No mês Julho fará exactamente um ano que a Universidade de Copenhaga se fundiu com a Real Universidade de Agricultura e Veterinária da mesma cidade.
Objectivo?
Concentração de massa crítica, melhoria da qualidade dos cursos, reforço da capacidade de investigação e optimização dos recursos disponíveis por forma a maximizar a qualidade do serviço prestado à sociedade.
A aposta foi clara: trocar duas universidades muito boas por uma universidade excelente.
Em suma, competir no mercado internacional da transmissão e geração do conhecimento.
Na capital Portuguesa temos também potencial para criar uma universidade excelente.
Cabe perguntar: para quando a fusão das três grandes universidades de Lisboa?
A Técnica, a Clássica e a Nova, separadas, possuem um nível razoável mas não excelente.
Juntas, teriam potencial para competir com as universidades de nível médio e alto da União Europeia.
Mais vantagens?
A fusão levaria a uma redução da oferta de cursos em Lisboa.
Não precisamos de ter 2 cursos de engenharia do ambiente (UNL, IST), ou dois cursos de biologia (FCUL, ISA) em universidades públicas da capital; basta um curso de qualidade em cada ramo do saber.
Reduzir a oferta em Lisboa seria também um acto de solidariedade e uma aposta no desenvolvimento regional do país.
As universidades da província são as mais afectadas pela redução progressiva do número de alunos. Estas universidades precisam de alunos para existir. As universidades de Lisboa não têm esse problema podendo fazer uma aposta na qualidade.
Mas é preciso coragem política para actuar com decisão e rapidez como fizeram os colegas da Dinamarca.
Sem essas duas qualidades vamos passar anos a discutir o "sexo dos anjos" antes de tomar a decisão que se impõe.
Ou pior: Não tomar qualquer decisão, como é frequente, deixando definhar as universidades de província ao sabor das tendências demográficas do país e contribuíndo, simultaneamente, para o estanar das universidades da capital, entretidas que estão a competir entre si por magros recursos. Os recursos que fazem a diferença advêm da excelência da investigação (*) e essa, com o modelo actual, não será sempre fácil de obter e será bem mais difícil de consolidar.
(*) Obviamente que falo de "excelência" medida com parâmetros internacionais pois é nesse universo de competição que se drenam verbas significativas para investigação científica.
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4 comentários:
Olá Miguel, 100% de acordo. Na prática, teria de haver uma vontade inequívoca das "Ordens" e outras associações similares para que tal acontecesse, dado que são estas forças e todas as personalidades que lhes estão ligadas que alimentam consciente ou inconscientemente esta separação e diferenciação entre estas escolas, nas mesma áreas técnicas. A título de exemplo, ainda mais ridículo é o facto de, por exemplo, a UTL ter duas licenciaturas em Arquitectura em duas das suas Faculdades... Aos poucos, e à custa de muitos erros, o mercado do Ensino Superior vai-se dimensionando às necessidades e conjuntura reais. As más privadas estão todas a fechar (as boas nem se ressentem desse fenómeno, pela sua qualidade); as universidades começam a fechar cursos em série sem "clientes" (embora muitos deles façam falta ao país: Física, Matemática, Engenharias, etc); os politécnicos começam a primar pela "regionalização" da sua oferta; as pequenas e médias universidades periféricas apostam na "especialização" em domínios cada vez mais inovadores, indo de encontro ao conceito de cluster (Braga, Aveiro, Covilhã). Falta ainda coragem política para fechar/fundir/reformular alguns politécnicos e universidades a escassos km uns dos outros; e para pôr toda a máquina do Ensino Superior não contra a Economia Nacional (em regime de concorrência desleal através da vulgar prestação de serviços)mas sim a seu favor (estimulando a I&D aplicada).
Abraços
Artur Gil
O estado do ensino superior (superior ao quê, muito dele?) é o reflexo dos decisores públicos e privados ( a diferença é mínima) que mandam em Portugal. O Técnico tem cusrsos de Gestão, o ISCTE tem cursos de Arquitectura .... Cada vez mais mestres que não encontram que fazer como licenciados, mais doutores que não se governam como mestres. Mas a "coisa" vai cair na real quando a dita classe média verificar que aos génios (muitos até conseguem a proeza de obter 2, 3, 4 e até 5 valores a matemática no secundário) que criou não basta um canudo, que ser doutor já não é passaporte para um razoável emprego público. Público, sim, porque os patrões nunca ligaram nada aos doutores ou engenheiros, se os contratam é porque têm que assinar uns projectos, umas contabilidades e sempre é mais fácil dar ordens a um subordinado que a um liberal.
Já agora seguindo o raciocínio do blogguista, levava a coisa ao limite: fechava as univ. de Lx. e Porto, o pessoal teria que ir alugar quartos a Bragança Guarda etc, (porque não Rio de Onor?) e dava-se um contributo ao desenvolvimento harmonioso do rectângulo
L.Gomes
Acho muito bem que as Universidades se fundam e que se minimize a proliferação de cursos idênticos. Isto, se houverem cursos de facto idênticos (e, provavelmente, haverá bastantes).
Mas, também me parece que poderá ser vantajosa a existência de cursos dentro da mesma área de trabalho, que produzam licenciados com perfis diferentes. A diversidade na formação pode ser enriquecedora desde que a formação tenha níveis de exigência elevados.
Não sei se a diversidade "intelectual" que se obtém com os mestrados e posteriores doutoramentos será suficiente.
A redução dos cursos, que, como já disse, só pode ser boa, se for para acabar com duplicações desnecessárias, parece-me que irá implicar a redução do número de professores. O que vai colocar muitos docentes universitários na linha para o despedimento. Certo?
Manuela Soares
Olá Manuela,
O meu "post" parte da seguinte constatação:
- Há cada vez menos alunos e há universidades a lutar pela sua sobrevivência. Neste contexo há que racionalizar a oferta e como as universidades são públicas, o Estado deve tomar medidas estratégicas.
Duplicação é bom?
Com certeza que sim. O que talvez seja desnecessário é que essa duplicação ocorra na mesma cidade. Especialmente no quadro de realidade em que vivemos.
Despedimentos?
Talvez. Na Dinamarca a fusão das duas universidades levou a uma "racionalização" do corpo docente. Este emagrecimento permitiu a contratação posterior de docentes e investiadores em áreas prioritárias.
Deve dizer-se, porém, que na Dinamarca o Estado apoia todo e qualquer desempregado a um nível que deixaria empalidecer o nosso Governo. Este género de políticas de flexibilização do mercado de trabalho só são defensáveis no quadro de uma sociedade de bem estar solidária.
E é aqui que a "porca torce o rabo". Os sindicatos defendem o imobilismo. O Governo defende a reforma. Eu defendo a reforma mas também defendo que esta tem de ser acompanhada de maior justiça social.
Em nenhum caso de devem corrigir injustiças criando novas formas de injustiça.
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