sexta-feira, agosto 24, 2007

A questão ética OGM

Num post anterior referi os riscos de contaminação associados aos OGM.

Sendo assim, parece ter todo o sentido a reivindicação do direito à não exposição ao risco.

Tenho toda a simpatia por esta reivindicação do direito viver num mundo não contaminado.

O problema é que o exercício deste direito de alguns significa que se priva todos os outros (que podem ou não ser uma minoria) dos eventuais benefícios da tecnologia OGM.

Sendo certo que o risco zero não existe em quase nenhuma actividade, todos nós tomamos riscos diariamente, pesando os riscos face aos benefícios expectáveis.

Enquanto esta decisão face ao risco é apenas pessoal, a questão é facilmente resolúvel por cada um de nós. Grande parte da essência da actividade empresarial é exactamente a capacidade de correr e gerir riscos face a objetivos estabelecidos.

O problema é quando o risco de uns (ou de todos) existe face a benefícios de alguns (ou de todos).

Talvez mais um paralelismo possa elucidar o tipo de questões éticas envolvidas.

Imaginemos que o desenvolvimento do uso dos combustíveis fósseis era desencadeado por uma tecnologia que emergia quase de um momento para o outro.

Imaginemos que sabíamos desde o início o longo rol de riscos e prejuízos que daí poderiam advir do uso dos combustíveis, como a poluição, as alergias, as doenças pulmonares, etc., incluindo o risco de aquecimento global.

Imaginemos que alguém reivindicava o direito de viver num mundo mais limpo e com menos riscos ambientias. Em princípio eu teria simpatia por essa reivindacação.

Mas seria justo o privar todo o mundo os benefícios que advieram para todos nós com uso dos combustíveis fósseis?

Esta questão emerge com clareza com os OGM.

Pessoalmente não acredito que os benefícios dos OGM sejam sequer de longe comparáveis aos que resultam da energia barata.

Mas sendo os riscos globais e para todos, em grande medida potencialmente irreversíveis, não me parece admissível estarem a ser tomadas demasiadas decisões sobre a questão sem as fundamentar nos benefícios concretos que resultam de cada decisão.

Uma última nota para vincar que ao contrário de grande parte da vulgata OGM eu não acho que a produção de riqueza, o aumento do rendimento disponível não seja um bem em si mesmo, que deve ser contabilizado na discussão.

Mas que o seja efectivamente, que o seja confrontado com o risco e que nos seja permitido avaliar democraticamente se os benefícios esperados (quais e para quem) justificam os riscos identificados (quais e para quem).

henrique pereira dos santos

2 comentários:

SILÊNCIO CULPADO disse...

O Silêncio Culpado nomeou o AMBIO para THE POWER OF SCHMOORE AWARD que pretende distinguir e divulgar os melhores blogues. Assim cada nomeado deverá indicar quem o nomeou e proceder a 5 nomeações.
O Ambio é um blogue técnico de grande qualidade, bem fundamentado e que informa/questiona sobre problemas ambientais que afligem o Portugal presente.
Faz parte do meu roteiro.

Transgênicos Não! disse...

Infelizmente os riscos existem. Mas pior que isso é o facto dessas empresas tirarem o direito de escolha dos consumidores. No Brasil, há um projeto no senado que visa anular a identificação de produtos geneticamente modificados.
Gostei muito de seu blog, vamos continuar na luta por um mundo melhor!
Transgênicos Não!
http://transgenicosnao.blogspot.com