quinta-feira, abril 05, 2007

Fogos

Está na altura de começar a avaliar o ano do ponto de vista dos fogos.

Para retomar a discussão, que já vai ficando velha, resolvi publicar quatro posts que retomam os textos dos trabalhos de preparação do plano de ordenamento do PNSAC. Os textos têm alguns anos, três, quatro, mas parece-me que têm alguma informação interessante e objectiva.

Como é exactamente contra os factos que vale a pena apurar os argumentos, aqui ficam os factos para quem os quiser discutir nos comentários.


O PNSAC regista a ocorrência dos fogos no seu território desde 1995.

O total da área ardida desde então foi cartografado constituindo cerca de 35% da área protegida.

Para o plano de ordenamento entendeu-se que seria fundamental analisar não só o total da área ardida como em que medida os diferentes tipos de coberto vegetal são afectados pelos fogos.
Para isso procuraram-se avaliar alguns aspectos complementares:

· percentagem da área ardida que corresponde a cada um dos usos considerados;
· peso relativo das áreas ardidas por cada uso em relação ao total da área desse uso na área protegida;
· frequência dos fogos.

Neste post trato a:

Percentagem de área ardida que corresponde a cada um dos principais tipos de coberto vegetal

Este aspecto não é fácil de determinar com a informação actualmente disponível. Só estando disponível o uso do solo de 1998, o seu cruzamento com a área ardida traduz o tipo de coberto vegetal afectado pelos fogos nos últimos anos. Para os anos anteriores este cruzamento avalia sobretudo o tipo de uso solo que evoluiu a partir do fogo.

Por essa razão fizeram-se análises parcelares de cruzamento do uso do solo de 1998 com as áreas ardidas em cada período de três anos, com excepção dos últimos quatro anos (1997/ 2000) que foram divididos em dois períodos de dois anos. Pretendeu-se avaliar se haveria constantes ao longo de todo o período de tempo analisado ou se havia factos relacionáveis com o tempo decorrido desde o fogo até ao momento em que existe informação sobre o uso do solo.

Os dados obtidos permitem concluir que os usos do solo mais afectados são, como seria de esperar, os matos (cerca de 48% da área ardida) e as herbáceas não cultivadas (23%) que no conjunto representam 71% da área ardida entre 1985 e 2000 no PNSAC. Um segundo grupo de usos (eucaliptos, 8%, povoamentos de resinosas, 7%, e áreas de agricultura arvense, 6%) representam cerca de 21% da área ardida.

Os dados disponíveis permitem também concluir que algumas classes de uso parecem ser especialmente atreitas ao fogo; os matos e os eucaliptos, com um peso nas áreas ardidas 50% superior ao seu peso no uso do solo e também as herbáceas não cultivadas, com um desvio de 15%.

Outras (olivais, áreas agrícolas arvenses, área social, folhosas autóctones e, em menor grau resinosas e pedreiras) têm pelo contrário diminuições sensíveis do seu peso relativo nas áreas ardidas quando comparado com o seu peso na área total da área protegida: desvio na ordem dos 20% para as pedreiras, 80% para os olivais e entre 65 e 50% para todos os outros usos.

Estes números são no entanto afectados pelo tempo decorrido desde o fogo até 1998 (data do uso do solo).

Em primeiro lugar deve referir-se que os dados do biénio 1997/ 1998 são claramente atípicos já que apenas nesses dois anos a classe de herbáceas não cultivadas atinge percentagens de área ardida tão expressivas como 75%, que contrastam com percentagens na ordem dos 20 a 25% na generalidade dos períodos considerados.

No triénio 1991/ 92/ 93, há um valor de área ardida de herbáceas não cultivadas de 13% e no triénio 1994/ 95/ 96 um valor anormalmente alto de 32%. Os valores de 1991 a 1993 poderão ser eventualmente explicados pelo facto de em 1991 ter ardido uma extensa área junto à Estrada Nacional 1, com forte ocupação de eucalipto e em que a classe de herbáceas não cultivadas quase não tem expressão.

Esta interpretação é coerente com uma percentagem, de área ardida de eucalipto anormalmente alta de 18% nesse período.

Por outro lado as altas percentagens de herbáceas não cultivadas ardidas no período imediatamente anterior a 1998 parecem dever-se aos critérios utilizados determinação do uso do solo, em que áreas ardidas significativas foram consideradas como herbáceas não cultivadas e não como áreas de matos ardidos.

Dada a relevância das classes de herbáceas não cultivadas e matos no conjunto das áreas ardidas, como vimos, os valores totais dos períodos imediatamente anteriores a 1998 ficam marcados por esta opção na interpretação da fotografia aérea (datada de Outubro de 1998). O que implica um abaixamento anormal das áreas de matos ardidos (cerca de 12% no biénio 1997/ 98) em contraste com valores consistentemente acima dos 40% e mesmo perto dos 60% no triénio inicial (1985/ 86 e 87).

Os dados referentes à área ardida com eucalipto são pouco homogéneos, variando de 3% no biénio 1997/ 98 até aos 18% referidos para o triénio 1991/ 92/ 93. Estas variações parecem estar relacionadas com a localização geográfica dos fogos, na medida em que a ocupação por eucalipto é importante sobretudo na periferia do maciço e de uma forma relativamente concentrada, mas podem também traduzir uma dinâmica de regeneração de eucalipto após fogo que convirá ter em atenção.

Pelo seu significado de conservação refere-se ainda que a áreas de folhosas autóctones ardida varia entre os 2 a 3%.

Um último comentário sobre a área ardida de pedreiras, que atinge valores com alguma expressão nos primeiros anos do período considerado (rondando os 2 a 2,5% da área ardida), mas estes números parecem relacionar-se com o facto de se compararem fogos antigos com ocupações actuais, sugerindo que estas percentagens correspondam a áreas com outras ocupações de solo anteriormente (o que é coerente com os dados da análise da evolução do uso do solo entre 1958 e 1998).
henrique pereira dos santos

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