Fazer uma avaliação objectiva do desempenho das operações de combate é sempre uma tarefa complicada em Portugal. Por um lado, porque não existem dados muito fiáveis; por outro, não estão defindidos objectivos que permitam depois saber se esses desempenhos são bons ou maus.
Venho, assim, propor à discussão um modelo muito expedito para a definição de critérios simples e objectivos para, de uma forma expedita, se poder avaliar o desempenho distrital do combate ao incêndios. Gostaria de obter os vossos comentários e sugestões.
Os critérios que utilizei foram os seguintes:
A - Área de afectação por distrito em relação ao período 1997-2005
Comparei a área ardida este ano em cada distrito com o de cada ano inteiro do período 1996-2005, hierarquizando de 1º até ao 10º lugar. Se este ano fosse o pior (1º em área ardida) teria 10 pontos, se fosse o segundo pior (2º em área ardida) teria 9 pontos e assim sucessivamente até ao melhor ano (10º em área ardida) em que se atribuiria 1 ponto. Este critério tem um factor de ponderação de 2 no índice total.
B - Percentagem de incêndios (área ardida superior a um hectare) que ultrapassaram os 100 hectares
Calculando este indicador a nível distrital, comparou-se cada valor distrital com a média nacional (3,2%). A pontuação atrbuída a cada distrito foi feita em função do desvio em relação à média, da seguinte forma:
0,0% - 0 pontos
0,1%-2,4% - 1 ponto
2,5%-3,2% - 2 pontos
3,3%-4,0% - 3 pontos
4,1%-4,8% - 4 pontos
> 4,9% - 5 pontos
Este critério tem um factor de ponderação de 2 no índice total.
A percentagem obtida para cada distrito (até 31 de Agosto) foram os seguintes (entre parêntesis estão os valores, respectivamente dos incêndios com mais de 100 hectares e a totalidade dos incêndios):
Aveiro - 2,1% (2/93)
Beja - 5,6% (1/18)
Braga - 3,8% (18/476)
Bragança - 5,1% (5/99)
Castelo Branco - 3,7% (3/81)
Coimbra - 2,2% (2/92)
Évora - 9,3% (4/43)
Faro - 0,0% (0/47)
Guarda - 5,1% (8/157)
Leiria - 3,3% (2/60)
Lisboa - 0,0% (0/166)
Portalegre - 4,3% (1/23)
Porto - 1,5% (7/476)
Santarém - 6,3% (6/95)
Setúbal - 4,8% (4/84)
Viana do Castelo - 5,1% (17/335)
Vila Real - 1,9% (5/269)
Viseu - 2,5% (7/283)
C - Número de incêndios com mais de 500 hectares, até 1.000 hectares
Por cada incêndio desta dimensão atribuiu-se 5 pontos. Os distritos que registaram incêndios (até 31 de Agosto) desta dimensão foram os seguintes:
Braga - 2
Évora - 1
Guarda - 1
Porto - 2
Viana do Castelo 4
Este critério tem um factor de ponderação de 1 no índice total.
D - Número de incêndios com mais de 1.000 hectares
Por cada incêndio atribuiu-se 10 pontos. Os distritos que registaram incêndios desta dimensão (até 31 de Agosto) foram os seguintes:
Braga - 1
Évora - 1
Viseu - 2
Este critério tem um factor de ponderação de 1 no índice total.
Deste modo, o índice total de desempenho é calculado da seguinte forma:
ID = 2A + 2B + 1C + 1D
Abaixo apresenta-se o quadro com os resultados finais até 31 de Agosto:
Venho, assim, propor à discussão um modelo muito expedito para a definição de critérios simples e objectivos para, de uma forma expedita, se poder avaliar o desempenho distrital do combate ao incêndios. Gostaria de obter os vossos comentários e sugestões.
Os critérios que utilizei foram os seguintes:
A - Área de afectação por distrito em relação ao período 1997-2005
Comparei a área ardida este ano em cada distrito com o de cada ano inteiro do período 1996-2005, hierarquizando de 1º até ao 10º lugar. Se este ano fosse o pior (1º em área ardida) teria 10 pontos, se fosse o segundo pior (2º em área ardida) teria 9 pontos e assim sucessivamente até ao melhor ano (10º em área ardida) em que se atribuiria 1 ponto. Este critério tem um factor de ponderação de 2 no índice total.
B - Percentagem de incêndios (área ardida superior a um hectare) que ultrapassaram os 100 hectares
Calculando este indicador a nível distrital, comparou-se cada valor distrital com a média nacional (3,2%). A pontuação atrbuída a cada distrito foi feita em função do desvio em relação à média, da seguinte forma:
0,0% - 0 pontos
0,1%-2,4% - 1 ponto
2,5%-3,2% - 2 pontos
3,3%-4,0% - 3 pontos
4,1%-4,8% - 4 pontos
> 4,9% - 5 pontos
Este critério tem um factor de ponderação de 2 no índice total.
A percentagem obtida para cada distrito (até 31 de Agosto) foram os seguintes (entre parêntesis estão os valores, respectivamente dos incêndios com mais de 100 hectares e a totalidade dos incêndios):
Aveiro - 2,1% (2/93)
Beja - 5,6% (1/18)
Braga - 3,8% (18/476)
Bragança - 5,1% (5/99)
Castelo Branco - 3,7% (3/81)
Coimbra - 2,2% (2/92)
Évora - 9,3% (4/43)
Faro - 0,0% (0/47)
Guarda - 5,1% (8/157)
Leiria - 3,3% (2/60)
Lisboa - 0,0% (0/166)
Portalegre - 4,3% (1/23)
Porto - 1,5% (7/476)
Santarém - 6,3% (6/95)
Setúbal - 4,8% (4/84)
Viana do Castelo - 5,1% (17/335)
Vila Real - 1,9% (5/269)
Viseu - 2,5% (7/283)
C - Número de incêndios com mais de 500 hectares, até 1.000 hectares
Por cada incêndio desta dimensão atribuiu-se 5 pontos. Os distritos que registaram incêndios (até 31 de Agosto) desta dimensão foram os seguintes:
Braga - 2
Évora - 1
Guarda - 1
Porto - 2
Viana do Castelo 4
Este critério tem um factor de ponderação de 1 no índice total.
D - Número de incêndios com mais de 1.000 hectares
Por cada incêndio atribuiu-se 10 pontos. Os distritos que registaram incêndios desta dimensão (até 31 de Agosto) foram os seguintes:
Braga - 1
Évora - 1
Viseu - 2
Este critério tem um factor de ponderação de 1 no índice total.
Deste modo, o índice total de desempenho é calculado da seguinte forma:
ID = 2A + 2B + 1C + 1D
Abaixo apresenta-se o quadro com os resultados finais até 31 de Agosto:
Distritos | A | B | C | D | Total |
Viana do Castelo | 16 | 10 | 20 | 20 | 66 |
Évora | 18 | 10 | 10 | 5 | 43 |
Braga | 16 | 6 | 10 | 10 | 42 |
Viseu | 4 | 4 | 20 | 0 | 28 |
Porto | 10 | 2 | 0 | 10 | 22 |
Setúbal | 14 | 8 | 0 | 0 | 22 |
Beja | 8 | 10 | 0 | 0 | 18 |
Portalegre | 10 | 8 | 0 | 0 | 18 |
Guarda | 2 | 10 | 0 | 5 | 17 |
Santarém | 6 | 10 | 0 | 0 | 16 |
Bragança | 2 | 10 | 0 | 0 | 12 |
Aveiro | 8 | 2 | 0 | 0 | 10 |
Castelo Branco | 4 | 6 | 0 | 0 | 10 |
Leiria | 4 | 6 | 0 | 0 | 10 |
Coimbra | 4 | 2 | 0 | 0 | 6 |
Faro | 2 | 0 | 0 | 0 | 2 |
Lisboa | 2 | 0 | 0 | 0 | 2 |
Esta avaliação parece permitir concluir a existência de profundas diferenças de desempenho a nível distrital, como se constata pelos valores total do índice. Ou seja, há «oitos» e «oitentas». Há distritos com bons resultados e outros que estão numa desgraça.
Com efeito, este ano está a ser um desastre nos distritos de Viana do Castelo, Braga e Évora. Nos dois primeiros distritos, este ano já será, pelo menos, o terceiro pior da última década e em Évora será, pelo menos, o segundo pior. Acresce que estes distritos são, além de Viseu, os únicos onde se registaram já incêndios com mais de mil hectares. Os dois distritos do Minho têm, aliás, desempenhos piores do que a Galiza. De facto, em território galego, os terríveis incêndios deste Verão afectaram cerca de 3% da sua superfície total. Nos dois distritos minhotos já se vai em 5%. Aliás, os três piores distritos contribuiram em 54% para o total da área ardida do país.
No entanto, não há só más notícias. Em três distritos (Lisboa, Faro e Guarda), o ano de 2005 está a ser o mais calmo da última década. E em 14 dos 18 distritos, este ano nem sequer aparece (por agora, saliente-se) nos cinco piores anos da última década. Porém, Lisboa nunca foi distrito que ardesse muito e os outros dois distritos foram bastante flagelados nos últimos três anos. Em todo o caso, a generalidade dos distritos está a ter um ano calmo, em alguns casos devendo-se às condições meteorológicas, mas também certamente - assim espero - a uma melhoria da eficácia do combate. Porém, como tenho dito, é de elementar prudência não festejar, porque o ano não acabou nem um bom ano significa que os próximos o sejam.
Para mim, esta avaliação serve sobretudo para questionar as razões para que alguns distritos (sobretudo Viana do Castelo, Évora, Braga e, também em certa medida, Viseu) não estão a ter desempenhos idênticos aos outros, pois se assim fosse o ano estaria até a ser muito, muito bom. E esta avaliação (com estes ou outros critérios objectivos) torna-se, além do mais, fundamental para questionar o trabalho dos coordenadores distritais do Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil. E elogiar os que estão a fazer um bom trabalho. Em suma, separar o trigo do joio.
Com efeito, este ano está a ser um desastre nos distritos de Viana do Castelo, Braga e Évora. Nos dois primeiros distritos, este ano já será, pelo menos, o terceiro pior da última década e em Évora será, pelo menos, o segundo pior. Acresce que estes distritos são, além de Viseu, os únicos onde se registaram já incêndios com mais de mil hectares. Os dois distritos do Minho têm, aliás, desempenhos piores do que a Galiza. De facto, em território galego, os terríveis incêndios deste Verão afectaram cerca de 3% da sua superfície total. Nos dois distritos minhotos já se vai em 5%. Aliás, os três piores distritos contribuiram em 54% para o total da área ardida do país.
No entanto, não há só más notícias. Em três distritos (Lisboa, Faro e Guarda), o ano de 2005 está a ser o mais calmo da última década. E em 14 dos 18 distritos, este ano nem sequer aparece (por agora, saliente-se) nos cinco piores anos da última década. Porém, Lisboa nunca foi distrito que ardesse muito e os outros dois distritos foram bastante flagelados nos últimos três anos. Em todo o caso, a generalidade dos distritos está a ter um ano calmo, em alguns casos devendo-se às condições meteorológicas, mas também certamente - assim espero - a uma melhoria da eficácia do combate. Porém, como tenho dito, é de elementar prudência não festejar, porque o ano não acabou nem um bom ano significa que os próximos o sejam.
Para mim, esta avaliação serve sobretudo para questionar as razões para que alguns distritos (sobretudo Viana do Castelo, Évora, Braga e, também em certa medida, Viseu) não estão a ter desempenhos idênticos aos outros, pois se assim fosse o ano estaria até a ser muito, muito bom. E esta avaliação (com estes ou outros critérios objectivos) torna-se, além do mais, fundamental para questionar o trabalho dos coordenadores distritais do Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil. E elogiar os que estão a fazer um bom trabalho. Em suma, separar o trigo do joio.
4 comentários:
Penso que para avaliar o desempenho no combate aos fogos não se pode analisar somente o resultado final (área ardida), pois este depende de muitos factores que são alheios ao combate "per se".
A interacção entre a estrutura da paisagem, as condições metereológicas do momento, as condições climáticas do ano anterior, a origem do fogo (acidente, natural ou posto seguindo uma estratégia elaborada com vista a dificultar o trabalho dos bombeitos, etc) são todos factores tão ou mais importantes do que a capacidade de corporação A ou B.
Sem consideração desses factores é muito fácil cometer erros e injustiças criando-se assim, potencialmente, um problema maior do que o que se resolve.
O índice proposto poderá ser entendido como um índice de gravidade ou de incidência dos incêndios, mas nunca como um índice de desempenho do combate. Para tal teria que considerar as condições de vegetação, meteorologia e topografia, que determinam a dificuldade de supressão do fogo, bem como os meios de combate utilizados (tipo e quantidade). Ora uma análise deste tipo só é possível à escala do fogo individual e implica a realização de um estudo de caso detalhado, para o qual há que ter conhecimento e informação que simplesmente não está ao alcance dos técnicos que labutam nos serviços do Estado; os 2 tristes relatórios produzidos pela extinta APIF para os incêndios da Arrábida e Caldeirão mostraram-no bem...
Caro Miguel e Paulo Fernandes:
Obrigado pelos vossos comentários. Obviamente que este inicador é expedito e, portanto, propicia alguns erros. Mas gostava de vos chamar a atenção de alguns aspectos.
a) Este indicador não tem em conta a área total ardida, mas sim a % de fogos que ultrapassam os 100 hectares; bem como o número de fogos que ultrapassam os 500 e os com mais de 1.000 hectares. Neste último caso, introduzir um outro intervalo (fogos com mais de 2.000 hectares, etc.) não seria correcto, porque estaria a prejudicar as regiões que têm maior extensão contínua de coberto vegetal.
b) A interacção entre a estrutura da paisagem, as condições meteorológicas, etc., são obviamente aspectos fundamentais. Mas aí é que está, a meu ver, o interesse deste indicador, porque procura identificar as regiões onde o sistema de combate está desajustado a essas mesmas condições. Se forem a ver, o Alentejo tem muito poucas ignições e , na generalidade do seu território, tem um coberto vegetal menos propício a fogos de grande dimensão. No entanto, é das regiões que nos últimos anos mostra piores desempenhos em termos de eficácia do combate. Vejam o caso de Évora, ter quase 10% dos poucos incêndios a ultrapassarem 100 hectares é demonstrativo de problemas de eficácia.Aliás, o Alentejo é das regiões com menor capacidade de combate; pelo que estes resultados deveria significar um reforço dos meios de combate (sobretudo na primeira intervenção).
c)Sou obviamente adepto das avaliações no terreno, mas isso infelizmente não se faz em Portugal e receio que não se venha a fazer (recordam-se do ministro Antónmio Costa ter prometido uma avaliaçãop do incêndio em Junho que causou quase 3 mil hectares de área ardida?Onde estão os resultados?). Mas mesmo à frente de um computador, e olhando para o site do SNBPC se notam erros de avaliação no combate aos incêndios em algumas regiões. O caso mais conhecido foi o que afectou em Agosto o PNPG, mas ainda há dias reparei noutro caso em Murça. Nas primeira 6 horas estiveram no combate no máximo 26 bombeiros. Claro que a coisa complicou-se e somente foi extinto mais de 30 horas depois, com o apoio de cerca de 250 bombeiros.
d) A alternativa a não fazer qualquer avaliação (mesmo cometendo algumas injustiças) é continuar tudo na mesma. Na minha modesta opinião, este indicador comete mais injustiças por defeito (ou seja, dar boas classificações a distritos que nos anos anteriores foram muito afectados, como é o caso de Faro) do que atribuir injustamente más classificações a distritos que efectivamente tiveram problemas graves.
d) Mas, claro, este é um indicador algo simplista, mas julgo ter a virtude de, pelo menos, identificar regiões onde muito provavelmente as coisas têm se ser estudadas com maior profundidade e rectificado o sistema de vigilância, primeira intervenção e combate.
E já agora, gostaria de fazer esta avaliação para um período mais alargado de anos (pelo menos 5), mas receio que me dê demasiado trabalho. Mas até tenho curiosidade de o aplicar. Se o tempo (e a paciência) o permitir, farei isso, introduzindo eventualmente (mesmo com os erros conhecidos) um índice de primeira intervenção (% de fogachos extintos antes de superarem um hectare).
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