreas sensíveis são incomparavelmente maiores que o dos fogos, mas aparentemente isso é matéria que nem vale a pena discutir num país que abre estradas por todo lado, mesmo que não saiba para quê, ou com vagas justificações do combate aos fogos), são ideias mediaticamente comuns.
Mas que um jornal como o público não se questione minimamente sobre a diferença entre o senso comum e o bom senso é mesmo o que mais me espanta.
henrique pereira dos santos
quarta-feira, setembro 13, 2006
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1 comentário:
Pois não me surpreende nada. A manipulação dos títulos, as notícias com os pés a escrever, a manipulação de declarações. O jornalismo, genericamente e no caso concreto do Público, desceu a níveis de mau produto comercial cuja função é vender anúncios, e por isso é servido por estagiários em deficientes condições laborais, craques que não metem as mãos na lama à espera de algum sol e editores desqualificados e que nem para continuos serviriam.
Mas os média que temos são estes. Parece que o Público não por muito tempo.
Aparecerá pior, podem crer.
Felizmente temos os blogs.
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