Reproduzo, sem mesmo corrigir uma ou outra imprecisão, uma notícia da lusa fazendo a minha declaração de interesses: estou profissionalmente envolvido de forma directa nesta iniciativa.
Não valerá a pena discutir o que isto significa ou pode significar do ponto de vista da conservação da natureza?
henrique pereira dos santos
Lisboa, 31 Mai (Lusa) - O Banco Espírito Santo apresentou hoje a sua estratégia de apoio e conservação da biodiversidade, com iniciativas como a realização de um estudo sobre oportunidades de negócio nesta área e a criação de um prémio anual para investigação em biodiversidade.
Além da elaboração, pela equipa de analistas da Espírito Santo Research do estudo "Oportunidades de negócio da biodiversidade" e da criação de um prémio anual para a investigação em biodiversidade aplicada a soluções empresariais, a estratégia do BES inclui também o desenvolvimento de uma linha de micro-finança específica para a prestação de serviços ambientais.
"Uma estratégia inédita no sector financeiro português de compromisso e apoio à conservação da biodiversidade", referiu o presidente do banco, Ricardo Salgado, na apresentação à imprensa.
Esta iniciativa do BES enquadra-se na iniciativa "Business & Biodiversity" (B&B), uma das prioridades da presidência portuguesa da União Europeia, a partir de 01 de Julho, e o banco de Ricardo Salgado será a primeira empresa portuguesa a assinar a "Declaração Compromisso" desta iniciativa, promovida pelo Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB).
O BES "decidiu assumir uma postura proactiva neste domínio e liderar um movimento que se espera seja extensivo aos vários sectores da actividade empresarial".
Portugal é um dos países com os maiores níveis de biodiversidade, mas também um dos que tem maior risco de ver a sua biodiversidade afectada nas próximas décadas, segundo estudo divulgados recentemente.
Além da actuação externa, o Banco Espírito Santo a estratégia do banco inclui iniciativas no âmbito do desenvolvimento da sua actividade como a elaboração de um relatório de medição dos impactos directos e indirectos do BES.
ANP.
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38 comentários:
E a herdade? É de quem a culpa ou como o dinheiro está noutro "bolso" já não conta?
Esperemos que esta atitude seja uma atitude a espelhar-se pelos investimentos do Grupo Espírito Santo e não só no funcionamento do coitado do Banco.
Este comentário é muito interessante.
Admitamos que o grupo Espírito Santo teria feitro uma patifaria ambiental numa herdade qualquer. Não sei se fez ou não, mas admitamos que sim para efeitos de discussão do comentário.
Significaria isso que todas as iniciativas do Banco Espírito Santo passavam a estar contaminadas com um selo negativo? Mesmo as que são propostas na sua adesão a uma iniciativa de suporte à biodiversidade?
O que é que tem sentido aqui? Discutir se existe uma pureza ambiental que torna o Banco Espírito Santo recomendável para entrar no mundo moralmente superior dos que não têm interesses económicos ou deixar para as instâncias normais de sanção de patifarias o julgamento dessa questão e olhar para as iniciativas do Banco tal como elas se apresentam e sem juízos morais prévios?
henrique pereira dos santos
Bom, o BES já tinha adoptado a cor verde, mas agora é o próprio ICN que o pinta de verde.
Muito bem.
E tanta verborreia serve para quê?
Para já sabemos que serve para uma propaganda paga de duas páginas no Expresso e para mais uma data de notícias com a chancela do estado (o ICNB ainda é estado, não é?). Não haja dúvida que é tudo muito transparente e ético.
Boa sorte para esta pareceria e para as próximas com o renovado Instituto para a Comercialização Natural da Biodiversidade.
E tem toda a razão o postador, isso dos juízos morais é do passado, na modernidade não se usa, não foi isso que o Sr. Primeiro Ministro exemplificou em recente visita ao Sr. Putin?
Sigamos o líder...
Concordo com o teu comentário, primo.
Isto só pode ser mais um contributo de pseudo gurus do ambiente para "a profunda desconfiança dos cidadãos em relação ao Estado e, em particular, em relação ao sector da conservação da natureza" (HPS em http://www.naturlink.pt/canais/Artigo.asp?iArtigo=1859&iLingua=1 ).
Vivam os bancos bondosos e seus primos dirigentes de institutos ambientalistas do estado!
Primeira aspecto e não de todo irrelevante: eu assino o que escrevo, os meus caros não. Como demonstração de ética estamos conversados.
Sejamos claros, cada um fará os juízos morais sobre quem quiser (por exemplo, acabei de fazer um juízo moral sobre o vosso anonimato), mas o que me parece relevante é a discussão sobre se estamos a falar de pinturas verdes ou de alterações significativas no mundo da conservação.
Os compromissos assumidos pelo BES são relevantes ou não? O facto do BES achar relevante aderir a uma iniciativa relacionada com a biodiversidade e fazer disso um anúncio de duas páginas no expresso é significativo ou não? O facto do mundo empresarial se aproximar da biodiversidade é relevante ou não? E é relevante por razões positivas ou negativas para a biodiversidade?
Meus caros anónimos digam de vossa justiça. Expliquem as fragilidades da iniciativa. Expliquem por que razão é melhor manter o conceito de biodiversidade numa redoma de franjas minoritárias de eleitos em vez de o ver contaminar a actividade económica.
E já agora expliquem por que razão este conceito de business and biodiversity é bom no quadro da Convenção da Diversidade Biológica onde nasce e é uma prioridade e já não é em Portugal. E porque razão os malandros da União Internacional para a Conservação da Natureza está conosco desde o princípio do processo.
Discutamos os riscos de green washing. Mas discutamos seriamente.
henrique pereira dos santos
Há certo tipo de fundamentalismos que me escapa por completo. Ninguém critica o facto de o BES patrocinar um jogo de futebol, ou de o BPI ser mecenas na área da cultura. Pelo contrário, o povo vê isto com bons olhos quando é óbvio que tais iniciativas são do interesse dos próprios bancos assim como dos que recebem os apoios. Uma situação "win win", como se diz agora.
Mas "cai o carmo e a trindade" se um banco financia iniciativas na área do ambiente e biodiversidade.
Qual a lógica? Até ver nenhuma. O que vejo é preconceito por parte de pessoas que parecem saber escrever mais de pressa do que pensam.
Que se saiba nem o BES nem qualquer outro banco, ou agente económico, fizeram/financiaram atentados contra o desporto.
Mais ou menos idem para a cultura (não tão verdade relativamente ao património construído).
Agora relativamente ao ambiente e, especialmente, à conservação da natureza parece-me que estamos conversados.
E é perfeitamente normal que o cidadão mais ou menos comum (o verdadeiramente comum está preocupado com coisas mais prosaicas, infelizmente) desconfie destes programas. Até podem ter o beneplácito de respeitáveis ONG como a UICN. Outro programa com o selo ambiental da WWF tem promovido no país a construção de grandes empreendimentos urbanísticos em áreas que não era suposto serem urbanizadas. Passaram a sê-lo com o selo da WWF e a coberto duma putativa utilização turística.
Agora quanto à relação ganha-ganha, para já ainda só vi o primeiro ganha. Está mais verdinho o banco, não haja dúvida.
Quanto ao segundo ganha ainda só vi o costumeiro conjunto de verborreia amigadanaturezaeambientalmentesustentáveletcetal.
Concreto, nada.
Muita publicidade para um lado, muita falta de clareza/transparência para o outro.
E ficamos a pensar em lindos projectos com selos ambientais e naturais ao assalto ao património natural e não podemos deixar de pensar que as bruxas lá andam, apesar de inacreditarmos na sua existência.
Quanto ao anonimato vamos lá a ver uma coisa:
O blog permite-o, não?
Permite, logo é aceitável e legítimo que se utilize.
O caro postador assina o que escreve? Sim! O blog «pertence-lhe» (no bom sentido!) e tem essa política, ao que vejo, as peças são assinadas. Portanto, nada de mais.
Estive a ler com atenção e, numa «quinta leitura» não vislumbro qualquer ataque/ofensa pessoal ao postador, ou a outros. O que fiz foi discutir e questionar (se calhar irreverentemente mas, lamento, a reverência nunca foi o meu forte) ideias e factos.
O anonimato é utilizado para não condicionar respostas como a do postador. Pretende-se que quem discorde do que escrevo questione, critique com toda a liberdade, não ficando recalcado pelo conhecimento da minha identidade. Essa é, aliás, irrelevante para a discussão das ideias, parece-me. Se os argumentos forem meritórios devem ser discutidos. Se não o forem, ou se constituírem ataques vis e soezes, então merecem o alheamento. Não será a minha identidade que lhes acrescenta ou retira valor. Se pensarem isso, então lá questionamos a relação um Homem / um Voto.
Pode também ser que seja eu que, se tivesse que a revelar, ficasse condicionado e preferisse não comentar, o que não pode ser causador de surpresa tendo presente casos recentes de «delito de opinião». Em geral, perder-se-ía em discussão, esta ficaria mais pobre. Sem se ganhar em nada mais.
Repito, não utilizei/utilizo o anonimato para efectuar vis/soezes ataques pessoais. Utilizei-o/utilizo-o/utilizá-lo-ei para não condicionar/ficar condicionado na argumentação e no debate de ideias.
Não há aqui qualquer falha de ética ou de carácter, portanto «estamos conversados».
Caro anónimo,
O mundo não tem apenas duas cores. Existem gradientes de cinzento entre o preto e o branco.
Os governos licenciam muitas obras anti-ambientais, apesar de ter leis ambientais e ministérios do ambiente.
Quer isto dizer que para serem coerentes os governos deveriam abolir os ministérios do ambiente para assim melhor ressaltar o negro das suas políticas?
A resposta parece ser óbvia, não é?
Um banco, qualquer que seja, financia muito investimento que atenta contra o ambiente. Estamos de acordo.
Quer isto dizer que é negativo que use parte desse lucro para actividades positivas para o ambiente?
Não entendo porque deva ser assim.
O que podemos discutir é se os ditos investimentos positivos são ou não os mais desejáveis ou se são meras operações de propaganda.
Não conheço os projectos que o BES pretende lançar mas em Espanha tenho acompanhado de perto a obra ambiental de outro banco, o BBVA e o que posso dizer é que prefiro ver a banca gastar dinheiro em conservação do que o seu inverso.
Resolve os problemas de fundo?
Com certeza que não, assim como não se resolvem os problemas de fundo pela existência de ministérios do ambiente.
Mas isso não impede que a maioria das pessoas considere positivo haver um Ministério com tal perfil.
Caro Anónimo,
Claro que o blog permite comentários anónimos e eu nem tenho nada de especial contra o anonimato, excepto quando é usado por campeões da ética, como é o caso.
Mas essa é uma questão marginal, vejamos a questão de fundo.
Imaginemos que um banco (este ou outro qualquer) cometeu muitos atentados contra a biodiversidade.
Isso impede-o de se comprometer publicamente com projectos positivos de conservação da Biodiversidade?
Dir-se-á que é só verborreia e propaganda. É uma hipótese. Convém verificá-la ao longo do tempo.
Para já e publicamente, como está dito na notícia o banco propõe-se avaliar o impacto directo e indirecto da sua actividade na biodiversidade. Achamos bem ou mal? Para o efeito contrata um centro de investigação credível e, pelo menos até a assinatura deste contrato, considerado independente. Achamos bem ou mal?
O banco propõe-se disponibilizar as suas competências na investigação do valor de negócio da biodiversidade. Achamos bem ou mal?
E propõe-se disponibilizar uma linha de micro-finança destinada a alavancar pequenos negócios na área da biodiversidade. Achamos bem ou mal?
Propõe-se adoptar medidas de conservação numa das herdades do grupo. Achamos bem ou mal?
E cria um prémio na área da biodiversidade. Achamos bem ou mal?
Não me interessa, porque esta não é a sede adequada para o fazer, se o banco (ou outra empresa qualquer) tem uma actuação miserável do ponto de vista de conservação.
O que me interessa é discutir se independentemente disso, é ou não um passo positivo que o mundo empresarial se envolva desta forma na conservação da biodiversidade.
Onde está a verborreia? E a falta de clareza? E a falta de transparência?
Volto a pedir, discutamos sim, mas seriamente e não a atirar sound bites. É que a inciativa business and biodiversity parece-me muito interessante, mas comporta riscos significativos que gostaria de ver diminuídos.
henrique pereira dos santos
Caro co-comentador,
O mundo não é a preto e branco, sem dúvida.
Agora também não podemos ser completamente ingénuos. As experiências anteriores concerteza que moldam e condicionam as nossas opiniões.
Não é, concerteza, mera coincidência que a primeira instituição a aderir (sonoramente, diga-se de passagem), seja uma com um passado recente muito nebuloso em matéria ambiental, com envolvimentos politico-partidários e sempre ligado a construção.
Poderá trazer benefícios, talvez, aguardemos.
Agora o facto é que a dita instituição está, ela própria, já a lucrar, melhorando a sua imagem.
E, para já, mais não fez do que divulgar intenções.
Acho que as grandes inaugurações se devem fazer com a obra concluída, ou pelo menos em velocidade de cruzeiro.
Aguardemos igualmente quais serão as próximas a aderir ao programa.
Acho que só o poderemos avaliar quando houver algo efectivo, concreto, e não apenas palavreado.
Agora também não podemos ter uma atitude de extremo-relativismo.
Parece-me óbvio que duma entidade que tenha comportamentos fortes de malefício contra o ambiente e a conservação (estou a falar em abstracto) não se deveria aceitar candidamente fundos, por maiores que sejam, passando-lhe um certificado de honorabilidade ambiental, sem exigir compromissos/provas/actos de alteração de comportamentos.
Falou no apoio ao desporto. E se uma qualquer entidade fosse envolvida em caso de corrupção no desporto através de doping/pagamentos a árbitros/etc. Seria aceitável sem questionar o seu financiamento dum clube/modalidade?
Acho que é um assunto que merece ponderação, discussão.
Neste momento o ónus da prova está do lado de lá. Têm que demonstrar os benefícios.
Caro Postador
Realmente não sou eu a pessoalizar a discussão. Até agora só ataquei ideias e argumentos.
Já expliquei as razões do anonimato e nada fiz de condenável ou não ético a seu coberto, incluindo ataques pessoais (abstenho-me de dizer mais).
Se lhe faz muita espécie trate-me por Tulius Detritus...
Aliás, se lhe faz tanta espécie o comentário não identificado pode remover essa possibilidade do blog.
Escreveu:
«Não me interessa, porque esta não é a sede adequada para o fazer, se o banco (ou outra empresa qualquer) tem uma actuação miserável do ponto de vista de conservação.
O que me interessa é discutir se independentemente disso, é ou não um passo positivo que o mundo empresarial se envolva desta forma na conservação da biodiversidade.»
Pois, mas na mesma medida em que o mundo não é a preto e branco, também não é compartimentado de forma estanque.
Lamento discordar de si, pelos vistos. Lamento tê-lo feito no seu blog, numa sua postadura.
Mas foi o próprio postador que pediu uma discussão: «Não valerá a pena discutir o que isto significa ou pode significar do ponto de vista da conservação da natureza?» e que reconhece que a iniciativa «comporta riscos significativos que gostaria de ver diminuídos»
Agora não percebo como gostaria de ver esses riscos diminuidos sem uma discussão livre.
Não é, concerteza, tratando os comentários de que não gosta como sound bites.
Tentarei só voltar a comentar postaduras suas quando concordar com elas, para não ser acusado de produção de meros sound bites e de falta de ética.
Caro Anónimo,
De tudo o que escreveu, vale a pena comentar a substância de três aspectos:
1 - O banco já está lucrar e ainda não fez nada.
É naturalmente um ponto de vista respeitável, mas a iniciativa é exactamente assim, isto é, a iniciativa parte de compromissos iniciais publicamente assumidos. Foi isso que o banco fez e farão todos os aderentes à iniciativa. Se depois os aderentes não honrarem os seus compromissos cá estaremos todos nós para cobrar essa postura.
2 - Se bem percebi a base da principal discordância em relação a mim é a de que a iniciativa deveria ter um filtro inicial e apenas estar aberta a empresas com um passado ambiental inquestionável.
Não vou responder com a frase bíblica de que há mais alegria no Céu cada vez que um pecador se arrepende que sempre que um justo se mantém justo porque essa nem é a questão central. Essa postura implicaria uma análise prévia do desempenho das empresas do ponto de vista da biodiversidade, o que é, metodologicamente, o passo inicial das empresas que aderem à iniciativa. Esse é exactamente um dos seus compromissos.
3 - E esta segunda questão leva-o directamente à terceira: das empresas que têm passados negativos não devem aceitar-se fundos nenhuns. Independentemente de discordar deste ponto de vista, a verdade é que ele é irrelevante para a iniciativa porque não há nenhumas transferências de fundos. A iniciativa é claramente orientada para as empresas e são elas que se comprometem a executar os seus compromissos não havendo quaisquer fundos daí resultantes para o ICN.
Espero ter esclarecido qualquer coisa. Quanto ao resto, estamos de acordo: é preciso deixar o tempo correr para avaliar o que cada empresa (ou grupo empresarial) fará.
Subsistem perguntas a que não quiz responder até agora: independentemente de ser necessário esperar para ver os resultados, há ou não virtude potencial na ideia e no método? E havendo, há ou não riscos? Quais e como se reduzem? É ou não relevante o facto das empresas estarem a tratar a biodiversidade como um valor de mercado?
henrique pereira dos santos
Lembram-se dum filme americano sobre um big chefe mafioso que também era um indiscutível benfeitor? apoiava financeiramente as viúvas pobres, pagava do seu bolso os estudos a umas quantas crianças necessitadas, enormes espórtulas à Igreja e por aí adiante?
Este comentário volta a ser muito interessante.
Primeiro, não estamos aqui a discutir cinema, mas a procurar discutir formas de intervir sobre a realidade.
Segundo, o mafioso combate-se recusando as benfeitorias ou aplicando a justiça sobre as actividades legais?
Terceiro, os beneficiados pelas benfeitorias devem ser responsabilizados por serem objectos das benfeitorias?
Quarto, a iniciativa é exclusivamente um compromisso das empresas de aderem não há "recebedores" de dinheiros, cheques e etc., para além dos efeitos na conservação.
Quinto, é melhor um mafioso que se preocupa com o seus pobres ou um mafioso que não se preocupa com nenhuns pobres?
Em matéria de histórias antigas e de pecadores vale sempre a pena lembrar a que deu origem ao ensinamento: "o que nunca pecou, que atire a primeira pedra.... Vai e não tornes a pecar".
É sempre bom lembrar as bases da convivência tolerante em oposição ao rigor da polícia moral.
henrique pereira dos santos
evidentemente onde está "actividades legais", deveria estar "actividades ilegais"
Quem recebe dinheiro sujo da máfia ou são os da mesma igualha ou os miseráveis. As pessoas de bem e honra nada querem com mafiosos. "Diz-me com quem andas dir-te-ei quem és". Isto nos filmes americanos, é evidente.
A realidade portuguesa no que toca ao pudor, honra, vergonha, há muito que ultrapassou a ficção hollyoodesca. Assemelha-se mais a aos caóticos filmes de Paolo Pasolini. Não tenho dúvidas que "Salò ou os 120 dias de Sodoma" espelham melhor o que por cá se passa que "O Padrinho" e suas sequelas.
"O mafioso combate-se recusando as benfeitorias ou aplicando a justiça sobre as actividades legais?"
Emendou a seguir. Mas mesmo com a emenda (ilegais) esta frase ficará na memória histórica de uma fase muito peculiar da sociedade portuguesa, no início do Séc. XXI, tempo em que recusar uma benfeitoria de um mafioso não significava ser-se incorrupto, honesto ou íntegro, mas sim tanso, palerma e bronco.
Fiz uma série de perguntas (cuja ironia pelos vistos não soube tornar clara)a que cuidadosamente se foge para reafirmar uma questão de fundo sobre a ligação negócios e biodiversidade na perspectiva espelhada no meu post.
Se bem percebo o argumento, nunca se deveria desenvolver esta iniciativa visto que corresponde a receber dinheiro de mafiosos.
O facto de já por duas ou três vezes eu referir que a iniciativa não se traduz em trocas financeiras mas em compromissos das empresas perante a sociedade (sendo pois da sua responsabilidade a execução das acçóes a que se vinculam) parece irrelevante para quem defende o argumento da ligação mafiosa. Acho estranho, mas enfim.
Mas a questão verdadeiramente de fundo é outra: quem determina quem é mafioso? Quem escolhe os eleitos que poderiam contribuir para uma iniciativa destas?
Num Estado de direito a resposta é simples: os tribunais.
Ora a iniciativa não é um mealheiro onde entra dinheiro cuja proveniência se desconhece, assenta antes em compromissos voluntários de entidades legais com actividades legais no desenvolvimento de acções a que elas próprias darão seguimento.
A propósito disto fazer os comentários anteriores parece-me descabido, mas cada lida como entender com os seus fantasmas.
Quem não deve não teme, pensam alguns.
henrique pereira dos santos
Caros,
Vale a pena ler esta notícia que apareceu hoje na secção de notícias deste blog:
Biodiversity; new challenge for the financial services industry Service: Social - Environment
1386/03/19
06-09-2007
18:20:59
News Code :8603-10343
ISNA - Tehran
Service: Social - Environment
TEHRAN, Jun.09 (ISNA)-A new report highlights the biodiversity business case for the financial sector - the next big challenge after climate change?
The financial sector cannot afford to ignore the risks associated with biodiversity. That is the message from a new report “Biodiversity, the Next Challenge for Financial Institutions”, published this week by the World Conservation Union (IUCN).
The report’s author, Ivo Mulder, surveyed 26 commercial and investment banks, NGOs and other stakeholders – more than two-thirds believe the financial sector is exposed to significant reputational risk if it invests in companies which have a detrimental impact on ecosystems.
“Continuous decline of global species diversity is not only leading to more concerned conservationists – the private sector is also starting to feel the implications,” Ivo Mulder said. “Financial institutions, such as banks and insurance companies, need to be able to determine which of their client companies are at greatest risk, in order to avoid taking on the same risks themselves through their lending, investment and insurance activities.”
Increased pressure from NGOs, more regulations from governments keen to protect the natural environment and rising consumer expectations all mean that financial institutions must take more heed of biodiversity, the study found.
One example is the recent EU Environmental Liability Directive, which came into force on April 30. The new legislation holds companies liable for damage to flora and fauna, water resources and natural habitats and obliges them to pay for damages that cannot be avoided. The potential financial implications are significant not only for companies using these resources, but also the banks and insurance companies that service them.
The report also cites the example of Associated British Ports, which suffered a 10 per cent decline in its share price in April 2004, after the UK government rejected plans for a new container terminal on the South coast. One of the major factors behind the government’s refusal was the potential impact of the terminal on local wildlife.
A few banks already consider biodiversity risks when deciding which companies to invest in. In February 2007, Rabobank established ten guiding principles for its risk analysts – these include environmental pollution, depletion of natural resources and cruelty against animals.
But it is not all about risk, the report reassures. There are growing biodiversity business opportunities for financial institutions, such as sustainable biofuels, along with markets for ethically-certified commodities like fish, timber and organic food.
“There needs to be a big effort to make the financial sector more aware of biodiversity issues,” said Ivo Mulder. “Perhaps a Stern-like review of the economic costs of biodiversity loss and the financial benefits of conservation could be one trigger.”
http://www.isna.ir/Main/NewsView.aspx?ID=News-938909&Lang=E
Ora aqui está um bom exemplo de funcionamento de instituições financeiras sobre a biodiversidade.
De facto preocupar-se sobre se o financiamento é aplicado em investimentos que são deletérios para a conservação é uma lufada de ar fresco.
Que pena que por aqui as instituições prefiram publicitar que estão por trás da preservação de espécies como a águia real e a cegonha negra, sem fundamento algum e com a cobertura de organismos ambientais do Estado.
Pois pois,
mas o que o artigo fala é de integrar na avaliação do financiamento e do seu risco as questões de biodiversidade.
É o mercado financeiro a proteger o seu investimento, e ainda bem, quer dizer que as actividades financiadas mais dificilmmente serão causadoras de efeitos ambientais negativos. E isto com procupações de preservar o investimento.
Parece-me o futuro.
Por cá é o Estado que se encarrega de garantir que os investimentos não precisam de avaliar os riscos sobre a biodiversidade.
Projectos PIN, com putativa utilidade pública, imensa fábrica de peixe em rede natura, imensos projectos de construção em rede natura, etc, etc, etc.
Em Portugal continua a não funcionar o mercado, nem para as questões ambientais positivas, porque o Estado se resolve meter pela frente.
Paradoxalmente o mesmo Estado abandona as suas funções fulcrais.
Somos um caso de estudo, não haja dúvida.
É curioso o desenvolvimento deste post. É dos que mais resistem ao tempo nos comentários.
Penso que isso se deve ao facto de ele tocar num tabu português: a conservação e os negócios (sobretudo se de empresas de grande dimensão) são inimigos irredentos que nunca se poderão encontrar.
Gostaria de lembrar que esta notícia que o Miguel aqui chama, e bem, já tinha aparecido pela mão da Ana Fernandes do Público, remetendo para o site da UICN que contém todo o relatório citado.
Esta UICN é exactamente a mesma que tem apoiado o ICN nesta iniciativa, o que não deixa de ser interessante face aos comentários.
E curiosamente uma das obrigações que as empresas assumem no quadro da iniciativa é exactamente a avaliação do seu impacto na biodiversidade, condição sine qua non para aplicar critérios ambientais na avalaiação dos investimentos.
Ou seja, pelos vistos os passos necessários para chegar ao que os comentadores acham bem lá fora são impensáveis em Portugal.
Há gente assim, zangada com o mundo e sobretudo com o seu país.
henrique pereira dos santos
"há gente assim, zangada com o mundo e sobretudo com o seu país"
Mas também há quem viva muito contentinho e satisfeito neste país onde os atentados à paisagem são mais que muitos e se repetem, e onde as instituições ambientais do estado agem de forma tão irresponsável, guiados pela mão de iluminados que se têm em grande conta.
Coitada da águia-pesqueira!
HPS dixit:
«Não valerá a pena discutir o que isto significa ou pode significar do ponto de vista da conservação da natureza?»
HPS dixit:
«É curioso o desenvolvimento deste post. É dos que mais resistem ao tempo nos comentários.»
«Curioso» e deveras «interessante» (adjectivos a que HPS recorre amiúde quando lhe não interessam os comentários) é esta posição de HPS.
Quem apelou à discussão foi HPS!
Vinte e dois comentários depois (metade seus) já está a ficar aborrecido!?
Acha muito para discutir o tema em questão?
Ou nem é muito, o problema é o sentido dos comentários?
São opiniões incorrectas, não é?
Isto de gerir opiniões diversas é uma chatice, mesmo quando o tema é biodiversidade...
Para a próxima pense-se duas vezes se se quer mesmo discutir um tema ou se se quer Ámens e Aleluias, e seja-se claro no repto.
Pergunto-me se a intervenção do anónimo tem mais a ver com ódios de estimação pessoais do que com o argumento em causa.
Digo isto porque, até ver, a argumentação apresentada é deveras pobre. Parece ser mais uma espécie de pretexto para lançar umas farpas pessoais, lançadas do alto do anonimato, que nada têm a ver com o tema.
Vá-se-lá saber porquê.
E no meio disto tudo as perguntas com substância do HPS continuam por responder.
Caros comentadores,
Fico muito satisfeito pelo facto de haver muitos comentários.
Tenho é pena que se preocupem mais comigo que com a iniciativa de procurar parcerias para a biodiversidade no mundo dos negócios e com as condições de que se deve revestir para evitar ser apenas uma questão de green washing.
Não tenho nada contra as pessoas que dizem que são contra este tipo de iniciativas por não acreditarem em iniciativas do mundo das empresas em matéria de biodiversidade, limito-me a discordar delas.
Não tenho nada contra quem acha que não faz parte do mandato das instituições de conservação procurar mobilizar as empresas para a adesão ao objectivo europeu de parar a perda de biodiversidade até 2010, limito-me a discordar delas.
Mas confesso que o mundo conspirativo de corrupção, máfia, crimes ambientais, conluios de instituições públicas, funcionários contentinhos com a vidinha que ressalta de alguns destes comentários "Chora-me o coração que se enche e que se abisma." (Cesário Verde, o Sr. Verde da loja de ferragens, negociante lisboeta e, coisa estranha à luz dests comentaristas para quem os negócios são o demónio em pessoa, uma verdadeira peçonha, poeta maior que até escreve sobre paisagens).
henrique pereira dos santos
Mais de 21 milhões de euros para estudos sobre biodversidade sob a responsabilidade de Miguel Araújo. Conseguirá Miguel Araújo e seu team salvar as criaturas do mundo com tais estudos?
Projects as principal investigator (PI) or co-PI
2006-2009 IBERIA GAP
Evaluating gaps in protected areas and needs for biodiversity conservation in the Iberian Peninsula
Funded by: MEC (Ministerio de Educación y Ciencia)
Position: PI
Total budget (€): 169.000
Budget of PI (€): 169.000
2006-09 BIOIMPACTO
Predicciones de los Impactos del Cambio Climático sobre la Biodiversidad en América Latina
Funded by: FBBVA
Position: PI
Total budget (€): 153.600
Budget of IP (€): 153.600
2006-09 MACIS
Minimisation of and Adaptation to Climate Change: Impacts on Biodiversity
Funded by: EC FP6 (SSP project)
Position: Co-PI
Total budget (€): 900.000
Budget of IP (€): 81.219
2007-12 ECOCHANGE
Challenges in Assessing and Forecasting Biodiversity and Ecosystem Changes in Europe
Funded by: EC FP6 (Integrated project)
Position: Co-PI
Total budget (€): 7.000.000
Budget of IP (€): 283.368
2004-09 ALARM
Assessing Large-scale Environmental Risks with Tested Methods
Funded by: EC FP6 (Integrated project)
Position: Co-PI
Total budget (€): 12.000.000
Budget of IP (€): 189.600
2002-04 European Thematic Network for Protected Areas/Nature Preservation and Geographical Information
Funded by: EC FP5 (IST project)
Position: Co-PI
Total budget (€): 1.129.830
Budget of IP (€): 72.600
2002-04 Espacialização da incerteza: indicadores de biodiversidade no contexto do ordenamento do território
Funded by: FCT
Position: Co-PI
Total budget (€): 70.000
Budget of IP (€): 26.000
2001-03 Selecting Important Areas for Biodiversity Conservation in Portugal
Funded by: FCT & ICN
Position: PI
Total budget (€): 60.000
Budget of IP (€): 60.000
De facto há muito energúmeno por aí.
1. Faças as contas. Verá que sob minha responsabilidade (Budget of IP) os números contabilizam menos de 5% do valor que apresenta.
2. Ao contrário de outros heróis da moralidade, que nem sequer o nome publicam quando procuram difamar as pessoas, eu coloco TODA a informação "online". A informação que o anónimo resolveu colocar neste "post" está na minha página web profissional e é portanto pública por decisão minha: www.biochange-lab.eu
3. O meu trabalho é consiste em fazer investigação. Ou seja, pagam-me para gerar conhecimento. Se da minha investigação se salvarem espécies fico muito contente. Mas essa não é a medida de "bench marking" do meu trabalho.
E mais não digo sobre o que penso da intervenção do anónimo pois é tão óbvio que qualquer poderá apreciar por si.
O que é certo é que se a intenção é contra-argumentar os argumentos do Henrique só lhe têm saído tiros nos pés atrás de mais tiros nos pés.
Não consigo compreender a azia do Miguel Araújo, ou melhor, a sua má-educação.
Que satisfação trouxe ao seu ego essa dos energúmenos?
Não compreendo a irritação que causa ao Miguel o facto das mensagens serem anónimas, quando ele as autoriza.
Assim como não compreendo o motivo pelo qual ficou encolerizado com o facto de ter referido as verbas, para estudos sobre biodiversidade, que tem gerido e há-de gerir, quando elas estão escarrapachadas na sua página pessoal da net! Caso alguém leia isso, o assunto é tabu?
Eu não preciso de ser o administrador do Blog para saber que neste tópico, vários anónimos, e não o mesmo anónimo, deram o seu contributo. E claro que não pode haver carneirada num Blog, cujo apanágio consiste na liberdade e irreverência. Caso o Miguel esteja a perder a paciência e não tenha tempo para pensar no que escreve, o que até acredito tendo em conta a sua responsabilidade financeira-científica, areje e descanse. Não solte é a sua fúria sobre quem não o quer provocar.
A minha intenção, muito mal compreendida, e como o tópico era negócios/conservação da Natureza, era tão somente chamar a atenção sobre as milionárias verbas que se gastam em estudos sobre biodiversidade, sem dúvida também um negócio, que muitas vezes ninguém lê nem servem para nada. Pelo menos é o que consta. Caso os estudos do Miguel Araújo sejam utilíssimos para a humanidade, óptimo! Contudo, poderá reconhecer que muitos dos estudos dos seus colegas poderão não ser assim tão vantajosos para aqueles (energúmenos?) que pagam com os seus impostos as verbas que são atribuídas aos cientistas. Os energúmenos por certo julgariam mais razoável que essas verbas fossem empregues em acções directas em prol da conservação
Quanto ao Henrique Pereira dos Santos, apenas gostaria de saber a sua opinião, caso ele a queira dar é evidente, sobre o que pensa do negócio dos estudos sobre conservação da natureza.
A minha opinião é que caso as empresas queiram financiar estudos sobre conservação, o contribuinte não tem nada com isso. Caso seja o Estado, ou subsídios comunitários, qualquer cidadão europeu poderá dizer, com justa causa, de sua justiça.
Caro anónimo,
A minha primeira opinião é a de que por mais justificações razoáveis que tente arranjar para o seu post sobre a dimensão financeira dos estudos à responsabilidade (ou co-resonsabilidade) do Miguel Araújo a verdade é que esse comentário é uma pulhice.
Na verdade o caro anónimo não quiz discutir nada sobre o negócio dos estudos sobre conservação, mas apenas despertar a mesquinha inveja portuguesa introduzindo dúvidas sobre as reais motivações das pessoas que escrevem neste blog.
Quanto ao fundo da questão, e porque a pulhice é livre, respondo-lhe directamente à pergunta que me faz.
Há já muitos anos que escrevo sobre a diferença entre desenhar projectos de conservação para beneficiar os valores naturais ou para beneficiar os investigadores dos valores naturais.
Em Portugal, como uma comunidade científica pequena nesta área, fortemente endogâmica e corporativa, os projectos de investigação tendem a beneficiar mais os investigadores que os investigados.
Esse mercado sustenta-se na promiscuidade entre a academia, as ONGs e os jornais no sentido de criar pressão sobre o Estado para que sejam atribuídas verbas para essa investigação.
Dito isto, há com certeza muitos casos em que nada disto se passa. Os mecanismos de transparência são fundamentais para que estas distorções se corrigem e evitem, bem como a diversificação das fontes de financiamento e a adopção de concursos públicos para as adjudicações.
Em Portugal todas as universidades fazem a aldrabice de criar umas entidades de direito privado de modo a juntar o melhor de dois mundos: como as universidades são estado podem ser feitas adjudicações directas, mas como as entidades privadas por elas criadas é que são os receptáculos dos dinheiros o controlo público da sua utuilização que justifica a possibilidade de adjudicação directa perde-se.
Pouco ou nada disto diz respeito aos estudos do Miguel Araújo que são estudos internacionais e no quadro normal da investigação e produção de conhecimento per si, e não estudos encomendados pelas entidades que têm a responsabilidade de gerir a biodiversidade.
Por último, o mercado dos estudos de conservação é minúsculo quando comparado com o mercado doutro tipo de estudos (legais, económicos, de engenharia, etc. por aí fora).
Nada disto tem a ver com a iniciativa Business and biodiversity em que as empresas são convidadas a adoptar práticas de biodiversidade e não a pagar estudos. Sendo o conhecimento fundamental o que se pretende é que os estudos sejam direccionados para o acompanhamento, monitorização e avaliação de resultados das acções adoptadas.
henrique pereira dos santos
Caro Henrique P. dos Santos:
Agradeço a sua esclarecedora explanação relativamente aos negócios dos cientistas da biodiversidade da nossa praça. Iria tentar demonstrar-lhe que os mesmos males sucedem por essa Europa. Mas com acusações de pulhice e inveja, absolutamente desnecessárias para a discussão, utilíssimas para agradar a terceiros, não dá para continuar.
Já reparou que outros anónimos abandonaram a discussão deste tema devido à sua/vossa agressividade e má-educação?
Caro anónimo,
Sempre achei graça a quem se entretem a semear ventos e depois faz um enorme ar de vítima quando colhe tempestades.
Até agora não percebi ainda o que se quer discutir, para além do argumento de que sendo os participantes da iniciativa business and biodiversity mafiosos não se pode estar de acordo com a sua participação na iniciativa. E se há pessoas nos organismos do Estado que defendem a iniciativa é porque são igualmente mafiosos ou miseráveis.
Convenhamos que é pobre como base de discussão.
henrique pereira dos santos
Comentei no Sargaçal.
Caro José,
Finalmente alguém com nome para se responder.
Quer dizer, segundo o seu comentário, que o mecenato ambiental só é aceitável quando a verba provém de uma empresa "pura" a nível ambiental? E que, por conseguinte, o mecenato cultural deve vir de mecenas cultos?
Confesso que essas ideias muito na voga neste pequeno rectangulo me parecem difíceis de sustentar.
O problema entronca na própria definição de "pureza" ambiental. Onde está o limite? Como se define? Quem define? Quem fiscaliza? Quem tem acesso ao conhecimento sobre a alegada pureza de uns e impureza de outros?
Mas assumindo que a resposta a estas perguntas fosse fácil, que não é, tal implicaria que não deveriamos aceitar qualquer tipo de subvenção do Estado pois não há maior destruidor ambiental do que o próprio Estado que na sua gestão de interesses conflituosos favorece, frequentemente, os agentes de destruição.
O ponto de partida desta conversa é obviamente um ponto de partida moral (talvez chegando a ser ideológico) mas tenho alguma dificuldade em aceitar os argumentos morais (ou ideológicos) quando, na prática, a consequência de os seguir é contribuir para mais degradação do ambiente.
Por outro lado continuo sem perceber o problema de um banco estabelecer créditos bonificados para projectos com mais valias ambientais e definir processos de auditoria interna para avaliar os investimentos com impactes ambientais negativos.
Tudo o que foi anunciado parecem ser boas práticas e em vez de criticar o BES (atitude "default" dos Portugueses é criticar) deveriamos talvez esperar que este tipo de práticas fosse corrente nos restantes bancos.
Ou, no caso de a iniciativa do BES ser apenas poeira para os olhos dos transeuntes, esperar para ver e criticar depois (se fosse caso disso).
Como referi alhures o BBVA tem um generoso programa de financiamento a actividades de conservação em Espanha e América Latina. Ainda não ouvi ninguém reclamar das eventuais impurezas deste banco, que com certeza as tem. Pelo contrário só ouço elogios pela iniciativa, tanto por parte de académicos como de ONGAS dedicadas ao ambiente.
Deve ser esta famigerada maldição que sobre os lusitanos caiu que faz com que estes nem se saibam governar nem se deixem governar. é de facto uma maldição pois não se sai da cepa torta com esta atitude negativa.
Se isto não é fundamentalismo, i.e., pessoa que defende fidelidade total à interpretação literal dos fundamentos morais de uma determinada corrente de pensamento, então sugiro que me proponha outro termo.
O mesmo digo sobre o termo de energúmeno que alguém não apreciou. A definição que consta do nosso ilustre diccionário da Academia de Ciências explica: "pessoa que, possuída por uma obsessão, pratica desatinos".
As palavras podem agradar ou não mas elas estão aí para ser usadas. O que importa é avaliar se o significado das palavras se adequa aos contextos. E de acordo com a minha interpretação do que tem sido por aqui dito,lamento, mas parece adequar-se que nem uma luva.
Diz o Porto Editora:
energúmeno
substantivo masculino
1. pessoa que, dominada por uma obsessão ou fúria, pratica disparates;
2. figurado: pessoa desprezível ou ignorante;
3. antiquado: pessoa possuída pelo Demónio; possesso;
(Do gr. energoúmenos, «possesso», pelo lat. energumènos, «possesso do demónio»)
É revelador que MA escolha dar apenas a informação que melhor lhe convém, esquecendo, pelos vistos, que qq outro pode aceder a dicionários.
As palavras não têm apenas um significado. Os insultos, aliás, valem pelo sentido figurado, nunca pelo directo (vide de Stephen Burgen «A Língua da Tua Mãe - um guia de insultos europeus»).
Não me parece que os anónimos aqui tenha praticado disparates (ou desatinos na versão da Academia de Ciências), pelo que nos ficam os outros sentidos...
Lamento mas não me sinto desprezível pela argumentação que utilizei (nem me parece que os outros anónimos o devam sentir).
Ignorante talvez. Ignorante das mais valias imensas para a biodiversidade e conservação da natureza que o BES trouxe.
Mas ainda não vi a luz, sou mais da ciência que da fé ou da ideologia.
José Rui recupera no seu blog alguns dos argumentos que eu utilizei, outros que outros anónimos utilizaram, e que nunca foram respondidos.
Desde início que a minha questão foi o que é que a biodiversidade está a ganhar com isto? É que o banco já está, já vai na 3ª ou 4ª semana de parangonas sobre a salvação da cegonha preta e da águia imperial que lhe são devidas.
Caso para dizer:
BES 3 - Biodiversidade 0
já que MA me parece favorecer as metáforas desportivas.
Bom sobre o rol de intenções do banco e propriamente do programa assinado não se viu nada nem se entendeu grande coisa.
Gostaria que, como já disse, as inaugurações se dessem com alguma obra para mostrar, ou pelo menos com a apresentação das plantas de projecto, mas nada disso.
E sem respostas a isto batatas.
Ninguém falou de purismos, parece-me, tirando HPS e MA como forma de catalogar e menosprezar argumentos e dúvidas que lhes não são favoráveis.
É interessante verificar, no entanto, que dos participantes nos comentários, e tirando os próprios bloguistas MA e HPS, nenhum embarcou em laudas ao anúncio do BES.
E realmente não é bonito que, quem tem possibilidade de ver os ip dos comentadores, queira fazer passar que é um anónimo apenas envolvido na discussão (ou naquilo que poderia ser uma discussão não fossem os comentadores logo descartados como energúmenos, velhos do restelo, covardes, etc, etc)
En passant se dirá que José Rui não gosta de comentários anónimos. Não gostando é coerente e não os admite no seu blog.
Os postadores do ambio têm então duas soluções:
1-Não gostam? não querem? não aceitem!
2- Aceitam? então não se prendam com o anonimato nem façam disso cavalo de batalha, antes respondam à argumentação.
Sugiro que os anónimos se enumerem por ordem de chegada, se ainda aqui vierem (eu estive uma semana sem paciência para a intolerância e «má cara» com que os comentários estavam a ser recebidos pelos postadores).
"É revelador que MA escolha dar apenas a informação que melhor lhe convém, esquecendo, pelos vistos, que qq outro pode aceder a dicionários."
Não. É revelador que MA usa o diciconário da Academia de Ciências que é considerada a referência fundamental da lingua Portuguesa dentro e fora de Portugal.
Sobre o anonimato: é possível que se mude a regra em virtude de alguns abusos que se têm verificado aqui (na lista ambio não é permitido, como sabe). Eu sigo o lema na minha vida que aprendi em pequeno: liberdade = responsabilidade.
Quando se dá liberdade e sistematicamente se abusa dela a consequência é uma redução da mesma.
Mas há coisas que só se ensinam em pequeno. E como para si tudo isto é Chinês vai dizer-me que não abusou da liberdade. A clarividência é outra coisa que não se explica.
Já agora... como nem todos conseguem ser Fernando Pessoa, devo dizer-lhe que o anonimato nem sempre funciona. Sobretudo quando os vicios de argumentação, bem descritos pelo HPS acima, se repetem em vários foros.
Em virtude de abusos vários (já vai algum tempo a esta parte, deve dizer-se) o ambio junta-se ao crescente número de blogues que restringem comentários a pessoas identificadas.
A liberdade só faz sentido com responsabilidade e a responsabilidade implica que as pessoas assumam o que dizem.
Cumprimentos,
Miguel Araújo
Voltei a comentar no Sargaçal.
Caro anónimo2, de facto não gosto de comentários anónimos. Acho que têm a credibilidade fragilizada logo à partida.
De qualquer modo, acho que se justifica em alguns casos. Aqui, não sei. Pelo nível de conhecimentos demonstrados, o anonimato parece querer defender uma posição algures e neste tempo de denúncias por SMS e processos a quem questiona certas e determinadas habilitações académicas, já nem digo nada.
De qualquer modo, o que diz não é inteiramente verdade. No Sargaçal, nada impede de se usar pseudónimos e "nicks" e mails inventados. Não gosto, mas é tolerável.
Só uma nota para os autores do blogue -- quando digo que não percebo a iniciativa, é exactamente isso, não é retórica. O Miguel B. Araújo fala em auditorias ambientais para os investimentos do banco (é isso que diz na nota de imprensa?) e crédito bonificado. Tudo bem, venham essas auditorias. O crédito é mais um, há muitos. Negociando consegue-se mais barato sem as parangonas da biodiversidade.
O Henrique Pereira dos Santos fala em que "as empresas são convidadas a adoptar práticas de biodiversidade" -- eu não sei o que é isso. Visto daqui parece marketing.
Comentários anónimos voltam a ser aceites mas sujeitos a novas regras.
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