terça-feira, novembro 07, 2006

O que arde na península


O que ardeu em 2006 (até Agosto)


O que ardeu nos últimos seis anos

henrique pereira dos santos

9 comentários:

Pedro Almeida Vieira disse...

Henrique,

A legenda do segundo mapa tem falta de umas palavras.«Esqueceste-te» de acrescentar «e que não poderia ter ardido este ano»..

Eu começo a não achar grande piada a pessoas que sabem bem que áreas ardidas funcionam como zonas-tampão (aliás, o fogo incontrolado «funciona», nesta matéria, melhor do que o fogo oontrolado) e não ardem nos anos imediatamente seguintes, continuem a dar uma visão simplista das coisas. Sobretudo porque, no seu desejo de simplicidade, levam sempre as pessoas a pensarem que este ano foi um sucesso. Vá-se lá saber por quê.

Anagwen disse...

Passei por aqui à procura do filme do Al Gore "Uma verdade inconveniente" e percebi que estão a fazer um trabalho excelente. Parabéns. Já agora, está a decorrer em Nairobi a 'United Nations Climate Change Conference'. Vou tentar escrever qualquer coisa sobre isso no meu blog. Vale a pena ficar atento :)

Anagwen disse...

Já agora o link: http://unfccc.int/2860.php

Anónimo disse...

já agora deixo a minha opinião sobre isto, ela é conhecida saiu no Público em 16 de Agosto (O sequestro de carbono) e depois em 17 de Outubro (fogo florestal, o belo monstro) e também pode ser consultada em www.triplov.com (a menos de detalhes editoriais).

Estamos longe dos 35000ha que eu gostaria que fosse a próxima meta, alcançada já nos próximos anos, mas já se progrediu substancialmente este ano, apesar do efeito tampão da brutalidade ardida nos últimos três anos.

Não tivesse havido vontade política nesse sentido e este ano teria ardido o dobro. Nesse sentido foi um relativo sucesso, em minha opinião.

No entanto a sutentabilidade da "coisa" advém do Protocolo de Quioto e sucedâneos, onde não só se contabilizará o CO2 emitido, como aquele que se deixa de fixar tendo como termo de comparação a produtividade média anual máxima.

José Casquilho

Henrique Pereira dos Santos disse...

Caro José Casquilho,

Não me parece que se possa pegar nos números de área ardida de qualquer ano e tirar conclusões gerais sobre o sentido em que está a evoluir o problema.

Se, como eu defendo, com a fundamentação abundante que se pode avaliar neste blog, há uma estreita relação entre condições meteorológicas específicas e área ardida, então um ano, num clima tão irregular como o nosso, tem muito pouco significado.

Repare que não é o problema de o tempo ser quente e seco, como esteve a meio de Julho sem que ardesse nada de especial, mas sim de condições meteorológicas específicas, que também incluem temperaturas altas e humidades baixa.

Na verdade se para caracterizar o clima precisamos normais climatológicas, definidas em séries de trinta anos para diluir o efeito da irregularidade anual, naturalmente para fenómenos que dependem da meteorologia também precisamos de séries longas para fazer a sua avaliação.

O problema, no caso dos fogos, é que para além das condições conjunturais meteorológicas é preciso que existam também condições estruturais de acumulação de combustíveis, que dependem essencialmente de factores naturais mais ou menos estáveis (como a produtividade primária) e de factores sócio-económicos (como a rentabilidade das actividades que fazem a gestão dos combustíveis) que se podem alterar profundamente durante as tais séries longas de que precisamos para diluir o efeito da variabilidade climática, tornando mais difícil a interpretação do fenómeno em períodos longos.

A minha insistência neste ponto é precisamente para que na equação do problema se possam separar os factores naturais específicos (os tais que tenho a vindo a dizer que são os mesmos que nos fazem ser os campeões mundiais de produção de cortiça), os factores meteorológicos conjunturais específicos dos grandes fogos, que não podemos controlar, os factores sócio económicos que podemos influenciar com as nossas políticas para o mundo rural e os factores de organização do sistema de prevenção e combate, que é o que pode ter maior evolução do curto prazo.

Não tenho dúvidas de que os números deste ano são sobretudo resultado de um ano especialmente benigno do ponto de vista meteorológico e é um erro trágico pensar-se que afinal já se conseguiu alguma coisa de substancial.

Mesmo que se tenham conseguido melhorias no sistema de combate, e que isso possa ser responsável por uma pequena diminuição de áreas ardidas, o que não sei avaliar se é verdade, isso não adianta nada no sentido de alguma alteração significativa nas médias de áreas ardidas por duas razões:

A meteorologia explica a maior parte da variação (e o efeito tampão dos fogos dos últimos anos existe mas é relativamente pequeno porque o que ardeu em 2003 já hoje pode arder, embora com menos intensidade e continuidade) das áreas ardidas;

Mesmo que sejamos muito eficientes no combate o resultado será o aumento da vulnerabilidade do território por acumulação de combustíveis.

Por isso gostaria imenso de partilhar o seu optimismo de que os números deste ano são uma aproximação ao que se pretende, mas de facto não partilho: a aprovação de um plano de Desenvolvimento Rural assente na competitividade de três fileiras sem qualquer relação com a gestão dos combustíveis (e ainda ninguém em explicou por que razão a fileira do gado miúdo não poderia integrar esta lógica do PDR) é a semente de novos e maiores fogos.

henrique pereira dos santos

Anónimo disse...

Caro Henrique Pereira dos Santos,

à partida o seu não-optimismo é mais sensato (no sentido da phronesis aristotélica) do que o meu optimismo, dado o volume e a multidimensionalidade dos interesses envolvidos nos fogos florestais...

O meu "optimismo" no entanto não é "naif", trata-se antes da tentativa de induzir o comprometimento político dos agentes com um outro horizonte, onde a reconversão do uso dos matos nas centrais de biomassa, etc., possa vir a recolocar a fasquia dos fogos florestais significativamente abaixo dos 50000 ha por ano brevemente - e assim poder vir a cobrar-se politicamente o incumprimento...

As condições meteorológicas são condições de substracto (sensu Thom), o que é facto é que as dezenas de milhar de ignições anuais são feitas por mão humana - negligentes ou dolosas - relevam da tal cultura pirófila, que já Bernaldez & Levassor tinham diagnosticado para o Norte de Espanha no final dos anos oitenta em relatório apresentado à UE.

Se o fumo é um índice do fogo (sensu Peirce), o fogo é um índice da política ambiental, seja por obra da "mão invisível" smithsoniana ou mesmo com uma ajuda keynesiana.

Vou reler com atenção o que diz, terei muito gosto em continuar a conversa, e em qualquer caso aproveito para vos dar os parabéns pelo blog.

jc

Henrique Pereira dos Santos disse...

Caro José Casquilho,
Não conheço as propostas dos concorrentes à exploração das centrais de biomassa, mas ficarei muito surpreendido se contribuirem significativamente para a redução da área ardida.

Os matos são essencialmente água e ar, com um poder calorífero relativamente baixo. O custo da sua remoção é relativamente elevado e mais ainda o custo do seu transporte, dada a baixa relação volume/ poder calorífero.

Por outro lado o seu armazenamento levanta problemas já que começam a apodrecer em espaços de tempo muito curtos (uns dias) e no Verão podem entrar em autocombustão.

Por essa razão não acredito que tenham um peso importante no mix de matéria orgânica que servirá de combustível às centrais (no caso da central de Mortágua representam cerca de 2%).

As centrais de biomassa são interessantes como meio de valorização de resíduos florestais (quer da exploração das matas, quer das indústrias a juzante) quando existe exploração economicamente sustentável dos povoamentos, mas não servem para dar viabilidade económica a explorações deficitárias (que é o que se passa na maioria do nosso território).

Quanto às ignições não me parece que essa seja uma questão de primeira grandeza para a gestão dos fogos: nunca será possível evitar todas as ignições e nos dias mais desfavoráveis qualquer ignição se pode transormar em minutos num grande fogo.

A análise desta matéria que o Pedro Vieira faz no seu livro parece-me um sólido suporte da ideia de que não há qualquer relação entre o número de ignições e a área ardida.

henrique pereira dos santos

Anónimo disse...

meu caro, o principal que eu tinha a dizer está dito naqueles dois artigos. Vou comprar o livro do PAV que não conheço.

Sim, não há relação entre o número total de ignições e a área ardida, também analisei isso.

Espantosa é a correlação na última década entre área total ardida e área de eucaliptal ardida no mesmo período, sendo que no entanto esta só conta 1/3 do total, mas explica, no sentido dos mínimos quadrados, quase tudo - como se o "ouro verde" de Mira Amaral fosse o esteio principal das paisagens calcinadas.

Tristemente interessante é ver como em 2002 foi publicado um cenário de futuro para a produtividade primária líquida, que está errado, por várias ordens de razões, mas que se mostra coincidir em larga medida com os grandes fogos dos anos subsequentes...

Vamos ver o que acontece no próximo ano e seguintes. Conforme poderá ler no "belo monstro" também lá afirmo que só dou por adquirida a inversão da tendência se, no próximo ano, arder bem menos do que este ano, e referencio o ano de 1997 como exemplo, a que correspondeu trinta e tal mil hectares.

jc

Anónimo disse...

Este blog está muito bom mas penso que as respostas a todas as perguntas estarão presentes em www.florestaunida.blogspot.com , façam as postagens e obteram as respostas com caracter tecnico e de quem lida com os incendios florestais de perto conhecendo a sua realidade. Eu fiz isso e obtive todas as respostas, conheci este blog do Projecto Floresta Unida a partir deste blog.